São Paulo, quinta, 11 de junho de 1998

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Coronel diz que caiu por vingança

CRISPIM ALVES
da Reportagem Local

O coronel Claudionor Lisboa só tem uma explicação para os episódios envolvendo sua exoneração do comando geral da Polícia Militar de São Paulo e a não-nomeação para a vaga de juiz no TJM (Tribunal de Justiça Militar): "Para mim, pode ter sido uma vingança em virtude da defesa institucional da PM que eu promovi, logo após a proposta desastrosa apresentada pelo governo que praticamente extinguia a corporação".
Lisboa se refere à proposta de emenda constitucional -elaborada no ano passado pelo secretário da Segurança Pública, José Afonso da Silva, e encaminhada a Brasília pelo governador Mário Covas- que unificava as polícias.
Em tese, a proposta enfraqueceria a Polícia Militar e fortaleceria a Polícia Civil. O policiamento ostensivo, que hoje é atribuição da PM, passaria para a Polícia Civil.
Ontem, a Folha informou que Lisboa impetrou um mandado de segurança contra a decisão de Covas em nomear o coronel Lourival Costa Ramos para ocupar um dos postos de juiz no Conselho Superior de Sentença do TJM. Lisboa também concorria à vaga e foi o mais votado para ficar com ela.
A proposta de mudanças na PM foi feita durante uma das maiores crises da tropa, provocada pelo episódio da favela Naval, em Diadema (Grande SP), onde policiais foram flagrados espancando civis e matando uma pessoa.
Lisboa foi abertamente contrário à proposta. Ele chegou a promover palestras nos quartéis da PM no Estado mostrando sua indignação.
Passados nove meses de sua exoneração, Lisboa conta agora sua versão sobre os bastidores de sua saída do comando da corporação e liga o fato diretamente às críticas que fez à proposta. Ele cita, inclusive, o princípio de diálogo que manteve com Afonso da Silva no dia (11 de setembro de 97) em que se decidiu pela sua saída.
"Após uma reunião com o Braun (Luiz Paulo Braga Braun, delegado-geral da Polícia Civil), o secretário me chamou para uma conversa reservada, na qual disse que eu estava muito interessado em defender a instituição PM e que ele iria promover mudanças na cúpula. Não deixei ele concluir o pensamento e disse que entregaria minha carta de exoneração."
Segundo Lisboa, ficou acertado que ele entregaria a carta no dia seguinte, o que aconteceu, mas a divulgação, acompanhada do anúncio do novo comandante, só ocorreria no dia 16, uma terça-feira. No entanto, a informação vazou no dia 13, um sábado.
"Fui surpreendido, porque o secretário disse que só divulgaria no dia 16. Acho que a secretaria deixou vazar de propósito. Me mantive dentro da ética, não dando entrevistas." Lisboa afirmou que ficou mais chocado ainda com as declarações de Afonso da Silva.
"Fiquei surpreso e constrangido quando vi nos jornais as entrevistas do secretário dizendo as razões da exoneração. Ele alegou falta de pulso e aumento da criminalidade. Eu pergunto: Onde houve falta de pulso se nós seguramos uma greve (por melhores salários) em São Paulo? Agora, em março, a criminalidade bateu recordes."
"Estranhamente, um dia após eu rebater as críticas (do secretário) na imprensa, foi feita a nomeação do coronel Costa Ramos (para o cargo de juiz do TJM). Aliás, ele foi empossado no mesmo dia da publicação no "Diário Oficial", um fato inédito. Fiquei sabendo que a posse foi preparada na noite anterior", disse Lisboa.
O coronel cita outro fato. "Cerca de 30 dias antes (da conversa com Afonso da Silva), o secretário já havia me chamado para que eu indicasse meu substituto, diante da possibilidade de eu assumir a vaga no TJM." Lisboa entregou três nomes: Carlos Alberto da Costa, João Paulo Correia e Carlos Alberto de Camargo (o escolhido).
O coronel faz questão de frisar que entrou na Justiça contra a decisão de Covas (de nomear Costa Ramos) apenas para contestar um ato que ele considera ilegal. "Estou na ativa, de férias. Devo passar para a reserva em um mês. Por isso, não poderia mais concorrer à vaga de juiz", afirmou.



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