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60% das vítimas não têm antecedentes
ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local
A maioria das pessoas mortas
pela polícia paulista não tem antecedentes criminais. Levantamento
feito pela Ouvidoria da Polícia de
São Paulo revela que 60% dos 130
casos de mortes de civis provocadas por policiais em 98 não tinham
passagem pela polícia.
Para o ouvidor Benedito Mariano, o dado "entra em contradição"
com o argumento mais apresentado pelos policiais (80%) quando se
trata de morte de civis: resistência
seguida de morte.
"Temos de refletir por que tantas
pessoas sem problemas com a polícia confrontariam policiais."
A Ouvidoria apresentou ontem
estudo próprio que traçou o perfil
das vítimas de homicídios praticados por policiais, em São Paulo.
Foram levantados os dados de
363 vítimas. Constatou-se que a
maioria é pobre, vive na periferia e
tem até 25 anos.
Grande parte das vítimas é da capital (45%). Na cidade, a maioria
das mortes ocorreu nas zonas leste
(17%) e sul (15%) -historicamente as regiões mais violentas da capital paulista.
De acordo com o levantamento,
49% das vítimas têm entre 18 e 25
anos. Os menores de 18 anos representam 8% do total, e os negros,
45%, contra 55% dos brancos.
A cidade da Grande São Paulo
que concentrou o maior número
de vítimas da polícia foi Guarulhos
(5%). No interior, a recordista foi
Sorocaba, também com 5%.
Denúncias
A principal denúncia em relação
ao triênio 96/98 foi a de abuso de
autoridade. Entre 96 e 98, o órgão
ouviu 20.001 pessoas, encaminhou
10.238 casos e prestou informações
e orientações a 9.763 pessoas.
Nesse período, 57% das denúncias envolveram policiais civis e
43%, policiais militares.
De acordo com o ouvidor, 39%
das denúncias encaminhadas em
98 não foram confirmadas pelos
órgãos apuradores das duas polícias. "Desse total, pelo menos 90%
se referem a acusações contra delegados e oficiais."
Benedito Mariano continua insistindo em propostas que faz há
dois anos e meio para tentar melhorar a atuação das polícias paulistas: independência das corregedorias das Polícias Civil e Militar,
ampliação do Denarc (Departamento Estadual de Investigações
sobre Narcóticos), ampliação do
programa de proteção a vítimas e
testemunhas, indenização das vítimas de violência policial, entre outras sugestões.
"O problema da polícia paulista é
estrutural. Enquanto, por exemplo, o Denarc não centralizar o
combate ao narcotráfico, não terá
êxito nessa área", disse Mariano.
De acordo com Mariano, em janeiro deste ano, a polícia matou 52
civis (47 pela PM e cinco por policiais civis) -o que significa quase
duas mortes por dia.
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