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"Batemos no cara à toa", diz secretário de Defesa Social
do enviado a Belém
"Eu sempre fui violento."
"Nós pegamos o sujeito, batendo no cara à toa."
Essas frases foram ditas pelo secretário de Defesa Social do Pará,
ex-delegado Paulo Sette Câmara.
Responsável em 1997 e ainda
hoje pela segurança pública do
Estado, Sette Câmara fez as afirmações em conversas com o delegado Clóvis Martins, acusado de
comandar a sessão de tortura a
Hildebrando Freitas.
Sem o conhecimento do secretário, que ainda o considerava um
amigo, Martins gravou uma conversa entre os dois ocorrida na casa do delegado, em Belém, e um
telefonema. A transcrição oficial
integra os autos do inquérito.
Amigos havia mais de 20 anos,
Sette Câmara e Martins estavam
estremecidos devido à ordem do
secretário para que se investigasse
o que ele considerava espancamento de Freitas -a sindicância
viria a ser arquivada pela Corregedoria de Polícia Civil.
"Eu sempre fui violento", disse
Sette Câmara no diálogo registrado em vídeo. "Quer dizer, eu sempre fui é agre... é... autoritário,
achava que a gente tá acima da lei
e etc (...). Eu não sabia do poder
do Estado."
Em outro trecho, afirmou, sem
se referir a algum caso específico:
"Clóvis, você é delegado, e eu tô
falando de delegado, ponto. (...)
Nós sabemos, quer dizer: nós pegamos... nós pegamos o sujeito,
batendo no cara à toa".
O secretário mostra intimidade
com o delegado. Martins estava
irritado com a atuação da Ouvidoria da Polícia do Pará no apoio
a Hildebrando Freitas.
Para tranquilizá-lo, Sette Câmara dá a entender que a criação da
Ouvidoria teria sido uma manobra política.
"O que a gente conseguir que...
que eu tinha conciliado com o
Gilvandro [Gilvandro Furtado,
então delegado geral" era a possibilidade daquela porra [a Ouvidoria da Polícia", daquele trem lá
funcionar durante um período x",
disse Sette Câmara.
"Até que ela [a ouvidora Rosa
Marga Rothe" fizesse ou não alguma coisa, porque aí ter-se-ia dado
oficialmente uma oportunidade
de ela fazer o raio que os parta e
não fez."
Sobre a casa de samba Cadência, cujo funcionamento foi a origem da prisão de Hildebrando
Freitas, o delegado Martins falou:
"Ali inclusive é ponto de reunião
do PT".
O secretário respondeu: "Sim, é
do PT, que é inimigo do governador [Almir Gabriel, PSDB", quer
dizer, é do partido contrário".
Clóvis Martins disse que o conteúdo das fitas "fala por si". Sette
Câmara se manifestou apenas em
1998, condenando o que chamou
de invasão de privacidade.
Quase dois anos depois, eles estão rompidos.
(MM)
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