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INCULTA & BELA
"O menor juros"
PASQUALE CIPRO NETO
Colunista da Folha
Dia desses, comentei aqui
um texto da propaganda de
uma construtora. A frase era
"O charme de se morar bem".
O pessoal da agência anda
lendo esta coluna. A propaganda já mudou. A frase foi
sumariamente defenestrada.
Mas outras andam esbanjando inspiração. É o caso da
de uma rede de lojas de eletrodomésticos, cujo lema é "O
menor juros".
Em língua é comum o fenômeno da transferência. É o
que ocorre, por exemplo, com
a palavra "óculos". Por ser objeto único, uma peça só, trata-se da coisa como se ela fosse una. Disso surgem as formas "o óculos", "meu óculos",
"este óculos", "óculos escuro",
"meu óculos sumiu" etc.
Óculos é o plural de óculo.
Como são dois -cada lente é
um óculo-, o substantivo é
plural, portanto todos os seus
acompanhantes devem vir no
plural: os óculos, estes óculos,
meus óculos, óculos escuros,
meus óculos sumiram. Mas,
na prática, no Brasil isso não
pega de jeito nenhum.
Talvez seja esse o caso da
palavra juros. Esse termo soa
como se fosse uma espécie de
sinônimo de taxa, ou seja, como se também fosse uma coisa una. Mas juros é o plural de
juro. Então é recomendável
dizer o juro, os juros, o menor
juro, os menores juros.
Outra propaganda que esbarra no problema do singular e do plural é a de uma
instituição financeira oficial.
Diz o texto publicitário que
o banco apóia "as micros e
pequenas empresas". Apesar
de micro significar pequeno,
na prática a microempresa é
menor do que a pequena. Na
linguagem jornalística, por
redução, micro virou substantivo, sinônimo de microcomputador e de microempresa.
Nesses casos, faz sentido dizer "as micros", ou "os micros". No primeiro caso, as
micros são as microempresas;
no segundo, os micros são os
microcomputadores.
Mas, quando se diz "as micros e pequenas empresas", na
verdade o que se quer dizer é
"as microempresas e as pequenas empresas". Nesse caso, é
errado pluralizar micro. Deve-se dizer "as micro e pequenas empresas".
Até a propaganda do
CD-ROM "Nossa Língua Portuguesa", do professor Pasquale, que por acaso sou eu,
caiu na arapuca. Recentemente foi publicada uma propaganda em que se lia "quizer". Não me restou nada
além de lamentar a presença
constante do capeta, que está
sempre de plantão.
Espero que a agência já tenha feito o que fez a do edifício e o que deveriam fazer a
da loja de eletrodomésticos e
a do banco oficial, ou seja,
espero que na próxima apareça "quiser", com "s", como determinam as normas ortográficas em vigor. É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna
às quintas-feiras
E-mail:inculta@uol.com.br
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