São Paulo, domingo, 12 de março de 2000


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RECEITA NA MÃO
Produtos da cesta básica de medicamentos lançada pela Prefeitura de SP já estão em falta nos postos da capital
Falta remédio básico em posto de saúde


Moradores deixam unidades de saúde sem produtos prescritos pelos médicos


ANTONINA LEMOS
da Reportagem Local

O bebê William Rios, 1 ano, está com pneumonia há uma semana. Até sexta-feira, ele não havia tomado amoxicilina, remédio que foi receitado por um médico de um posto de saúde. Motivo: sua mãe, a desempregada Marinalva Farias, 37, não tem dinheiro para comprar e não encontrou o medicamento no posto de saúde São Mateus 1.
A amoxicilina faz parte de uma cesta básica de medicamentos genéricos que foi lançada pela Prefeitura de São Paulo.
De acordo com o projeto, todos os postos de saúde teriam de ter 73 tipos de medicamentos genéricos, que seria dados de graça para a população.
Os pacientes de quatro postos de saúde de São Paulo visitados pela Folha anteontem reclamam da falta de medicamentos que haviam sido prescritos por médicos dos postos.
Muitos dos remédios que os doentes disseram não ter sido encontrados fazem parte da cesta básica da prefeitura.
A desempregada Marinalva, a mãe de William, foi diagnosticada com diabetes há dois meses. Ainda não tomou o remédio, o Diabnese, porque também não o encontrou o medicamento no posto de saúde São Mateus 1.
O medicamento com o mesmo princípio ativo do Diabnese, o clorpropamida, está na lista de itens básicos da prefeitura.
No posto da Vila Iva, em Sapopemba (zona leste), a farmácia, segundo uma funcionária que não quis se identificar, está fechada há 15 dias. Segundo ela, o posto está deixando de ser do PAS (Programa de Assistência a Saúde) para ser controlado pela prefeitura e por isso está sendo reorganizado. Ela disse que os medicamentos voltariam a ser distribuídos na segunda-feira.
O desempregado Waldomiro de Almeida, 41, foi ao posto com uma receita de Buscopan e não o encontrou. "Mas o meu maior problema é que eu tomo insulina e é raro encontrar. Já fiquei dois meses sem tomar porque não encontrava no posto e também não tinha dinheiro para comprar."
No posto do PAS Tietê, em São Mateus (zona leste), os pacientes reclamavam da falta de medicamentos como o Bactrin. "Receitaram para o meu filho o Bactrin e não tem, não sei como vou fazer para comprar", disse a dona de casa Isabel Solano, 34. O medicamento genérico com o mesmo princípio do Bactrim é o sulfamet com trimetropina, que também está na lista da prefeitura.
A aposentada Antônia Pereira de Oliveira, 70, procurava no posto São Mateus 2 o remédio Diabnese, que toma para diabete. "Nunca encontro, sou obrigada a comprar. Muitas vezes não tenho dinheiro e as minhas filhas têm de comprar para mim", disse. O único medicamento que ela diz encontrar nos postos de saúde é o Higroton, que toma para controlar a pressão alta.
A falta de dinheiro para comprar remédio faz com que a aposentada Antônia Ana Silva, 55, sofra com dores nas costas. "Compro uma cartela de Voltaren por mês, mas não dá para todos os dias. Quando acaba, fico sofrendo, com dificuldade até para me mexer." Na sexta-feira, Antônia já estava sem o medicamento e só compraria uma caixa no dia de seu pagamento, em 1 de abril. "Já procurei em todos os postos de saúde da região de São Mateus e ainda não encontrei", disse.


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