São Paulo, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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Desabrigados são levados a escola sem água e com lixo

Gestão Kassab serviu pão com mortadela só 12 horas após a chegada das 35 famílias

Pessoas levadas ao abrigo provisório da prefeitura também reclamam que só receberam colchões no meio da madrugada de ontem

LÉO ARCOVERDE
DO "AGORA"

Cerca de 35 famílias do Parque Santa Madalena, em Sapopemba (zona leste de São Paulo), que ficaram desabrigadas devido às chuvas e não tiveram como ir para a casa de parentes ou amigos, foram encaminhadas na noite de anteontem pela gestão Gilberto Kassab (DEM) a um abrigo improvisado.
O abrigo, na verdade, é a Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Haroldo Barbuy, desativada para reforma há cerca de quatro meses. As famílias atendidas pela administração municipal afirmam que, ao chegar ao local, por volta das 21h, se depararam com falta d'água, salas com lixo amontoado e cheirando a urina e banheiros sem torneiras, pias ou papel higiênico.
"Minhas três filhas tiveram de varrer a sala para que a gente pudesse dormir", disse a dona de casa Laudemira Ferreira da Silva, 50, que precisou deixar o barraco onde morava havia 15 anos após o local ter sido interditado pela Defesa Civil.
Os desabrigados reclamaram também do fato de os colchões enviados pela Secretaria Municipal de Assistência Social, comandada pela vice-prefeita Alda Marco Antonio (PMDB), só terem chegado ao abrigo provisório às 3h de ontem. Além disso, a primeira refeição -pão com mortadela, um copo de café com leite e uma maçã- foi servida cerca de 12 horas após as famílias terem chegado à escola desativada.

Separados
A precariedade do abrigo levou a maioria das famílias a se separar. "Minha mulher foi com meu filho dormir na casa da mãe dela, porque aqui não há condições para ninguém ficar", afirmou o ajudante-geral Diego Aparecido dos Santos, 23. "Eu só estou dormindo aqui porque lá tem um cômodo só", completou Santos.
Na manhã de ontem, além da indefinição quanto ao período em que terão de permanecer no abrigo, as famílias ainda enfrentavam falta d'água. "Estou sem tomar banho desde ontem, tenho até medo de meus filhos e eu pegarmos alguma doença aqui", falou a catadora de papel Sidênia Marcelino Mendes, 43.
"Nos tratam como porcos", disse a dona de casa Kelli Cristina de Lima Barbosa, 20, deitada num colchão empoeirado com o filho de quatro meses. Ela não tinha água para beber nem para banhar a criança.
Por volta das 14h uma perua com marmitas chegou ao abrigo. A refeição continha arroz, massa e frango empanado. Às 15h, um funcionário da prefeitura, enfim, ligou a água e começou a limpeza do local.
Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Coordenação das Subprefeituras informou que limpou o abrigo e disponibilizou caminhões-pipa para o abastecimento de água do local "nas primeiras horas" de ontem. A limpeza do escola, segundo a pasta, será feita diariamente.


Colaborou JOEL SILVA , repórter-fotográfico


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