São Paulo, Quinta-feira, 11 de Fevereiro de 1999
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60% das vítimas não têm antecedentes

ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

A maioria das pessoas mortas pela polícia paulista não tem antecedentes criminais. Levantamento feito pela Ouvidoria da Polícia de São Paulo revela que 60% dos 130 casos de mortes de civis provocadas por policiais em 98 não tinham passagem pela polícia.
Para o ouvidor Benedito Mariano, o dado "entra em contradição" com o argumento mais apresentado pelos policiais (80%) quando se trata de morte de civis: resistência seguida de morte.
"Temos de refletir por que tantas pessoas sem problemas com a polícia confrontariam policiais."
A Ouvidoria apresentou ontem estudo próprio que traçou o perfil das vítimas de homicídios praticados por policiais, em São Paulo.
Foram levantados os dados de 363 vítimas. Constatou-se que a maioria é pobre, vive na periferia e tem até 25 anos.
Grande parte das vítimas é da capital (45%). Na cidade, a maioria das mortes ocorreu nas zonas leste (17%) e sul (15%) -historicamente as regiões mais violentas da capital paulista.
De acordo com o levantamento, 49% das vítimas têm entre 18 e 25 anos. Os menores de 18 anos representam 8% do total, e os negros, 45%, contra 55% dos brancos.
A cidade da Grande São Paulo que concentrou o maior número de vítimas da polícia foi Guarulhos (5%). No interior, a recordista foi Sorocaba, também com 5%.

Denúncias
A principal denúncia em relação ao triênio 96/98 foi a de abuso de autoridade. Entre 96 e 98, o órgão ouviu 20.001 pessoas, encaminhou 10.238 casos e prestou informações e orientações a 9.763 pessoas.
Nesse período, 57% das denúncias envolveram policiais civis e 43%, policiais militares.
De acordo com o ouvidor, 39% das denúncias encaminhadas em 98 não foram confirmadas pelos órgãos apuradores das duas polícias. "Desse total, pelo menos 90% se referem a acusações contra delegados e oficiais."
Benedito Mariano continua insistindo em propostas que faz há dois anos e meio para tentar melhorar a atuação das polícias paulistas: independência das corregedorias das Polícias Civil e Militar, ampliação do Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos), ampliação do programa de proteção a vítimas e testemunhas, indenização das vítimas de violência policial, entre outras sugestões.
"O problema da polícia paulista é estrutural. Enquanto, por exemplo, o Denarc não centralizar o combate ao narcotráfico, não terá êxito nessa área", disse Mariano.
De acordo com Mariano, em janeiro deste ano, a polícia matou 52 civis (47 pela PM e cinco por policiais civis) -o que significa quase duas mortes por dia.


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