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Coronel diz que caiu por vingança
CRISPIM ALVES
da Reportagem Local
O coronel Claudionor Lisboa só
tem uma explicação para os episódios envolvendo sua exoneração
do comando geral da Polícia Militar de São Paulo e a não-nomeação
para a vaga de juiz no TJM (Tribunal de Justiça Militar): "Para
mim, pode ter sido uma vingança
em virtude da defesa institucional
da PM que eu promovi, logo após
a proposta desastrosa apresentada
pelo governo que praticamente
extinguia a corporação".
Lisboa se refere à proposta de
emenda constitucional -elaborada no ano passado pelo secretário
da Segurança Pública, José Afonso
da Silva, e encaminhada a Brasília
pelo governador Mário Covas-
que unificava as polícias.
Em tese, a proposta enfraqueceria a Polícia Militar e fortaleceria a
Polícia Civil. O policiamento ostensivo, que hoje é atribuição da
PM, passaria para a Polícia Civil.
Ontem, a Folha informou que
Lisboa impetrou um mandado de
segurança contra a decisão de Covas em nomear o coronel Lourival
Costa Ramos para ocupar um dos
postos de juiz no Conselho Superior de Sentença do TJM. Lisboa
também concorria à vaga e foi o
mais votado para ficar com ela.
A proposta de mudanças na PM
foi feita durante uma das maiores
crises da tropa, provocada pelo
episódio da favela Naval, em Diadema (Grande SP), onde policiais
foram flagrados espancando civis
e matando uma pessoa.
Lisboa foi abertamente contrário
à proposta. Ele chegou a promover
palestras nos quartéis da PM no
Estado mostrando sua indignação.
Passados nove meses de sua exoneração, Lisboa conta agora sua
versão sobre os bastidores de sua
saída do comando da corporação e
liga o fato diretamente às críticas
que fez à proposta. Ele cita, inclusive, o princípio de diálogo que
manteve com Afonso da Silva no
dia (11 de setembro de 97) em que
se decidiu pela sua saída.
"Após uma reunião com o
Braun (Luiz Paulo Braga Braun,
delegado-geral da Polícia Civil), o
secretário me chamou para uma
conversa reservada, na qual disse
que eu estava muito interessado
em defender a instituição PM e
que ele iria promover mudanças
na cúpula. Não deixei ele concluir
o pensamento e disse que entregaria minha carta de exoneração."
Segundo Lisboa, ficou acertado
que ele entregaria a carta no dia
seguinte, o que aconteceu, mas a
divulgação, acompanhada do
anúncio do novo comandante, só
ocorreria no dia 16, uma terça-feira. No entanto, a informação vazou no dia 13, um sábado.
"Fui surpreendido, porque o secretário disse que só divulgaria no
dia 16. Acho que a secretaria deixou vazar de propósito. Me mantive dentro da ética, não dando entrevistas." Lisboa afirmou que ficou mais chocado ainda com as
declarações de Afonso da Silva.
"Fiquei surpreso e constrangido
quando vi nos jornais as entrevistas do secretário dizendo as razões
da exoneração. Ele alegou falta de
pulso e aumento da criminalidade.
Eu pergunto: Onde houve falta de
pulso se nós seguramos uma greve
(por melhores salários) em São
Paulo? Agora, em março, a criminalidade bateu recordes."
"Estranhamente, um dia após
eu rebater as críticas (do secretário) na imprensa, foi feita a nomeação do coronel Costa Ramos
(para o cargo de juiz do TJM).
Aliás, ele foi empossado no mesmo dia da publicação no "Diário
Oficial", um fato inédito. Fiquei
sabendo que a posse foi preparada
na noite anterior", disse Lisboa.
O coronel cita outro fato. "Cerca de 30 dias antes (da conversa
com Afonso da Silva), o secretário
já havia me chamado para que eu
indicasse meu substituto, diante
da possibilidade de eu assumir a
vaga no TJM." Lisboa entregou
três nomes: Carlos Alberto da Costa, João Paulo Correia e Carlos Alberto de Camargo (o escolhido).
O coronel faz questão de frisar
que entrou na Justiça contra a decisão de Covas (de nomear Costa
Ramos) apenas para contestar um
ato que ele considera ilegal. "Estou na ativa, de férias. Devo passar
para a reserva em um mês. Por isso, não poderia mais concorrer à
vaga de juiz", afirmou.
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