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Executivo troca almoço por windsurfe em represa
Guarapiranga virou ponto de encontro de paulistanos que topam fazer um bate e volta
Essa foi a forma encontrada para aproveitar condições ideais para a prática de esportes aquáticos, mesmo quando surgem em dias úteis
FELIPE CARUSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Hora do almoço de uma
quinta-feira fria e chuvosa na
agência de publicidade no Ibirapuera na qual trabalha José
Lucas de Paula, 28. Ele entra no
carro e, enquanto troca a camisa social pela roupa de neoprene, liga para o clube de vela onde deixa sua prancha de windsurfe, às margens da represa
Guarapiranga, e pede para deixarem tudo pronto.
O publicitário torce para o
trânsito estar livre e conseguir
voltar para o trabalho em duas
horas e meia, depois de velejar
por pelo menos 30 minutos.
O bate e volta na represa na
hora do almoço é a forma que
alguns paulistanos encontraram para aproveitar as condições ideais para a prática de esportes aquáticos, mesmo quando elas aparecem em dias úteis.
No clube de windsurfe Team
Brazil, José Lucas encontra o
segurança particular Milton
Branco, 49, que dá aulas do esporte há três anos, preparando-se para entrar na água.
De acordo com Branco, as
condições ideais para o windsurfe, que nesse caso significam
vento, independentemente de
chuva ou sol, não escolhem os
finais de semana para vir.
"A gente brinca que segunda-feira é o dia mundial do vento.
Os caras não aguentam, falam
que vão para uma reunião e
vêm velejar. Já vi gente fechando negócio aqui no gramado do
clube antes de entrar na água",
conta o segurança, que trabalha
de madrugada, mas às vezes
dorme numa barraca montada
à beira da represa para não perder os bons ventos de manhã.
Segundo Manuel Marcos
Castello, fundador do Team
Brazil, quem consegue fugir na
hora do almoço são os profissionais liberais e os que têm habilidade para arrumar a agenda. Mas todos têm algo em comum: chegam "desesperados"
para entrar na água.
Cerca de 20 km separam o
centro de São Paulo da represa
responsável pelo abastecimento de água de 3,8 milhões de
pessoas da região metropolitana e ponto de encontro de praticantes de esportes aquáticos.
Vida dupla
O tetracampeão brasileiro de
wakeboard Mário Manzoli, o
Marito, garante que dá para fazer um bate e volta em uma hora e meia, mesmo num esporte
em que é preciso uma lancha
para puxar o atleta em cima de
uma prancha. De seu escritório
no Brooklin, que importa equipamentos e organiza campeonatos, e diz chegar à Guarapiranga em 15 minutos.
Apesar de ter uma lancha na
represa, ele usa a de uma escola
que já está pronta na água.
José Lucas e alguns amigos
de escapadas perceberam que
têm uma "vida dupla" e criaram
um blog (www.bate-volta.com) para contar as histórias desse "prazer secreto".
"Você volta para o escritório
e senta na sua mesa em silêncio, como se tivesse voltado de
um almoço mais longo e pensa:
ninguém sabe o que eu fiz",
conta o publicitário que pede
dois sanduíches numa loja de
suco próxima para, enfim, comer na sua hora de almoço.
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