São Paulo, Quinta-feira, 11 de Fevereiro de 1999
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SAÚDE
Bristol Squibb "furou" acordo feito com o governo de não aumentar valores no mesmo dia em que ele foi firmado
Laboratório sobe preço de 32 remédios


RODRIGO VERGARA
JOÃO CARLOS SILVA
da Reportagem Local

O laboratório Bristol Myers Squibb do Brasil aumentou os preços de 32 medicamentos em 1º de fevereiro, no mesmo dia em que a indústria farmacêutica se comprometeu com o governo a não repassar ao consumidor, neste mês, os aumentos de custos decorrentes da desvalorização do real.
Mas não vai receber nenhuma punição por isso. Nem do governo, nem das entidades de classe da indústria farmacêutica.
O Ministério da Fazenda, com quem o setor firmou o compromisso, informou que não considera o aumento um "descumprimento" do acordo. Mas reuniu-se com representantes do Bristol, na segunda-feira.
A reunião não suspendeu os aumentos. O saldo do encontro foi que o Bristol prometeu ao governo não fazer novos aumentos até março e, provavelmente, abril, quando os demais fabricantes de medicamentos poderão repassar seus aumentos de custos aos consumidores, em prestações.
Foram três aumentos em menos de 12 meses. No reajuste deste mês, os produtos do Bristol subiram até 11,14%, caso do Taxol 30 mg injetável. Desde outubro, data do aumento anterior, a inflação acumulada foi negativa (-0,04%), segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP). Antes disso, o preço do produto já havia subido em abril, junto com outros 27 itens do laboratório.
Walter Ricca Júnior, diretor de assuntos corporativos do Bristol, disse que o aumento de 1º de fevereiro havia sido programado com antecedência e divulgado no dia 20 (cinco dias depois da liberação do câmbio). Segundo ele, "não seria possível voltar atrás com os valores que estão hoje na praça".
O Bristol não pôde, mas outros dois laboratórios que tinham programado aumentos para o dia 1º voltaram atrás no dia 2. Algumas distribuidoras tiveram que remarcar os produtos, e uma edição inteira da revista da associação das farmácias, que traz lista dos preços, foi jogada fora.
O motivo do aumento, disse Ricca Júnior, foi mesmo a desvalorização do real. Segundo ele, o setor farmacêutico é "mais sensível" à alta do dólar.
O governo federal concorda. Essa situação ocorre porque a maioria dos produtos da indústria farmacêutica é importada pronta ou produzida no Brasil com matéria-prima importada.
Com o acordo, o governo quer evitar que os laboratórios promovam aumentos enquanto o câmbio não se estabiliza.
Além do Bristol, participaram da reunião da segunda-feira os laboratórios Akzo Organon e Wyeth Whitehall, que promoveram aumentos em 18 de janeiro, três dias depois da liberação do câmbio.


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