São Paulo, sábado, 11 de abril de 1998

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Grupo encena via-sacra com Cristo negro e Pilatos branco

da Sucursal de Brasília

A paróquia de Santa Luzia em Samambaia (40 km de Brasília) encenou ontem a crucificação de um Cristo negro por um Pilatos branco. Na via-sacra de Samambaia, a população pedia a Pilatos "saúde, trabalho, educação e guerra ao desemprego".
A encenação foi produzida pelo grupo de teatro popular Tucum de Samambaia e encenada por 52 pessoas da comunidade local sem experiência em teatro. Para os membros do grupo, um Cristo loiro de olhos azuis corresponde à visão européia da Bíblia, e um Cristo negro representa mais fielmente a realidade brasileira.
"Eu acredito que Cristo tem de representar a cara do povo. A dramatização é uma maneira popular de chamar a atenção para os problemas da comunidade, e eu fico feliz que esse grupo tenha causado tanta repercussão", disse o padre Alberto Trombini, que apoiou o grupo Tucum.
Na encenação, além de Cristo, Judas também foi representado por um ator negro. Pilatos e sua mulher eram brancos. "Os opressores frequentemente são brancos", disse o padre.
No calvário, o cenário chamava a atenção para a violência no Brasil. Cartazes citavam o índio Galdino, queimado por um grupo de garotos em Brasília, a chacina dos meninos de rua da Candelária, o herói negro Zumbi e os sem-terra mortos em Eldorado dos Carajás.
(CRISTIANE FERNANDES)



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