São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2005

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MASSACRE NA FAVELA

Investigações apontam para envolvimento de policiais na morte de seis pessoas na zona norte de São Paulo

Cápsula achada em chacina reforça suspeita sobre PMs

DA REPORTAGEM LOCAL

Cápsulas de pistola . 40, arma de uso exclusivo da polícia que é usada pela Polícia Militar de São Paulo, foram recolhidas por moradores no local de uma chacina na favela do Coruja, zona norte da capital paulista. A principal linha de investigação da Polícia Civil aponta para o suposto envolvimento de policiais militares na morte de seis pessoas, ocorrida na última quarta-feira.
Essas cápsulas foram entregues à Delegacia de Homicídios Múltiplos do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) da Polícia Civil e encaminhadas para perícia. Elas foram as que restaram no local depois que PMs que atenderam a ocorrência recolheram os estojos na favela, segundo relato de moradores. O objetivo seria alterar o local do crime para dificultar a perícia.
O próprio boletim de ocorrência registrado no 9º DP (Carandiru) relata como "de grande estranheza que no local dos fatos não tenham sido encontrados estojos de armas automáticas".
Os autores da chacina ainda não foram identificados. Segundo moradores, três homens armados invadiram a favela, obrigaram pessoas a sentar sobre as mãos -imobilização de vítimas semelhante à abordagem policial- e passaram a atirar.
O velório ocorreu na própria favela e as vítimas foram enterradas ontem à tarde. Um adolescente de 15 anos sobreviveu porque se fingiu de morto. Ele continuava internado no hospital ontem, mas não corria risco de morte.
O DHPP organiza uma lista de PMs suspeitos. Eles foram citados por moradores como autores de arbitrariedades na região. Uma das teses é que a chacina tenha sido motivada por uma rixa entre policiais e moradores.
Laudo necroscópico revelou que as seis vítimas foram atingidas por 32 disparos. O sobrevivente foi ferido por outros três tiros. José Carlos Barbosa, 27, foi a vítima que recebeu mais tiros. Foram oito disparos -na cabeça, tórax, braços e pernas.
Amauri Francisco Pereira de Jesus, 46, recebeu sete tiros, um deles na nuca. José Evangelista de Oliveira, 40, e André José dos Santos, 23, foram atingidos por quatro disparos cada. Também foram mortos Josinaldo da Conceição, 18 (três tiros), e Edilson Silva Braga, 18 (dois tiros).
Segundo moradores, Amauri de Jesus seria o alvo dos matadores. Ele estaria sendo ameaçado desde que prometeu denunciar PMs que invadiram a favela e atiraram em seu cachorro.
Segundo o major Jorge Luiz Alves, chefe do Setor de Comunicação Social da PM, 13 policiais prestaram depoimento na Corregedoria. Mas, segundo ele, até ontem não havia nenhuma prova do suposto envolvimento de PMs.
Dois policiais que conduziam no dia da chacina uma Ipanema vermelha, de propriedade do serviço reservado da PM, tiveram suas armas apreendidas e encaminhadas para perícia. O veículo foi apontado por moradores como o suposto carro usado pelos assassinos.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, recusaram o pedido de entrevista feito pela reportagem. (GILMAR PENTEADO)


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