São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 2000


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"Temos que controlar o vírus"

DA ENVIADA ESPECIAL

A cura da Aids deixou de ser uma meta para Anthony Fauci, diretor do setor de doenças infecciosas dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA.
O pesquisador, que nos últimos anos tornou-se um dos mais famosos nomes no campo da Aids, diz acreditar que há outras formas de lutar contra a doença e que um investimento maior deve ser feito nesse sentido.
Leia abaixo trechos da entrevista concedida ontem à Folha.

Folha - O sr acredita que, no futuro, será possível eliminar o HIV do corpo humano?
Anthony Fauci -
Eu não acredito que a erradicação do vírus será uma meta viável em um futuro próximo. Nós temos muita experiência para entender que, mesmo controlando o HIV no corpo, ele se esconde em reservatórios, esperando a melhor hora para ressurgir. Por isso, acredito que nós estaríamos na direção errada se estivéssemos tentando erradicar o vírus. Temos que conseguir controlar o vírus a longo prazo.

Folha - Então não haverá uma cura para a Aids?
Fauci -
Eu não acho que haverá uma cura no sentido de eliminar o vírus. Haverá uma melhor prevenção para evitar novas infecções. É assim que vamos lutar contra a epidemia.
Temos mais armas. Temos drogas para tratar as pessoas infectadas. Eu acredito que essa é a melhor forma de controlar a infecção a longo prazo, em vez de uma cura que eu, pessoalmente, não acho que vai acontecer.

Folha - A meta então é melhorar a qualidade de vida dos portadores do vírus HIV?
Fauci -
Estamos falando de estar livre de doenças, o que, por definição, significa melhor qualidade de vida para as pessoas.

Folha - A visão mundial sobre o HIV e a Aids mudou desde o começo da epidemia?
Fauci -
Com certeza. Eu acho que, em países desenvolvidos, houve uma aceitação enorme dos portadores do HIV. Comunidades estão trabalhando juntas para prevenir a infecção e para tornar os portadores parte da sociedade.
As pessoas que estão infectadas vivem hoje uma vida normal, graças ao coquetel anti-Aids, e são membros produtivos da sociedade. Infelizmente, nos últimos cinco anos, estivemos expostos a uma epidemia nos países em desenvolvimento, principalmente no sul da África.
A boa notícia é que a comunidade científica avançou muito nos últimos anos.
Mas temos que lidar também com o fato de que a explosão da epidemia em países em desenvolvimento foi desastrosa, principalmente no Zimbábue, em Botsuana e na África do Sul. Essa é a má notícia.

Folha - O que precisa ser feito para que a sociedade e a ciência caminhem juntas na luta contra a Aids?
Fauci -
Acho que precisamos da cooperação dos países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Nós precisamos também do apoio dos líderes dos países mais afetados pela epidemia, que é a principal causa da controvérsia que está circulando neste congresso em Durban.
O presidente da África do Sul perdeu a oportunidade de mostrar liderança durante o discurso de abertura do congresso.
Ele deveria ter falado sobre os planos para controlar a epidemia. Foi uma pena.



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