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NUTRIÇÃO
Especialistas atacam fórmula alimentar que defende redução de calorias para garantir mais anos de vida
Franceses recusam dieta da longevidade
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
de Paris
Oitenta e quatro assinaturas contra uma só dieta. A ciência da alimentação francesa se rebelou contra um programa antienvelhecimento publicado pela revista
"Nouvel Observateur". Entre os
alimentos enaltecidos pela reportagem, acusada de pregar um regime hipocalórico pelo abaixo-assinado, estão patê de foie-gras (fígado de ganso), salmão e vinho.
Os cientistas revoltosos, autores
do texto "Contra a Desinformação
Nutricional", fazem parte de instituições respeitadas na França, como o CNRS (Centro Nacional de
Pesquisa Científica) e o Instituto
Científico e Técnico da Nutrição e
da Alimentação.
Os acusados de divulgar informações absurdas, incoerentes e
pseudo-científicas são dois: o jornalista Thierry Souccar, autor da
reportagem, e o médico Jean-Paul
Courtay, co-autor com Souccar do
livro "Programme de Longue Vie"
(Programa de Vida Longa), lançado no fim de março na França e
destinado ao grande público, em
que se baseia o texto da "Nouvel
Observateur".
Segundo os estudiosos, liderados
por Serge Hercberg e Geneviève
Potier de Courcy, a reportagem
pode deseducar o público. Outro
ponto atacado é o fato de o jornalista ser autor do livro recém-lançado e, portanto, ter interesse em
divulgá-lo. A primeira edição do livro está esgotada.
O texto da reação, ao qual a Folha teve acesso, elenca trechos da
reportagem considerados fantasiosos, como: "Talvez não haja limite para a vida humana" e "nós
poderemos viver 300 anos".
O principal argumento contra
Souccar e Courtay é que eles se limitam a considerar a teoria dos radicais livres (principalmente do
oxigênio) para explicar o processo
de envelhecimento.
O abaixo-assinado considera
pseudo-científica a argumentação
para a ampliação da expectativa de
vida: "Nós consumimos praticamente duas vezes menos calorias
do que há cem anos. Aí está provavelmente a razão de vivermos mais
hoje em dia".
A resposta dos cientistas: "Afirmar que vivemos mais porque comemos menos é um raciocínio absurdo". Eles completam: "Certamente não é a redução do consumo alimentar médio que é desejável -o que pode levar a riscos de
deficiência em vitaminas e minerais-, mas o aumento do gasto de
energia, na luta contra o sedentarismo".
Para os cientistas, a reportagem,
de 17 de março, irresponsavelmente sugere a adoção de uma dieta
com menos calorias que o normalmente recomendado.
Eles também apontam contradições numa tabela apresentada pela
revista. A tabela lista os "alimentos
que protegem contra o envelhecimento" e os "aceleradores do envelhecimento se consumidos em
excesso". "Os queijos ditos "gordos" estão na coluna dos alimentos
condenados, enquanto o emental e
os queijos do tipo gruyère (os mais
gordos) estão entre os alimentos
protetores", diz o abaixo-assinado.
O resultado final, para os cientistas, é que a revista pode levar a mudanças "deploráveis" nos hábitos
alimentares dos franceses.
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