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INFÂNCIA
Pastoral da Criança propõe intervenções para melhorar escolarização de mães
Analfabetismo agrava desnutrição
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
A falta de alfabetização das
mães é apontada numa pesquisa
que a Pastoral da Criança divulgou ontem como uma das principais causas da desnutrição infantil no país. Consequência direta
dessa conclusão, o combate ao
analfabetismo encabeça uma série de 11 intervenções que a entidade vai propor ao futuro governo e que já dissemina entre os 155
mil voluntários Brasil afora.
"Combater o analfabetismo da
mãe é, muitas vezes, salvar a vida
de uma criança", afirma Juraci
Cesar, médico que coordenou a
pesquisa voltada a medir a desnutrição de crianças em bolsões de
exclusão social das regiões Norte
e Nordeste.
Divulgada em Curitiba, a pesquisa, cujo título é "Saúde e Nutrição Infantil em Áreas Pobres do
Norte e Nordeste do Brasil",
abrangeu 1.528 crianças de 0 a 5
anos de idade em 3.000 domicílios
de 18 áreas rurais e urbanas. Ela
foi feita em nove municípios que
foram tirados de uma lista de 32
com menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil.
Macucuré (BA), Arneiroz (CE),
Graça (CE), Garrafão do Norte
(PA), Santa Cruz do Arari (PA),
Mari (PB), Natuba (PB), Caracol
(PI) e São Pedro (RN) foram os
municípios alcançados pelo trabalho da pastoral.
Dentre as crianças pesquisadas,
8% apresentaram grau de desnutrição de moderado a grave, por
estar abaixo do peso, e 16% eram
portadoras de desnutrição crônica. "A fome é uma situação diária
entre essas crianças", disse Cesar.
Nesse cenário, os pesquisadores
encontraram 37,2% das mães e
45,9% dos pais analfabetos, sendo
que apenas 35,6% das mães frequentaram a escola de um a três
anos.
Amamentação e vacinação
A maioria das mães respondeu
corretamente que o leite materno
é um inibidor de doenças infecciosas em crianças de até seis meses de vida, mas a grande maioria
confirmou que deu água (81,6%),
chás (73,2%), sucos (73,2%) e leite
em pó (50,2%) no primeiro mês
de vida. Esses alimentos são considerados fontes importantes de
contaminação da criança. Até os
seis meses, só o leite materno é recomendado.
Foi alto (85%) o índice de crianças alcançado pelo esquema de
vacinação de massa. O que as
mães não souberam responder foi
sobre contra que tipo de doença
os filhos foram imunizados.
Realizada entre julho e outubro
deste ano, a amostragem também
avaliou o trabalho e a penetração
da Pastoral da Criança, segundo a
coordenadora, a médica sanitarista Zilda Arns.
"Não queremos ser governo.
Nossa intenção é ir aos municípios mais pobres do Brasil e promover uma intervenção em parceria com as várias instâncias de
governo", disse a coordenadora.
Ela acrescenta, porém, que a meta
"é pressionar [os governos" para
que a inclusão social aconteça".
Renda e saneamento básico
Além do combate ao analfabetismo, a conclusão da pesquisa
sugere a necessidade urgente da
criação de mecanismos de geração de renda para essa população,
uma vez que a média de renda
diária é de apenas um real por
morador, em casas de até 6,4 moradores.
Saneamento básico e melhoria
das condições de habitação são o
terceiro ponto detectado nos indicadores de exclusão.
Os programas de saúde ofertados à população abrangida na
pesquisa são alvo de crítica nas
conclusões finais. O relatório
aponta necessidade de aumento
da oferta de serviços pré-natal e a
construção de postos de saúde, e
também o aumento das equipes
de programas voltados à saúde da
família.
Falta de medicamentos também
foi outra deficiência apontada, e,
com ela, o inadequado (e excessivo) uso de antibióticos quando as
mães têm acesso ao atendimento
médico.
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