São Paulo, domingo, 11 de outubro de 2009

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Executivo troca almoço por windsurfe em represa

Guarapiranga virou ponto de encontro de paulistanos que topam fazer um bate e volta

Essa foi a forma encontrada para aproveitar condições ideais para a prática de esportes aquáticos, mesmo quando surgem em dias úteis

FELIPE CARUSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Hora do almoço de uma quinta-feira fria e chuvosa na agência de publicidade no Ibirapuera na qual trabalha José Lucas de Paula, 28. Ele entra no carro e, enquanto troca a camisa social pela roupa de neoprene, liga para o clube de vela onde deixa sua prancha de windsurfe, às margens da represa Guarapiranga, e pede para deixarem tudo pronto.
O publicitário torce para o trânsito estar livre e conseguir voltar para o trabalho em duas horas e meia, depois de velejar por pelo menos 30 minutos.
O bate e volta na represa na hora do almoço é a forma que alguns paulistanos encontraram para aproveitar as condições ideais para a prática de esportes aquáticos, mesmo quando elas aparecem em dias úteis.
No clube de windsurfe Team Brazil, José Lucas encontra o segurança particular Milton Branco, 49, que dá aulas do esporte há três anos, preparando-se para entrar na água.
De acordo com Branco, as condições ideais para o windsurfe, que nesse caso significam vento, independentemente de chuva ou sol, não escolhem os finais de semana para vir.
"A gente brinca que segunda-feira é o dia mundial do vento. Os caras não aguentam, falam que vão para uma reunião e vêm velejar. Já vi gente fechando negócio aqui no gramado do clube antes de entrar na água", conta o segurança, que trabalha de madrugada, mas às vezes dorme numa barraca montada à beira da represa para não perder os bons ventos de manhã.
Segundo Manuel Marcos Castello, fundador do Team Brazil, quem consegue fugir na hora do almoço são os profissionais liberais e os que têm habilidade para arrumar a agenda. Mas todos têm algo em comum: chegam "desesperados" para entrar na água.
Cerca de 20 km separam o centro de São Paulo da represa responsável pelo abastecimento de água de 3,8 milhões de pessoas da região metropolitana e ponto de encontro de praticantes de esportes aquáticos.

Vida dupla
O tetracampeão brasileiro de wakeboard Mário Manzoli, o Marito, garante que dá para fazer um bate e volta em uma hora e meia, mesmo num esporte em que é preciso uma lancha para puxar o atleta em cima de uma prancha. De seu escritório no Brooklin, que importa equipamentos e organiza campeonatos, e diz chegar à Guarapiranga em 15 minutos.
Apesar de ter uma lancha na represa, ele usa a de uma escola que já está pronta na água.
José Lucas e alguns amigos de escapadas perceberam que têm uma "vida dupla" e criaram um blog (www.bate-volta.com) para contar as histórias desse "prazer secreto".
"Você volta para o escritório e senta na sua mesa em silêncio, como se tivesse voltado de um almoço mais longo e pensa: ninguém sabe o que eu fiz", conta o publicitário que pede dois sanduíches numa loja de suco próxima para, enfim, comer na sua hora de almoço.


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