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CONSUMO
Recorrer de multas por conta própria é mais vantajoso
EUNICE NUNES
especial para a Folha
Recorrer de multas de trânsito
por meio de empresas especializadas pode ser um mau negócio.
A maior parte usa textos padronizados, cuja qualidade tem sido
criticada. Se você tem poucas
multas e pode reservar uma hora
para redigir um recurso, é mais
vantajoso fazê-lo sozinho.
O índice de recursos deferidos
pelas Jaris (Juntas Administrativas de Recursos de Infrações) da
capital paulista fica em torno de
26%. As empresas especializadas
estimam que ganham entre 20% e
50% dos recursos por elas apresentados.
Essas empresas surgiram na esteira do novo Código de Trânsito,
que entrou em vigor no começo
de 98. Decorrido cerca de um ano
e meio, muitas fecharam. Algumas arrecadaram cifras respeitáveis (fontes que não quiseram
identificar-se falam em cerca de
R$ 1,5 milhão). Outras resolveram
encerrar as atividades.
É esse o caso da Multauto, que
em um ano conseguiu 2.200 clientes no sistema anual e, a partir de
junho, deixou de admitir novos
associados, passando a cobrir
apenas os contratos que estavam
em vigor.
"O índice de insucesso foi maior
do que esperávamos. Por mais
que o trabalho seja bem feito, só
de 15% a 20% dos recursos são deferidos", informa a gerente geral
Daniela Sarri.
Stefan Pawluk, gerente da área
responsável pelo processamento
de multas e recursos da CET, diz
que não vale a pena contratar
uma empresa. "Como a ladainha
é a mesma, os julgadores passam
a não acreditar." Ele conta que há
alguns anos o sindicato dos taxistas usou fórmula parecida. Os recursos eram todos iguais e, após
um tempo, não passavam mais.
O desembargador Geraldo de
Faria Lemos Pinheiro, autor do
Código de Trânsito Brasileiro Sistematizado (editora Juarez de Oliveira) e secretário do Instituto
Brasileiro de Ciências Criminais
(IBCCrim), concorda. Ele acredita que mais vale uma história bem
contada, que tenha uma argumentação razoável e passe sinceridade, ou até uma "mentirinha
bem aplicada", do que uma peça
padronizada e impessoal.
Marcelo de Albuquerque, diretor da Multar, afirma que as pessoas procuram sua empresa porque falta orientação por parte das
autoridades. Ele acredita que consegue reverter cerca de 40% das
multas. A Multar oferece contratos anuais e recursos avulsos. Por
multa, cobra R$ 40 para recorrer
em primeira e segunda instâncias.
A Multacar está há um ano e
meio no mercado, embora tenha
passado do sistema de associação
para o de recursos avulsos. Cobra
R$ 25 por recurso em cada instância e estima seu índice de sucesso
em 20%. No atendimento telefônico, informa que não pode garantir o resultado.
No atendimento telefônico, a
Multar acenou com um índice de
sucesso da ordem de 70%, especialmente nos casos registrados
por equipamentos eletrônicos. O
atendente não perguntou qual a
infração nem o valor das multas.
Informado sobre as informações
divergentes, o diretor da Multar
disse que houve uma falha e que
tomaria providências para evitar
problemas desse tipo.
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