São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 2000


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INFÂNCIA
Para o Unicef, combate à proliferação do vírus é prioridade para a execução do Estatuto da Criança e do Adolescente
7.900 bebês vão nascer com HIV neste ano

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

Pelo menos 7.900 bebês vão nascer com o vírus HIV no Brasil neste ano, segundo estimativa do Ministério da Saúde.
O país tem cerca de 13 mil mulheres grávidas infectadas com o vírus HIV e já existem 30 mil órfãos da doença.
O número de bebês infectados pode ser ainda maior. O eventual aumento dessa cifra depende de o governo federal cumprir sua meta de identificar pelo menos 60% das mães soropositivas durante o exame pré-natal. Em 99, esse número ficou em 40%.
O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) coloca o atendimento às gestantes e o combate à proliferação do HIV entre crianças e adolescentes como prioridade para a execução do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). O estatuto completa dez anos amanhã.
"O governo conseguiu avanços significativos na questão da saúde da criança, mas o esforço precisa ser garantido para todos os brasileiros", afirmou o oficial de saúde do Unicef, Halim Girade.

Situação de risco
O avanço da Aids entre as populações mais pobres do país criou uma situação de risco para bebês que nascem de mães soropositivas e também para meninos de rua, expostos à contaminação pelo uso de drogas injetáveis e pelo comércio sexual.
O número de casos da doença triplicou nos últimos dez anos em menores de 13 anos, também uma consequência da transmissão vertical (de mãe para filho).
Até o ano passado, segundo o ministério, a doença havia se manifestado em 2.556 bebês com menos de um ano de idade.
Os casos de Aids registrados nessa faixa etária até 1990 eram exclusivos de transfusão sanguínea e entre hemofílicos, o que hoje está praticamente erradicado.
Outro dado preocupante divulgado pelo governo é a existência de 30 mil órfãos da Aids no país.
São crianças e adolescentes acompanhados, geralmente, por ONGs (organizações não-governamentais), como a que foi aberta no final de 99 em Manaus.
No ano passado, o Ministério da Saúde conseguiu localizar e tratar apenas 3.402 gestantes com o HIV, pouco menos do que 40% do total estimado de infectadas.
O número de partos feitos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) indica que quase um quarto das gestantes atendidas pelo SUS são adolescentes de 10 a 19 anos.
Sem a identificação do HIV nas grávidas, não é possível tratar o feto. Caso a presença do vírus seja detectada durante a gestação, as grávidas devem tomar os coquetéis de remédios para combater o vírus. Com isso, as chances de o bebê se contaminar são reduzidas em até 75%.
A deficiência na identificação está nas falhas do sistema nacional de acompanhamento à gestante, segundo o coordenador do Programa DST-Aids do Ministério da Saúde, Paulo Teixeira.
O SUS não consegue realizar o exame pré-natal em 28% das grávidas brasileiras, taxa concentrada entre a população excluída, onde o contágio da Aids aumenta com o chamado "empobrecimento" da doença.

Doença de pobre
Assim como ocorre no restante do mundo, a Aids está se consolidando como uma doença que atinge mais as populações carentes no Brasil.
Em números aproximados, entre 90 e 99 foram 130 mil casos de Aids entre homens, dos quais 60 mil eram analfabetos ou tinham apenas até o primeiro grau completo. Dos 40 mil casos entre mulheres, 24 mil ocorreram com analfabetas ou pessoas com apenas o primeiro grau.
Dados do Ministério da Saúde indicam que, das 179.541 pessoas em que a doença se manifestou no país, 29.034 casos foram em jovens com até 24 anos. Como a doença demora de cinco a dez anos para se manifestar, a quase totalidade desse público contraiu a doença antes dos 18 anos.
O ministro da Saúde, José Serra, decidiu investir R$ 500 milhões a partir deste mês para melhorar o sistema de atendimento às gestantes do país, o que vai depender muito da capacidade de gerenciamento dos municípios.
O programa prevê R$ 50 de bônus por gestante para os municípios que fizerem até seis consultas de pré-natal com cada grávida e realizarem o exame que detecta a presença do vírus nas gestantes.
"Estamos combatendo os problemas da rede de assistência à gravidez e ao parto, que reconhecidamente apresenta deficiências importantes no Brasil", afirmou Teixeira.
As deficiências mais comuns no atendimento são um foco de desrespeito ao ECA. Em avaliação do estágio de implantação do estatuto feita pelo Unicef com exclusividade para a Agência Folha, as deficiências no atendimento às gestantes foi considerado como um direito ameaçado.
"O tratamento das gestantes se faz complicado pela falta de pré-natal. Ele é simples, barato e disponível. Mas só podemos ter como meta atingir 60% das grávidas neste ano", afirmou Teixeira.
Não há estimativa do número de crianças e adolescentes que vivem na rua em situação de exclusão social.
O governo tem tentado identificar, tratar e prevenir a disseminação entre esses excluídos por meio de convênios com 87 ONGs espalhadas pelo país.


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