São Paulo, quinta-feira, 12 de abril de 2001

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Pesquisador defende a estrutura hierárquica

DA SUCURSAL DO RIO

O antropólogo italiano Livio Sansone, 44, é contra a extinção da Polícia Militar, pois acredita que a corporação tem respeito pela hierarquia, o que a tornaria mais confiável e controlável do que a Polícia Civil.
Sansone coordena a pesquisa realizada pelo Centro de Estudos Afro-Asiáticos da Universidade Candido Mendes, na qual estão sendo ouvidos policiais negros que trabalham no Rio. O levantamento tem o apoio da Fundação Ford e do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Para ele, o próprio fato de a PM também apoiar a realização do trabalho é um sinal positivo. "Ao abrir-se para a pesquisa, a instituição fica mais acessível para a sociedade." A seguir, trechos de sua entrevista:

Folha - O senhor acha errado acabar com a Polícia Militar?
Livio Sansone
- Sempre fui defensor da desmilitarização da polícia, mas isso não quer dizer um abandono da noção de hierarquia. É preciso acabar com a idéia de que a polícia deve ser preparada somente para o confronto, mas é preciso manter a estrutura na qual há respeito pelas ordens superiores. Isso é muito mais complicado na Polícia Civil. É prematuro falar em fim da PM.

Folha - A Polícia Militar funciona como um veículo de ascensão social para os negros?
Sansone
- É inegável que a corporação no Rio tem exercido esse papel. Até o desinteresse da elite branca por essa carreira contribui para que os negros possam galgar espaços. A existência de uma carreira fardada, na qual os critérios de promoção não são políticos e não permitem discriminação de cor, é um fator que tem permitido a ascensão de negros.

Folha - A pesquisa coordenada pelo senhor aponta que a PM ainda discrimina os negros na sociedade. Por que isso ocorre?
Sansone
- Uma coisa é como a PM trata a cor dentro da própria corporação, outra é como ela trata para fora. Aí ela incorpora os valores que permeiam a própria sociedade. Há também um corte geracional entre os policiais formados no período dos governos militares e os que são mais recentes, depois das gestões do coronel Nazareth Cerqueira, o primeiro negro a chefiar a PM. Ele inaugurou um período de preocupação com os direitos do cidadão.

Folha - A discriminação racial por parte dos policiais militares está diminuindo?
Sansone
-É importante lembrar que a PM do Rio é uma corporação com quase 30 mil pessoas, apresentando uma variedade de tipos que impede que se faça uma demonização de seus quadros. Há também um fenômeno recente que tem mudado o perfil das PMs, e de outros setores, que é o do aumento geral da escolaridade. Isso acaba tendo reflexos em uma atitude menos violenta por parte da polícia e em um maior interesse nas questões da cidadania, entre eles a discriminação racial.


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