São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 2006

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ÁGUA PERIGOSA

Caminhoneiro de SC teve panturrilha esquerda dilacerada

Tubarões voltam a atacar em Pernambuco

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Um tubarão atacou na tarde de anteontem o caminhoneiro catarinense José Evair Pereira, 35. O incidente -o 47º do tipo registrado em Pernambuco desde 1992- aconteceu na praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana de Recife. A vítima foi submetida a cirurgia e não corre risco de morte.
Foi o primeiro ataque em um ano e sete meses. Durante esse período, peritos da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco) fizeram trabalho de educação, pesquisa, monitoramento e captura seletiva de tubarões. O convênio que permitia o projeto foi suspenso há três semanas.
Pereira estava em uma área de risco sinalizada e havia entrado no mar para um último mergulho antes de deixar a praia. O ataque ocorreu quando a água ainda atingia a altura de sua cintura.
O tubarão mordeu duas vezes a perna esquerda do caminhoneiro. A panturrilha ("batata" da perna) foi dilacerada. Com o ferimento, a fíbula (um dos ossos da "canela") ficou exposta. O catarinense gritou e pediu ajuda a amigos que estavam na areia. Inicialmente, todos pensaram que era uma brincadeira. Ele só foi socorrido depois que uma mancha de sangue apareceu ao seu redor.
A praia ainda estava cheia, e houve pânico e correria entre os banhistas. Pereira foi levado consciente para o Hospital da Aeronáutica, a um quilômetro do local, onde recebeu os primeiros socorros. Em seguida, passou por mais dois hospitais, em Recife.
No Hospital Getúlio Vargas, ele foi submetido a uma cirurgia de urgência para a recuperação do sistema vascular e reconstituição dos músculos. "O êxito foi total", disse ontem o coordenador do setor de emergência da unidade, Raimundo Monteiro.
Para o especialista em tubarões da UFRPE Fábio Hazin, o ataque ao caminhoneiro envolveu um animal da espécie tigre, considerada uma das mais agressivas do mundo.
O ataque coincidiu com a suspensão, por falta de verbas, do projeto de pesquisa e monitoramento que vinha sendo feito nas áreas de risco desde 2004 por peritos da UFRPE.
Ontem, o convênio pelo qual o governo do Estado e a Prefeitura de Recife dividiam os custos do programa, orçado em R$ 350 mil, foi prorrogado até o fim do mês. Os trabalhos serão retomados na quinta-feira.
De acordo com Hazin, as ações foram suspensas no final de março. Em 2004, o projeto parou outras duas vezes pelo mesmo motivo. Nesses períodos, sete pessoas foram atacadas no litoral.
As pesquisas desenvolvidas pela UFRPE mostraram ainda que pelo menos mais uma espécie, o cabeça-chata, seria responsável pelos ataques no Estado. Das 47 vítimas registradas, 17 morreram.
Hazin disse que não se surpreendeu com o novo incidente, pois, segundo ele, havia "condições favoráveis" para isso. "No trecho onde o banhista estava não havia a proteção dos arrecifes."
Os estudos feitos pelos peritos apontaram também a interferência humana no ambiente como uma das prováveis causas da presença dos tubarões no litoral da região metropolitana de Recife.
A construção do porto de Suape (30 km ao sul de Recife) teria alterado um dos pontos de reprodução dos animais, no estuário do rio Jaboatão. Os dejetos despejados pelos navio atrairiam os predadores até o litoral.


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