São Paulo, Segunda-feira, 11 de Outubro de 1999
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"Batemos no cara à toa", diz secretário de Defesa Social

do enviado a Belém

"Eu sempre fui violento."
"Nós pegamos o sujeito, batendo no cara à toa."
Essas frases foram ditas pelo secretário de Defesa Social do Pará, ex-delegado Paulo Sette Câmara.
Responsável em 1997 e ainda hoje pela segurança pública do Estado, Sette Câmara fez as afirmações em conversas com o delegado Clóvis Martins, acusado de comandar a sessão de tortura a Hildebrando Freitas.
Sem o conhecimento do secretário, que ainda o considerava um amigo, Martins gravou uma conversa entre os dois ocorrida na casa do delegado, em Belém, e um telefonema. A transcrição oficial integra os autos do inquérito.
Amigos havia mais de 20 anos, Sette Câmara e Martins estavam estremecidos devido à ordem do secretário para que se investigasse o que ele considerava espancamento de Freitas -a sindicância viria a ser arquivada pela Corregedoria de Polícia Civil.
"Eu sempre fui violento", disse Sette Câmara no diálogo registrado em vídeo. "Quer dizer, eu sempre fui é agre... é... autoritário, achava que a gente tá acima da lei e etc (...). Eu não sabia do poder do Estado."
Em outro trecho, afirmou, sem se referir a algum caso específico: "Clóvis, você é delegado, e eu tô falando de delegado, ponto. (...) Nós sabemos, quer dizer: nós pegamos... nós pegamos o sujeito, batendo no cara à toa".
O secretário mostra intimidade com o delegado. Martins estava irritado com a atuação da Ouvidoria da Polícia do Pará no apoio a Hildebrando Freitas.
Para tranquilizá-lo, Sette Câmara dá a entender que a criação da Ouvidoria teria sido uma manobra política.
"O que a gente conseguir que... que eu tinha conciliado com o Gilvandro [Gilvandro Furtado, então delegado geral" era a possibilidade daquela porra [a Ouvidoria da Polícia", daquele trem lá funcionar durante um período x", disse Sette Câmara.
"Até que ela [a ouvidora Rosa Marga Rothe" fizesse ou não alguma coisa, porque aí ter-se-ia dado oficialmente uma oportunidade de ela fazer o raio que os parta e não fez."
Sobre a casa de samba Cadência, cujo funcionamento foi a origem da prisão de Hildebrando Freitas, o delegado Martins falou: "Ali inclusive é ponto de reunião do PT".
O secretário respondeu: "Sim, é do PT, que é inimigo do governador [Almir Gabriel, PSDB", quer dizer, é do partido contrário".
Clóvis Martins disse que o conteúdo das fitas "fala por si". Sette Câmara se manifestou apenas em 1998, condenando o que chamou de invasão de privacidade.
Quase dois anos depois, eles estão rompidos. (MM)

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