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SEGURANÇA
Lei em vigor permite que detentos fiquem incomunicáveis por um mês; governo quer aumentar limite para 360 dias
Senador quer preso isolado por até dois anos
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O relator do Senado que analisa
o projeto que regula o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), Demóstenes Torres (PFL-GO), além
de assegurar os 360 dias em que o
preso pode ficar incomunicável e
em solitária, quer instituir o Regime de Segurança Máxima, no
qual o preso de alta periculosidade pode ficar até 720 dias isolado.
O projeto, que está na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça)
e deve ser votado amanhã, desencadeou a reação de advogados criminalistas, que constituíram o
Movimento Antiterror.
Dentro do próprio governo federal, que até então parecia marchar ao lado dos congressistas que
defendem leis mais rígidas na execução penal, já surgem, no entanto, divergências quanto ao endurecimento da legislação.
Resistência interna
Parecer do CNPCP (Conselho
Nacional de Polícia Criminal e Penitenciária), espécie de órgão de
aconselhamento do ministro da
Justiça, Márcio Thomaz Bastos,
condena a proposta do Executivo,
já aprovada pela Câmara dos Deputados, de tornar mais restritiva
a pena para presos ligados ao crime organizado.
O documento, finalizado em
abril deste ano, classifica o sistema de RDD, ao qual são submetidos tais detentos, como "cruel,
desumano e, portanto, inaplicável
no Brasil", por violar princípios
constitucionais.
A base do RDD é possibilitar a
detenção em celas individuais, em
situação de incomunicabilidade,
sem visitas íntimas e com banho
de sol de duas horas diárias. A legislação em vigor permite a submissão do preso a tais condições
por 30 dias no máximo.
O projeto de lei, apresentado
pelo governo logo após o assassinato do juiz-corregedor Antonio
José Machado Dias, em Presidente Prudente (interior de SP) -supostamente a mando da organização criminosa PCC (Primeiro
Comando da Capital)-, amplia
esse prazo para até 360 dias.
"Entendo que o governo esteja
fazendo um movimento de guerra contra o crime organizado,
mas cabe a nós resistir. Não se pode discutir uma lei com base no
Fernandinho Beira-Mar", diz o
advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, um dos fundadores
do Movimento Antiterror.
"Endurecer é dar uma falsa resposta à sociedade. Tenho certeza
de que, se não fosse uma posição
de governo, o ministro estaria
junto conosco [no movimento]",
declara Castro, amigo pessoal da
cúpula do governo petista.
Representantes do Antiterror,
atendendo ao pedido de Bastos,
vão lhe entregar hoje seus argumentos contra mudanças na lei.
"É ridículo [esse movimento].
Se fosse o movimento dos quindins da Iaiá, seria melhor, porque
homenagearia o Ary Barroso. No
final do dia, eles [os criminalistas]
se reuniriam com os quindins, para discutir como a filosofia poderia prevalecer sobre a realidade",
afirma o senador Torres, em defesa do endurecimento como proteção à sociedade e forma de combater a impunidade.
O Conselho Nacional de Polícia
Criminal e Penitenciária, que faz
sua apreciação sobre o RDD aprovado na Câmara -e, portanto,
sem considerar a rigidez ainda
maior proposta no Senado-, usa
o PCC para justificar sua posição e
indicar o veto do governo ao projeto que ele mesmo apresentou.
Lembra que o grupo surgiu no
Centro de Readaptação Penitenciária de Taubaté (interior paulista), uma prisão de segurança máxima. "Em tais locais, ao contrário
das intenções preconizadas, o recrudescimento do regime carcerário exacerba os aspectos psicológicos negativos do sentenciado
e sua revolta contra os valores sociais", afirma o parecer do órgão.
Exame
Outro ponto polêmico do projeto que emenda a Lei de Execução
Penal é o exame criminológico,
pelo qual o preso passa ao entrar
na cadeia e quando chega o momento da progressão do regime
(passar do fechado para o semi-aberto e depois para o aberto).
Trata-se de uma avaliação do
detento,feita por uma comissão
que reúne psicólogo, psiquiatra,
assistente social e sociólogo.
Essa análise, pela lei em vigor, é
peça fundamental para o juiz
aprovar ou não a progressão. Pela
proposta da Câmara, porém, o
exame perde esse caráter fundamental. Mas o senador Torres não
admite a mudança.
"Querem esvaziar as prisões a
qualquer custo. Não abro mão
disso. A disputa será no voto",
afirma o senador, referindo-se à
sessão da CCJ amanhã.
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