|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INFÂNCIA
Para o Unicef, combate à proliferação do vírus é prioridade para a execução do Estatuto da Criança e do Adolescente
7.900 bebês vão nascer com HIV neste ano
ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ
Pelo menos 7.900 bebês vão nascer com o vírus HIV no Brasil neste ano, segundo estimativa do Ministério da Saúde.
O país tem cerca de 13 mil mulheres grávidas infectadas com o
vírus HIV e já existem 30 mil órfãos da doença.
O número de bebês infectados
pode ser ainda maior. O eventual
aumento dessa cifra depende de o
governo federal cumprir sua meta
de identificar pelo menos 60% das
mães soropositivas durante o exame pré-natal. Em 99, esse número
ficou em 40%.
O Unicef (Fundo das Nações
Unidas para a Infância) coloca o
atendimento às gestantes e o
combate à proliferação do HIV
entre crianças e adolescentes como prioridade para a execução do
ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente). O estatuto completa dez anos amanhã.
"O governo conseguiu avanços
significativos na questão da saúde
da criança, mas o esforço precisa
ser garantido para todos os brasileiros", afirmou o oficial de saúde
do Unicef, Halim Girade.
Situação de risco
O avanço da Aids entre as populações mais pobres do país criou
uma situação de risco para bebês
que nascem de mães soropositivas e também para meninos de
rua, expostos à contaminação pelo uso de drogas injetáveis e pelo
comércio sexual.
O número de casos da doença
triplicou nos últimos dez anos em
menores de 13 anos, também uma
consequência da transmissão vertical (de mãe para filho).
Até o ano passado, segundo o
ministério, a doença havia se manifestado em 2.556 bebês com
menos de um ano de idade.
Os casos de Aids registrados
nessa faixa etária até 1990 eram
exclusivos de transfusão sanguínea e entre hemofílicos, o que hoje está praticamente erradicado.
Outro dado preocupante divulgado pelo governo é a existência
de 30 mil órfãos da Aids no país.
São crianças e adolescentes
acompanhados, geralmente, por
ONGs (organizações não-governamentais), como a que foi aberta
no final de 99 em Manaus.
No ano passado, o Ministério da
Saúde conseguiu localizar e tratar
apenas 3.402 gestantes com o
HIV, pouco menos do que 40%
do total estimado de infectadas.
O número de partos feitos pelo
SUS (Sistema Único de Saúde) indica que quase um quarto das gestantes atendidas pelo SUS são
adolescentes de 10 a 19 anos.
Sem a identificação do HIV nas
grávidas, não é possível tratar o
feto. Caso a presença do vírus seja
detectada durante a gestação, as
grávidas devem tomar os coquetéis de remédios para combater o
vírus. Com isso, as chances de o
bebê se contaminar são reduzidas
em até 75%.
A deficiência na identificação
está nas falhas do sistema nacional de acompanhamento à gestante, segundo o coordenador do
Programa DST-Aids do Ministério da Saúde, Paulo Teixeira.
O SUS não consegue realizar o
exame pré-natal em 28% das grávidas brasileiras, taxa concentrada entre a população excluída,
onde o contágio da Aids aumenta
com o chamado "empobrecimento" da doença.
Doença de pobre
Assim como ocorre no restante
do mundo, a Aids está se consolidando como uma doença que
atinge mais as populações carentes no Brasil.
Em números aproximados, entre 90 e 99 foram 130 mil casos de
Aids entre homens, dos quais 60
mil eram analfabetos ou tinham
apenas até o primeiro grau completo. Dos 40 mil casos entre mulheres, 24 mil ocorreram com
analfabetas ou pessoas com apenas o primeiro grau.
Dados do Ministério da Saúde
indicam que, das 179.541 pessoas
em que a doença se manifestou no
país, 29.034 casos foram em jovens com até 24 anos. Como a
doença demora de cinco a dez
anos para se manifestar, a quase
totalidade desse público contraiu
a doença antes dos 18 anos.
O ministro da Saúde, José Serra,
decidiu investir R$ 500 milhões a
partir deste mês para melhorar o
sistema de atendimento às gestantes do país, o que vai depender
muito da capacidade de gerenciamento dos municípios.
O programa prevê R$ 50 de bônus por gestante para os municípios que fizerem até seis consultas
de pré-natal com cada grávida e
realizarem o exame que detecta a
presença do vírus nas gestantes.
"Estamos combatendo os problemas da rede de assistência à
gravidez e ao parto, que reconhecidamente apresenta deficiências
importantes no Brasil", afirmou
Teixeira.
As deficiências mais comuns no
atendimento são um foco de desrespeito ao ECA. Em avaliação do
estágio de implantação do estatuto feita pelo Unicef com exclusividade para a Agência Folha, as deficiências no atendimento às gestantes foi considerado como um
direito ameaçado.
"O tratamento das gestantes se
faz complicado pela falta de pré-natal. Ele é simples, barato e disponível. Mas só podemos ter como meta atingir 60% das grávidas
neste ano", afirmou Teixeira.
Não há estimativa do número
de crianças e adolescentes que vivem na rua em situação de exclusão social.
O governo tem tentado identificar, tratar e prevenir a disseminação entre esses excluídos por
meio de convênios com 87 ONGs
espalhadas pelo país.
Texto Anterior: Juiz manda empresa pagar salário a doente demitido Próximo Texto: Casa cuida dos filhos de soropositivos Índice
|