São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 1998.



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'Importante é separar abuso de incesto'

da Reportagem Local

A cena é comum nas famílias: durante o banho dos pequenos, é a mão zelosa da mãe ou da babá que manuseia o pênis dos meninos e ensaboa a vulva das meninas.
Especialistas afirmam que esse contato físico propicia prazer para as duas partes. O que se questiona é onde termina o carinho e onde começam as carícias e o abuso.
"É importante saber onde o prazeroso e saudável passa a ser pecado e vira prejudicial", diz o psicanalista Mauro Madureira.
Trinta anos atrás, determinava-se que certas coisas eram feias e não deviam ser praticadas. Hoje, diz Madureira, "as pessoas se perguntam até quanto e de que forma elas são benéficas".
A psicóloga Irene Pires Antonio, do Centro de Referência da Criança (Cerca) da OAB, chama a atenção para a necessidade de olhos adultos estarem atentos ao que acontece com as crianças.
"Muitas vezes ela não percebe que está sendo abusada", afirma. No caso do abuso feminino, essa percepção seria ainda mais difícil, porque as carícias entre mãe e filhos são mais comuns e socialmente aceitas.
A socióloga Heleieth Saffioti diz que é necessário separar abuso sexual de incesto. "O incesto é qualquer tipo de contato sexual entre parentes do mesmo sangue e afins, desde que sejam adultos e a relação não seja atravessada pelo poder." Nesse caso, eles apenas infringem uma uma norma social.
Já o sexo com crianças é um abuso, porque ela não tem capacidade de consentir.
Abusos praticados por homens ou por mulheres provocam os mesmos danos psíquicos às crianças, acreditam os especialistas. Da mesma forma, nos dois casos, a criança tem dificuldade em se sentir vítima, achando que também participa da relação. "Quando a criança se dá conta, já se sente como co-partícipe de uma relação e não mais como vítima."
Heleieth diz que muitas vezes o abuso é praticado com requintes pelo agressor. "Os mais hábeis fazem dilatação anal com o dedo usando pomadas durante semanas, depois passam à penetração anal por período de meses. Só depois é que materializam uma relação vaginal. O período que vai das carícias à penetração pode durar anos." (AB)


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