São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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Terapia ajuda a superar sofrimento

DA REPORTAGEM LOCAL

A microempresária Terezinha Lanbgraff Daher, 48, passou anos lutando contra a bronquite crônica de Michel, 11, seu único filho. "Sempre fui mãe e pai", diz ela, que, solteira, teve o bebê.
Em dezembro de 1995, Terezinha e Michel estavam voltando para casa do hospital para onde o menino fora levado após nova crise da doença. Bem disposto, o menino pediu para ir andar de patins com amigos do condomínio.
Terezinha concordou, mas deixou ele ir apenas após o jantar. Michel comeu tão rápido que, minutos depois, quando a mãe saiu da cozinha carregando o próprio prato até a sala, já não o encontrou. Ele estava no banheiro vomitando. Só que Michel aspirou os alimentos recém-digeridos e morreu sufocado.
Terezinha diz não ter sentido culpa pela morte do filho. O difícil foi superar a dor e começar a refazer a vida: "Via meu filho no rosto de outras crianças. Quando consegui vê-lo com os olhos do coração, comecei a recuperar forças para lutar pelo meu trabalho, viver e ser feliz."
O psicólogo Antônio Carlos Pereira, 38, coordena o núcleo de psicologia do Cravi (Centro de Referência de Apoio à Vítima), serviço que atende pessoas que perderam parentes por morte violenta. Ele diz que a morte de um filho representa a inversão do curso natural da vida (pais enterrando filhos), por isso é muito difícil de superar.
Terezinha guarda um desenho feito por Michel em que aparecem dois corações com a frase: "Nós dois juntos somos mais fortes. Sempre seremos mãe e filho."
"Há uma questão cultural e instintiva de que as mães cuidam dos filhos. A morte deles muitas vezes as fazem pensar que não foram boas mães", diz Pereira.
Uma das terapias feitas com essas mães é colocá-las diante de uma cadeira vazia onde está simbolicamente o filho. Começam a ficar "curadas" do sentimento de culpa quando, ao se colocarem no lugar do filho, dizem: "mãe, você fez tudo o que foi possível".
O filho de Mariana (nome fictício), 60, foi assassinado no final de 98, quando, bêbado, interferiu na briga de um casal vizinho, na periferia da Grande São Paulo.
Mariana procurou o Cravi. Para ela, a morte do filho era uma consequência da sua falha como mãe: "Será que eu fui tão ruim assim? Será que eu estou pagando o que devo?". (GA e AB)


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