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LETRAS JURÍDICAS
Agora veremos a reforma na prática
WALTER CENEVIVA
COLUNISTA DA FOLHA
Saiu o texto integral do que
se tem chamado de reforma
do Judiciário. O interesse de cada
cidadão brasileiro em que o Judiciário funcione é permanente,
mas predomina a desconfiança
de que não funciona bem. Burocracia imensa e poucos juízes
marcam a dificuldade, a contar
da seleção de pessoal. No megauniverso de concorrentes aos concursos, a vocação para ser juiz é
quesito quase ausente e inúmeros
aprovados mostram a fraqueza
do ensino superior em nosso país.
O sistema concursal prejudica a
seleção da experiência qualificada. Opta pelo conhecimento
livresco.
Para ampliar a informação crítica do leitor, recolhi opiniões de
magistrados em textos publicados
pela imprensa ou saídos na internet. O ministro Humberto Gomes
de Barros, do Superior Tribunal
de Justiça, dizia, há não muito
tempo, com sensibilidade e coragem, que "saber jurídico não é conhecer livros escritos por outros.
Saber jurídico a que se refere a
Constituição Federal é a sabedoria que a vida dá, gerada no estudo e na experiência...". O ministro
criticou, na mesma oportunidade, outro mal, o dos julgamentos
contraditórios em seu tribunal,
que retiram a confiança da sociedade. Concluiu dizendo: "O avião
do Superior Tribunal de Justiça
está extremamente perdido".
Comparou certos julgamentos à
brincadeira da "banana" puxada
por lancha nas praias brasileiras.
Descreve curvas fortes e seus passageiros acabam caindo ao mar.
A incerteza de julgados conflitantes é a "banana" que derruba a
Justiça.
O ministro Sepúlveda Pertence,
do Supremo Tribunal Federal,
viu o Judiciário em falência. O desembargador paulista Mohamed
Amaro mostra-se pessimista
quanto ao futuro: em entrevista,
assegurou que a "decantada reforma do Judiciário", tal como
então se apresentava, não pode
resolver o problema da Justiça oficial, cuja "crise não é de natureza
constitucional, e sim de funcionalidade...". O mesmo desencanto
foi revelado pelo desembargador
Pascoal Nabuco, presidente do
Tribunal de Justiça de Sergipe, ao
dizer: "De nada ou quase nada se
há de melhorar o Judiciário com a
reforma aprovada pelo Congresso". Igual conclusão se tira de declaração recente do presidente do
Tribunal de Justiça de São Paulo,
Luiz Elias Tâmbara, manifestando preocupação com o fato de o
Judiciário ter-se transformado
em apêndice do Executivo ao recordar julgamentos concessivos
de intervenção nos municípios,
derrubados pelo Supremo Tribunal Federal.
Publicado o texto final, constata-se que algumas posições serão
reexaminadas. Servem de exemplo a promoção de merecimento
pelo critério objetivo de produtividade e presteza no exercício da
jurisdição, de não ser promovido
o magistrado que, injustificadamente, retiver autos em seu poder
além do prazo legal, não podendo
devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou decisão. Predominado exclusivamente pelos
mais antigos, o órgão especial dos
tribunais com número superior a
25 julgadores passou a cobrir metade das vagas por antigüidade e
metade por eleição pelo tribunal
pleno. São vedadas as férias coletivas nos tribunais de segundo
grau.
Mesmo sem reforma, há de ser
reconhecido que pelo menos a
Justiça Eleitoral vai bem, como se
viu no recente pleito municipal, a
grande eleição do povo. No Brasil,
Sepúlveda Pertence, presidente do
TSE, conduziu a eleição em paz.
Em São Paulo, o presidente do
TRE, Álvaro Lazzarini, foi o pulso
firme do pleno sucesso alcançado.
A Justiça Eleitoral não requer reforma. Como diz o povo, "se melhorar, estraga".
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