|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Secretário reconhece haver maus-tratos no Rio
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O secretário de Justiça do Estado do Rio, João Luiz Duboc Pinaud, reconheceu ontem que
ocorrem "violações e maus-tratos" em penitenciárias estaduais.
Ele citou o espancamento de cerca de cem presos que teria acontecido no último dia 3 no presídio
Plácido Sá Carvalho, em Bangu
(zona oeste do Rio).
"Esse relatório é esclarecedor. É
fundamental para verificarmos as
dimensões dos maus-tratos no
Brasil e em especial no Rio. Sabemos que eles ocorrem, mas estamos tomando providências contra essa barbárie".
Segundo relatório do Conselho
da Comunidade -órgão que reúne representantes de ONGs contra a violência e a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia
Legislativa- enviado à secretaria, cerca de cem detentos teriam
sido espancados após uma tentativa de fuga. Coordenadora do
Conselho da Comunidade, Maria
Augusta Ribeiro, contou que o caso no Plácido Sá Carvalho foi denunciado por parentes dos presos, que ouviram gritos por volta
das 19h do dia 3.
"Fomos lá e constatamos terríveis espancamentos. Cinco detentos foram baleados. Um preso
acabou morrendo. Outros quatro
estão gravemente feridos, sendo
que um deles foi atingido por um
tiro na cabeça." Segundo ela, os
internos tinham marcas de arranhões, espancamentos, hematomas e fraturas. "Um deles tinha
quatro fraturas. Outro, que não
tem uma perna, teve as muletas
quebradas nas costas."
O secretário disse que recebeu o
relatório sobre os espancamentos
no dia seguinte e vistoriou, imediatamente, o presídio. "Nossos
médicos examinaram 17 presos e
constataram os espancamentos.
Muitos não quiseram se apresentar por medo de represálias."
Foi aberta sindicância interna
para investigar o caso, também
encaminhado ao Ministério Público. A diretoria do Plácido Sá
Carvalho não foi afastada porque,
de acordo com Pinaud, ainda não
há indícios de sua participação
nos espancamentos.
Pinaud disse que, para tentar
acabar com os casos de tortura
nos presídios, vai propor a instalação de ouvidorias externas em
cada uma das 32 penitenciárias do
Estado. "Também vamos criar
três centros de penas alternativas
e três novos presídios para acabar
com a superlotação."
De acordo com ele, existem
17.836 detentos no Estado
-eram 13.250 em janeiro de
2000- dos quais apenas 2.409
trabalham e 2.480 estudam.
O secretário de Segurança do
Estado do Rio, coronel Josias
Quintal, não quis falar sobre o relatório da ONU.
Minas Gerais
Entidades de direitos humanos
de Minas Gerais classificaram como excessivamente brando um
dos poucos pontos positivos para
o Brasil incluídos no relatório da
ONU que trata da tortura no país,
apresentado oficialmente ontem,
em Genebra, na Suíça.
O relator especial da organização, o inglês Nigel Rodley, que visitou unidades prisionais de cinco
Estados do país, em agosto, assinalou como ponto positivo o presídio Nelson Hungria, na região
metropolitana de Belo Horizonte.
O relator da ONU diz que o presídio mineiro é "relativamente
moderno", com boa comida, embora haja queixas de surras.
"Não foi isso que mostramos a
ele", disse o deputado estadual
Durval Ângelo (PT), vice-presidente da Comissão de Direitos
Humanos da Assembléia Legislativa mineira. Segundo ele, "inúmeras denúncias graves de tortura" foram apresentadas. "Existia
tortura, com sala e tudo, e ainda
existe." Para Ângelo, o relatório é
uma visão de quem ficou impressionado com a estrutura do lugar,
"que é realmente muito boa".
A secretária da Justiça de Minas
Gerais, Ângela Pace, disse que
constatou casos de violência no
local, mas que eles não ocorrem
desde o início do ano passado,
quando os acusados foram afastados de suas funções.
Texto Anterior: Embaixador anuncia providências em Genebra Próximo Texto: Ativistas enviam cartas repudiando tortura na Febem Índice
|