São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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LAR, DOCE LAR?

Elas apresentam mais sintomas de tensão que as demais ocupações profissionais, segundo pesquisa da Datafolha

Estresse de dona-de-casa supera o de desempregado

DÉBORA YURI
DA REVISTA

No "doce lar" de Cláudia Gonzalez Storto, 31, um apartamento de dois quartos na Freguesia do Ó, seus dois filhos choram a cada 15 minutos, ameaçam atirar bichos de pelúcia pela janela (com grade) e se provocam com chupetas. De olho em Giovanna e em Henrique, Cláudia cozinha cinco vezes por dia, das 7h30 às 20h30, além de lavar, fazer a feira...
Essa jornada de trabalho de 13 horas, com uma ou outra variação, é repetida diariamente por 12 milhões de brasileiras, 1 em cada 5 mulheres adultas. A legião das donas-de-casa foi radiografada em uma pesquisa Datafolha.
Questionadas sobre o que é importante para ser feliz, as donas-de-casa se mostram "pragmáticas": valorizam mais ter "plano de saúde", "dinheiro" e "fazer compras". Dão maior importância ao casamento e à religião, mas pouca ao sexo e à liberdade.
O levantamento traz um dado surpreendente: elas apresentam índices de sintomas relacionados ao estresse mais altos do que as demais ocupações.
Acima de aposentados e até de desempregados, lideram o ranking em quatro categorias: 66% costumam se irritar com facilidade; 53% sentem tristeza sem motivo aparente; 46% têm dificuldade para dormir e 47% sofrem com falta de apetite. No item "sentir-se exausto mesmo sem ter praticado qualquer esforço físico", 63% disseram "sim", atrás apenas dos empresários (69%).
"É atenção, cobrança e preocupação em período integral, sem férias, folga nem hora para bater o ponto", diz Cláudia.
Além do acúmulo de tarefas e da obrigação de estar sempre disponível, as donas-de-casa reclamam da monotonia e de uma certa "claustrofobia", dois fatores que contribuem para o estresse. Cláudia parou de trabalhar fora quando engravidou do segundo filho, largando um emprego de 12 anos como assistente de marketing. "Decidi parar poque não compensava fiannceiramente."

"Burras e alienadas"
Com os avanços do feminismo, o papel da dona-de-casa ficou marcado por uma conotação negativa ainda mais forte.
É o preconceito às avessas, segundo Acelí de Assis Magalhães, 45, professora de psicologia da Faap, já que a sociedade hoje exige uma mulher bem-sucedida, que trabalha duro e ganha bem, mas que ao mesmo tempo mantém um bom casamento, filhos perfeitos e cuida do corpo.
Questionadas sobre a maior vantagem do trabalho doméstico, as donas-de-casa são unânimes: poder acompanhar de perto o desenvolvimento dos filhos. "Cada palavra ou movimento novo da Giovanna ou do Henrique parece apagar todos os sacrifícios do dia", comemora Cláudia. Um bom recado para o Dia das Mães.


Colaborou PAULO SAMPAIO
Leia a reportagem completa no site da Revista: www.uol.com.br/revista


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