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ÁGUA PERIGOSA
Caminhoneiro de SC teve panturrilha esquerda dilacerada
Tubarões voltam a atacar em Pernambuco
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
Um tubarão atacou na tarde de
anteontem o caminhoneiro catarinense José Evair Pereira, 35. O
incidente -o 47º do tipo registrado em Pernambuco desde 1992-
aconteceu na praia de Piedade,
em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana de Recife. A
vítima foi submetida a cirurgia e
não corre risco de morte.
Foi o primeiro ataque em um
ano e sete meses. Durante esse período, peritos da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco) fizeram trabalho de educação, pesquisa, monitoramento e
captura seletiva de tubarões. O
convênio que permitia o projeto
foi suspenso há três semanas.
Pereira estava em uma área de
risco sinalizada e havia entrado
no mar para um último mergulho
antes de deixar a praia. O ataque
ocorreu quando a água ainda
atingia a altura de sua cintura.
O tubarão mordeu duas vezes a
perna esquerda do caminhoneiro.
A panturrilha ("batata" da perna)
foi dilacerada. Com o ferimento, a
fíbula (um dos ossos da "canela")
ficou exposta. O catarinense gritou e pediu ajuda a amigos que estavam na areia. Inicialmente, todos pensaram que era uma brincadeira. Ele só foi socorrido depois que uma mancha de sangue
apareceu ao seu redor.
A praia ainda estava cheia, e
houve pânico e correria entre os
banhistas. Pereira foi levado consciente para o Hospital da Aeronáutica, a um quilômetro do local, onde recebeu os primeiros socorros. Em seguida, passou por
mais dois hospitais, em Recife.
No Hospital Getúlio Vargas, ele
foi submetido a uma cirurgia de
urgência para a recuperação do
sistema vascular e reconstituição
dos músculos. "O êxito foi total",
disse ontem o coordenador do setor de emergência da unidade,
Raimundo Monteiro.
Para o especialista em tubarões
da UFRPE Fábio Hazin, o ataque
ao caminhoneiro envolveu um
animal da espécie tigre, considerada uma das mais agressivas do
mundo.
O ataque coincidiu com a suspensão, por falta de verbas, do
projeto de pesquisa e monitoramento que vinha sendo feito nas
áreas de risco desde 2004 por peritos da UFRPE.
Ontem, o convênio pelo qual o
governo do Estado e a Prefeitura
de Recife dividiam os custos do
programa, orçado em R$ 350 mil,
foi prorrogado até o fim do mês.
Os trabalhos serão retomados na
quinta-feira.
De acordo com Hazin, as ações
foram suspensas no final de março. Em 2004, o projeto parou outras duas vezes pelo mesmo motivo. Nesses períodos, sete pessoas
foram atacadas no litoral.
As pesquisas desenvolvidas pela
UFRPE mostraram ainda que pelo menos mais uma espécie, o cabeça-chata, seria responsável pelos ataques no Estado. Das 47 vítimas registradas, 17 morreram.
Hazin disse que não se surpreendeu com o novo incidente,
pois, segundo ele, havia "condições favoráveis" para isso. "No
trecho onde o banhista estava não
havia a proteção dos arrecifes."
Os estudos feitos pelos peritos
apontaram também a interferência humana no ambiente como
uma das prováveis causas da presença dos tubarões no litoral da
região metropolitana de Recife.
A construção do porto de Suape
(30 km ao sul de Recife) teria alterado um dos pontos de reprodução dos animais, no estuário do
rio Jaboatão. Os dejetos despejados pelos navio atrairiam os predadores até o litoral.
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