São Paulo, quinta-feira, 11 de outubro de 2001

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VIOLÊNCIA

Polícia do Maranhão diz não ter provas contra agricultores que, supostamente, teriam matado menino de 13 anos

Suspeitos de castrar garoto são libertados

DÉCIO SÁ
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO LUÍS

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

A Polícia Civil do Maranhão libertou ontem, por falta de provas, os dois suspeitos de terem castrado e assassinado o garoto Welson Frazão Serra, 13. Em dez anos, 20 crianças e adolescentes foram mortos e tiveram seus órgãos genitais removidos na região metropolitana de São Luís.
As mortes dos adolescentes do Maranhão chegaram a ser denunciadas a entidades internacionais.
O último caso no Maranhão -antes de encontrarem o garoto Welson- ocorreu em novembro do ano passado. Para a polícia, os crimes não têm ligação entre si e todos os esforços investigativos foram e estariam sendo feitos.
Os assassinatos têm características comuns: todos ocorreram com crianças pobres, que tiveram seus órgãos genitais extirpados. Os garotos, entre nove e 15 anos, moravam em áreas de invasão.
Apenas três casos foram solucionados. Os demais inquéritos encontram-se arquivados ou desaparecidos, segundo a polícia.
Ontem, os vigias José Ribamar de Oliveira e Washington Luís Gomes Xavier -que foram presos, na última segunda-feira, logo após o corpo do garoto ter sido localizado em um sítio na zona rural de São José de Ribamar (31 km de São Luís)- foram soltos por determinação da Justiça, com aprovação do Ministério Público.
Oliveira era vigia do sítio onde Welson foi encontrado e Xavier trabalhava em um outro sítio da região. Com eles, foram apreendidas cinco peças de roupa, duas facas sujas de sangue e o estilingue que seria da vítima.
Os dois negaram o crime. A polícia técnica analisa o material para tentar encontrar uma suposta ligação dos vigias com a morte.
Antes de ser castrado, Welson teve o dedo médio da mão direita decepado. Ele não foi violentado, diferentemente do que tinha sido divulgado. O garoto saiu no domingo para caçar passarinho. O corpo foi achado na segunda.
Segundo Paulo Aguiar, um dos dois delegados que trabalham no caso, o garoto morreu por asfixia ao ter o rosto prensado no solo.
O delegado disse que a polícia trabalha em duas linhas de investigação: vingança contra os pais de Welson e magia negra.

OEA
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) deu um prazo para o governo brasileiro responder às acusações de que crianças estariam sendo castradas e assassinadas impunemente no Maranhão.
A denúncia foi feita no mês passado pela ONG Centro de Defesa Padre Marcos Passerini.
De acordo com a comissão, se as autoridades se propuserem a tomar atitudes para coibir os crimes, haverá solução amistosa.
Caso o governo do Brasil não responda até o final do mês às acusações e não se proponha a adotar medidas de segurança, a comissão da OEA poderá publicar a decisão e enviá-la à Corte Interamericana de Direitos Humanos, com sede na Costa Rica.
"Os crimes têm de ser desvendados o mais rápido possível, pois toda a sociedade está preocupada", afirmou Sérgio Taner, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB no Maranhão.



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