São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE

Cirurgias em bebês estão mais seguras

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Vanessa era tão pequena quando foi operada que o corte da cirurgia em seu peito podia ser coberto com um "band-aid". Com pouco mais de 1 kg, foi um dos menores bebês a passar por uma cirurgia de pulmão no mundo. Hoje está bem, gordinha e sem qualquer sequela.
Pediatras de grandes centros hospitalares do país já colecionam histórias de sucesso em intervenções com bebês menores do que esta página. Os avanços da cirurgia pediátrica nas últimas décadas permitem que hoje as operações em crianças, até nas muito pequenas, sejam mais seguras.
Três fatores foram fundamentais para o avanço: o melhor conhecimento do comportamento e da evolução da criança após intervenções, o desenvolvimento de técnicas de anestesia adequadas e a utilização rotineira de nutrição parenteral (por veia). Antes dela era fácil manter um bebê que não podia se alimentar hidratado, mas não alimentá-lo. A desnutrição levava a outras complicações.
As mudanças que tornaram essas cirurgias mais seguras ocorreram ainda nos equipamentos de monitorização, hoje especiais para o recém-nascido, e até nos fios de sutura, cateteres e curativos, atualmente feitos em miniatura para os pequenos.
"Há 40 anos, a mortalidade pelas más-formações congênitas [que nascem com a criança" era de 80%. Há 20 anos, de 50%. Hoje não passa de 10% a 15%", diz o chefe do serviço de cirurgia pediátrica do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, João Gilberto Maksoud.
As doenças congênitas são os problemas mais comuns que exigem cirurgia no recém-nascido. E o cirurgião-pediátrico-neonatal, o cirurgião-geral do bebê, é o melhor profissional para tratá-las por ser aquele que conhece em profundidade sua anatomia e procedimentos adequados.
"A criança não pode ser tratada como um adulto em miniatura", diz José Armando Mari, cirurgião-pediátrico-neonatal da Maternidade Santa Joana de São Paulo, que, com os colegas Marcos Marques da Silva e Pedro Muñoz Fernandez, operou Vanessa.
A cirurgia pediátrica nasceu como uma das subespecialidades da cirurgia na década de 50, anos depois de um navio de guerra com bombas explodir no porto da cidade canadense de Halifax, ferindo inúmeras crianças que estudavam em uma escola próxima. Foi o empurrão para que os médicos aprofundassem seus conhecimentos sobre a cirurgia infantil.
O profissional que se especializa nesta área passa por dois anos de estudos de cirurgia geral e mais três de cirurgia pediátrica. Deve ter ainda tarimba para lidar com pais, avós e amigos que ficam aterrorizados com a perspectiva do bebê ir a um centro cirúrgico.
Fernandez explica que até no momento de dar a notícia para os pais é preciso ter cuidado, principalmente se a necessidade da cirurgia for informada ainda na gravidez. "A mãe pode agredir o feto com o estresse."
Em 80% dos casos é possível fechar o diagnóstico com um ultrassom e assim planejar a operação antes do nascimento. "A mãe deve procurar uma maternidade referenciada, com anestesistas preparados e UTI", afirma um dos vice-presidentes da Sociedade Brasileira de Cirurgia Pediátrica, Manoel Carlos Velhote.
Com a descoberta precoce há tempo para a família se preparar, consultando um cirurgião para saber das perspectivas e riscos.

Urgência
A urgência da cirurgia varia muito. Para alguns problemas, como a gastrosquise e a hérnia ingnal (conheça as principais doenças no quadro), tem de ser feita logo após o parto. Outros casos podem esperar semanas e até meses, caso de uma das anomalias do desenvolvimento sexual, a criptorquidia (ausência de testículo na bolsa escrotal).
Outro fator de preocupação para os pais é a anestesia. Maksoud explica que não há anestesia "fraquinha". "Felizmente damos a dose conveniente, caso contrário a criança pode ter problemas durante a operação." Os anestésicos em grande parte são inalatórios e, por isso, facilmente eliminados. A criança deve entrar e sair chorando da sala de cirurgia, diz.
Não há um "tempo mínimo e máximo de internação", como costumam perguntar os pais. A recuperação depende de uma série de fatores que não estão sob controle do médico. Algumas crianças têm de ficar até dois meses no hospital, diz o cirurgião Marcos Marques da Silva.
A criança, no entanto, é um ótimo paciente cirúrgico. Seu metabolismo é mais rápido, o que facilita a recuperação. A cicatrização, por exemplo, chega a ser duas vezes mais rápida que a de um adulto, explica Maksoud.



Texto Anterior: Lar, doce lar?: Estresse de dona-de-casa supera o de desempregado
Próximo Texto: Menina tinha 1,28 kg quando foi operada
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.