São Paulo, Domingo, 11 de Abril de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NUTRIÇÃO
Especialistas atacam fórmula alimentar que defende redução de calorias para garantir mais anos de vida
Franceses recusam dieta da longevidade

HAROLDO CERAVOLO SEREZA
de Paris

Oitenta e quatro assinaturas contra uma só dieta. A ciência da alimentação francesa se rebelou contra um programa antienvelhecimento publicado pela revista "Nouvel Observateur". Entre os alimentos enaltecidos pela reportagem, acusada de pregar um regime hipocalórico pelo abaixo-assinado, estão patê de foie-gras (fígado de ganso), salmão e vinho.
Os cientistas revoltosos, autores do texto "Contra a Desinformação Nutricional", fazem parte de instituições respeitadas na França, como o CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica) e o Instituto Científico e Técnico da Nutrição e da Alimentação.
Os acusados de divulgar informações absurdas, incoerentes e pseudo-científicas são dois: o jornalista Thierry Souccar, autor da reportagem, e o médico Jean-Paul Courtay, co-autor com Souccar do livro "Programme de Longue Vie" (Programa de Vida Longa), lançado no fim de março na França e destinado ao grande público, em que se baseia o texto da "Nouvel Observateur".
Segundo os estudiosos, liderados por Serge Hercberg e Geneviève Potier de Courcy, a reportagem pode deseducar o público. Outro ponto atacado é o fato de o jornalista ser autor do livro recém-lançado e, portanto, ter interesse em divulgá-lo. A primeira edição do livro está esgotada.
O texto da reação, ao qual a Folha teve acesso, elenca trechos da reportagem considerados fantasiosos, como: "Talvez não haja limite para a vida humana" e "nós poderemos viver 300 anos".
O principal argumento contra Souccar e Courtay é que eles se limitam a considerar a teoria dos radicais livres (principalmente do oxigênio) para explicar o processo de envelhecimento.
O abaixo-assinado considera pseudo-científica a argumentação para a ampliação da expectativa de vida: "Nós consumimos praticamente duas vezes menos calorias do que há cem anos. Aí está provavelmente a razão de vivermos mais hoje em dia".
A resposta dos cientistas: "Afirmar que vivemos mais porque comemos menos é um raciocínio absurdo". Eles completam: "Certamente não é a redução do consumo alimentar médio que é desejável -o que pode levar a riscos de deficiência em vitaminas e minerais-, mas o aumento do gasto de energia, na luta contra o sedentarismo".
Para os cientistas, a reportagem, de 17 de março, irresponsavelmente sugere a adoção de uma dieta com menos calorias que o normalmente recomendado.
Eles também apontam contradições numa tabela apresentada pela revista. A tabela lista os "alimentos que protegem contra o envelhecimento" e os "aceleradores do envelhecimento se consumidos em excesso". "Os queijos ditos "gordos" estão na coluna dos alimentos condenados, enquanto o emental e os queijos do tipo gruyère (os mais gordos) estão entre os alimentos protetores", diz o abaixo-assinado.
O resultado final, para os cientistas, é que a revista pode levar a mudanças "deploráveis" nos hábitos alimentares dos franceses.


Texto Anterior: Resignação demonstra cidadania incipiente
Próximo Texto: Reação de cientistas é conservadora, diz autor
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.