São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 2000


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TRAGÉDIA
Vão entre as barras da jaula deveria ser menor; domador disse que leões foram alimentados no dia
Perícia vê falta de segurança em circo

Teresa Maia/Diário de Pernambuco
Retirada dos leões mortos do circo Vostok


FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife

Perícia feita pelo Instituto de Criminalística de Pernambuco aponta a falta de segurança no circo Vostok como uma das prováveis causas da morte de José Miguel dos Santos Fonseca Jr., 6, atacado anteontem por leões no intervalo de uma apresentação, em Jaboatão dos Guararapes (PE).
O acidente aconteceu por volta das 19h, quando parte do público retornava aos seus lugares, após participar de uma sessão de fotos com pôneis. O grupo passou próximo à jaula dos leões no picadeiro e o menino foi atacado.
Segundo o perito do Instituto de Criminalística José Nemésio de Sena, a jaula deveria estar protegida por uma cerca para evitar a aproximação de pessoas. O garoto passou a um metro do local.
Ainda segundo o perito, os vãos entre as barras de ferro, de 10 cm, deveriam ser menores para não permitir a passagem das patas dos leões. As grades, disse, também não poderiam ter cedido, como foi constatado pela perícia.
Júnior foi agarrado no tórax por um dos cinco leões do circo e puxado para o interior da jaula. Ele estava acompanhado do pai, o garçom José Miguel dos Santos Fonseca, da irmã, Mirela, 3, e de um primo, Anderson, 10.
Com a força do animal, as barras abriram 6 cm, o que permitiu ao leão forçar a passagem do corpo de Júnior por esse espaço.
Na jaula, segundo testemunhas, o garoto foi mordido na cabeça e teve seu corpo sacudido e depois jogado no chão. Em seguida, foi arrastado por cerca de 30 metros, até a caçamba do caminhão que serve de abrigo para os animais.
Para chegar a esse local, o leão passou por uma espécie de túnel formado por nove segmentos também gradeados, unidos apenas por cordas de náilon.
"Isso é totalmente inseguro", afirmou o perito do Instituto de Criminalística.
Na caçamba, os outros leões também atacaram o menino, que foi parcialmente devorado. Seu pescoço foi quebrado e o braço direito, decepado. As vísceras ficaram expostas.
Às 21h, a Polícia Militar matou a tiros de revólver e de fuzil dois leões. Uma hora e dez minutos depois, outros dois animais foram mortos porque arrebentaram a grade que os separava do corpo do garoto e começaram a devorá-lo. Apenas um leão sobreviveu.
O corpo do menino só foi removido do abrigo dos animais às 23h45. A mãe do garoto, a enfermeira Maria da Conceição Guerra, grávida de oito meses, passou mal ao receber a notícia da morte do filho e foi internada.
Cerca de mil pessoas acompanharam o enterro em Recife.
Os leões mortos foram levados ontem à Universidade Federal Rural de Pernambuco para necropsia. O objetivo é saber se eles foram alimentados. O animal vivo foi transferido também ontem para o zoológico de Recife.
Em depoimento à polícia, o domador Claudinei Pires da Rocha disse que os animais comeram 10 kg de frango cada um no dia do acidente.
O advogado do circo Vostok, Marcos Soares, disse que não se pronunciaria antes da conclusão do laudo, que sai em 30 dias.
Soares, no entanto, manteve a versão de um dos proprietários do estabelecimento, Luís Vostok. Segundo eles, o garoto foi atacado porque se separou da família e foi acariciar o animal na jaula.
Vostok disse que o circo tem dez seguranças, mas que não sabia por que ninguém impediu o menino de se aproximar do leão.
A superintendência do Shopping Center Guararapes, onde foi instalado o circo, informou ontem que rescindiu o contrato com o Vostok.


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