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"Temos que controlar o vírus"
DA ENVIADA ESPECIAL
A cura da Aids deixou de ser
uma meta para Anthony Fauci,
diretor do setor de doenças infecciosas dos Institutos Nacionais de
Saúde dos EUA.
O pesquisador, que nos últimos
anos tornou-se um dos mais famosos nomes no campo da Aids,
diz acreditar que há outras formas
de lutar contra a doença e que um
investimento maior deve ser feito
nesse sentido.
Leia abaixo trechos da entrevista concedida ontem à Folha.
Folha - O sr acredita que, no futuro, será possível eliminar o HIV do
corpo humano?
Anthony Fauci - Eu não acredito
que a erradicação do vírus será
uma meta viável em um futuro
próximo. Nós temos muita experiência para entender que, mesmo controlando o HIV no corpo,
ele se esconde em reservatórios,
esperando a melhor hora para
ressurgir. Por isso, acredito que
nós estaríamos na direção errada
se estivéssemos tentando erradicar o vírus. Temos que conseguir
controlar o vírus a longo prazo.
Folha - Então não haverá uma cura para a Aids?
Fauci - Eu não acho que haverá
uma cura no sentido de eliminar o
vírus. Haverá uma melhor prevenção para evitar novas infecções. É assim que vamos lutar
contra a epidemia.
Temos mais armas. Temos drogas para tratar as pessoas infectadas. Eu acredito que essa é a melhor forma de controlar a infecção
a longo prazo, em vez de uma cura que eu, pessoalmente, não acho
que vai acontecer.
Folha - A meta então é melhorar a
qualidade de vida dos portadores
do vírus HIV?
Fauci - Estamos falando de estar
livre de doenças, o que, por definição, significa melhor qualidade
de vida para as pessoas.
Folha - A visão mundial sobre o
HIV e a Aids mudou desde o começo
da epidemia?
Fauci - Com certeza. Eu acho
que, em países desenvolvidos,
houve uma aceitação enorme dos
portadores do HIV. Comunidades estão trabalhando juntas para
prevenir a infecção e para tornar
os portadores parte da sociedade.
As pessoas que estão infectadas
vivem hoje uma vida normal, graças ao coquetel anti-Aids, e são
membros produtivos da sociedade. Infelizmente, nos últimos cinco anos, estivemos expostos a
uma epidemia nos países em desenvolvimento, principalmente
no sul da África.
A boa notícia é que a comunidade científica avançou muito nos
últimos anos.
Mas temos que lidar também
com o fato de que a explosão da
epidemia em países em desenvolvimento foi desastrosa, principalmente no Zimbábue, em Botsuana e na África do Sul. Essa é a má
notícia.
Folha - O que precisa ser feito para que a sociedade e a ciência caminhem juntas na luta contra a Aids?
Fauci - Acho que precisamos da
cooperação dos países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Nós precisamos também do
apoio dos líderes dos países mais
afetados pela epidemia, que é a
principal causa da controvérsia
que está circulando neste congresso em Durban.
O presidente da África do Sul
perdeu a oportunidade de mostrar liderança durante o discurso
de abertura do congresso.
Ele deveria ter falado sobre os
planos para controlar a epidemia.
Foi uma pena.
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