São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

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INFÂNCIA

Pastoral da Criança propõe intervenções para melhorar escolarização de mães

Analfabetismo agrava desnutrição

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

A falta de alfabetização das mães é apontada numa pesquisa que a Pastoral da Criança divulgou ontem como uma das principais causas da desnutrição infantil no país. Consequência direta dessa conclusão, o combate ao analfabetismo encabeça uma série de 11 intervenções que a entidade vai propor ao futuro governo e que já dissemina entre os 155 mil voluntários Brasil afora.
"Combater o analfabetismo da mãe é, muitas vezes, salvar a vida de uma criança", afirma Juraci Cesar, médico que coordenou a pesquisa voltada a medir a desnutrição de crianças em bolsões de exclusão social das regiões Norte e Nordeste.
Divulgada em Curitiba, a pesquisa, cujo título é "Saúde e Nutrição Infantil em Áreas Pobres do Norte e Nordeste do Brasil", abrangeu 1.528 crianças de 0 a 5 anos de idade em 3.000 domicílios de 18 áreas rurais e urbanas. Ela foi feita em nove municípios que foram tirados de uma lista de 32 com menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil.
Macucuré (BA), Arneiroz (CE), Graça (CE), Garrafão do Norte (PA), Santa Cruz do Arari (PA), Mari (PB), Natuba (PB), Caracol (PI) e São Pedro (RN) foram os municípios alcançados pelo trabalho da pastoral.
Dentre as crianças pesquisadas, 8% apresentaram grau de desnutrição de moderado a grave, por estar abaixo do peso, e 16% eram portadoras de desnutrição crônica. "A fome é uma situação diária entre essas crianças", disse Cesar.
Nesse cenário, os pesquisadores encontraram 37,2% das mães e 45,9% dos pais analfabetos, sendo que apenas 35,6% das mães frequentaram a escola de um a três anos.

Amamentação e vacinação
A maioria das mães respondeu corretamente que o leite materno é um inibidor de doenças infecciosas em crianças de até seis meses de vida, mas a grande maioria confirmou que deu água (81,6%), chás (73,2%), sucos (73,2%) e leite em pó (50,2%) no primeiro mês de vida. Esses alimentos são considerados fontes importantes de contaminação da criança. Até os seis meses, só o leite materno é recomendado.
Foi alto (85%) o índice de crianças alcançado pelo esquema de vacinação de massa. O que as mães não souberam responder foi sobre contra que tipo de doença os filhos foram imunizados.
Realizada entre julho e outubro deste ano, a amostragem também avaliou o trabalho e a penetração da Pastoral da Criança, segundo a coordenadora, a médica sanitarista Zilda Arns.
"Não queremos ser governo. Nossa intenção é ir aos municípios mais pobres do Brasil e promover uma intervenção em parceria com as várias instâncias de governo", disse a coordenadora. Ela acrescenta, porém, que a meta "é pressionar [os governos" para que a inclusão social aconteça".

Renda e saneamento básico
Além do combate ao analfabetismo, a conclusão da pesquisa sugere a necessidade urgente da criação de mecanismos de geração de renda para essa população, uma vez que a média de renda diária é de apenas um real por morador, em casas de até 6,4 moradores.
Saneamento básico e melhoria das condições de habitação são o terceiro ponto detectado nos indicadores de exclusão.
Os programas de saúde ofertados à população abrangida na pesquisa são alvo de crítica nas conclusões finais. O relatório aponta necessidade de aumento da oferta de serviços pré-natal e a construção de postos de saúde, e também o aumento das equipes de programas voltados à saúde da família.
Falta de medicamentos também foi outra deficiência apontada, e, com ela, o inadequado (e excessivo) uso de antibióticos quando as mães têm acesso ao atendimento médico.


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