São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 2006 |
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GILBERTO DIMENSTEIN Periferia animada Rafael e Daniel mergulharam na periferia para criar um desenho animado, cujos personagens são dois DJs
FORMADOS PELA Escola Superior de Propaganda e Marketing, Rafael Terpins e Daniel
Greco estavam sem emprego quando decidiram abrir uma pequena
produtora de animação. Com um
galpão na Barra Funda, conseguiam
sobreviver com serviços para cinema e publicidade. Queriam, porém,
ir mais longe, e não apenas ilustrar
projetos alheios. Nas horas vagas,
desenvolviam uma experiência, inspirada na periferia paulistana, que
lhes tomava muito tempo e não dava
um único centavo de retorno, mas,
agora, está prestes a atingir um público internacional. Nas suas incursões periféricas, Rafael e Daniel descobriam o encanto que os DJs exerciam na periferia -um encanto que, muitas vezes, segundo eles, servia de contraponto aos traficantes. À medida que o projeto saía da prancheta, mais jovens eram arregimentados para a produção. A mão-de-obra qualificada para animação é escassa e pouco qualificada, o que exigiu dos dois que atuassem como mestres diante de aprendizes. Neste ano, o que era um aprendizado coletivo, sem nenhuma garantia de ir para as telas, caiu nas mãos de profissionais da Cartoon Netwoork, uma das principais emissoras de desenho animado do mundo. Gostaram e encomendaram quatro filmes curtos, com versões em inglês e espanhol. "Só conseguimos avançar quatro segundos por dia, isso quando vamos bem", conta Daniel, que, como Rafael, está usando a madrugada para finalizar o projeto. Diante desse contrato surgiram, além das questões da finalização, mais dois problemas futuros. O primeiro deles, fácil de resolver, é a dificuldade de os jovens da periferia assistirem ao filme, pois são poucos os que têm acesso à TV por assinatura. "Podemos mostrar o trabalho em telões ambulantes", sugere Rafael. O segundo dos problemas é bem mais complexo, porque tem a ver com as mais profundas carências brasileiras. Se vierem novos contratos desse tipo -a emissora sinalizou que um eventual sucesso dos DJs animados significaria mais encomendas-, será necessário arregimentar técnicos. " Não há mão-de-obra disponível no mercado", lamenta Rafael. Daí que, desse gargalo, pode surgir mais uma experiência, dessa vez educativa. Com as técnicas que desenvolveram, eles gostariam de criar uma escola para a formação de jovens, especialmente da periferia, em animação. Texto Anterior: Outro lado: "Prisão é temporária", diz acusado Próximo Texto: A cidade é sua Índice |
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