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Pesquisador defende a estrutura hierárquica
DA SUCURSAL DO RIO
O antropólogo italiano Livio
Sansone, 44, é contra a extinção
da Polícia Militar, pois acredita
que a corporação tem respeito pela hierarquia, o que a tornaria
mais confiável e controlável do
que a Polícia Civil.
Sansone coordena a pesquisa
realizada pelo Centro de Estudos
Afro-Asiáticos da Universidade
Candido Mendes, na qual estão
sendo ouvidos policiais negros
que trabalham no Rio. O levantamento tem o apoio da Fundação
Ford e do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Para ele, o próprio fato de a PM
também apoiar a realização do
trabalho é um sinal positivo. "Ao
abrir-se para a pesquisa, a instituição fica mais acessível para a
sociedade." A seguir, trechos de
sua entrevista:
Folha - O senhor acha errado acabar com a Polícia Militar?
Livio Sansone - Sempre fui defensor da desmilitarização da polícia, mas isso não quer dizer um
abandono da noção de hierarquia. É preciso acabar com a idéia
de que a polícia deve ser preparada somente para o confronto, mas
é preciso manter a estrutura na
qual há respeito pelas ordens superiores. Isso é muito mais complicado na Polícia Civil. É prematuro falar em fim da PM.
Folha - A Polícia Militar funciona
como um veículo de ascensão social para os negros?
Sansone - É inegável que a corporação no Rio tem exercido esse
papel. Até o desinteresse da elite
branca por essa carreira contribui
para que os negros possam galgar
espaços. A existência de uma carreira fardada, na qual os critérios
de promoção não são políticos e
não permitem discriminação de
cor, é um fator que tem permitido
a ascensão de negros.
Folha - A pesquisa coordenada
pelo senhor aponta que a PM ainda
discrimina os negros na sociedade.
Por que isso ocorre?
Sansone - Uma coisa é como a
PM trata a cor dentro da própria
corporação, outra é como ela trata
para fora. Aí ela incorpora os valores que permeiam a própria sociedade. Há também um corte geracional entre os policiais formados no período dos governos militares e os que são mais recentes,
depois das gestões do coronel Nazareth Cerqueira, o primeiro negro a chefiar a PM. Ele inaugurou
um período de preocupação com
os direitos do cidadão.
Folha - A discriminação racial por
parte dos policiais militares está
diminuindo?
Sansone-É importante lembrar
que a PM do Rio é uma corporação com quase 30 mil pessoas,
apresentando uma variedade de
tipos que impede que se faça uma
demonização de seus quadros. Há
também um fenômeno recente
que tem mudado o perfil das PMs,
e de outros setores, que é o do aumento geral da escolaridade. Isso
acaba tendo reflexos em uma atitude menos violenta por parte da
polícia e em um maior interesse
nas questões da cidadania, entre
eles a discriminação racial.
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