São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 2000


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Casa cuida dos filhos de soropositivos

ELIANE SILVA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

As meninas E.M.C.S. e F.D.S., ambas de 8 anos, gostam da boneca Barbie e pretendem um dia serem dançarinas como as moças do É o Tchan.
Os garotos V.S. e D.C.S., de 6 anos, assistem Pokémon e querem ser como Marcelinho, o camisa 7 do Corinthians.
Com sonhos comuns a muitas crianças, eles são filhos de pais pobres e doentes de Aids em São José do Rio Preto (451 km ao norte de São Paulo).
A cidade lidera o ranking de pacientes da doença no Estado de São Paulo e ocupa o terceiro lugar na lista nacional.
As quatro crianças e mais 11 amigos de zero a dez anos moram juntos em uma casa de cerca de 200 metros quadrados, onde recebem alimentação, educação, vestuário, remédios e carinho.
A Casa da Criança Além do Amor, fundada em dezembro de 97, é mantida pelo Gada, uma ONG (organização não-governamental) que trabalha em parceria com a Prefeitura de São José do Rio Preto.
O Gada (Grupo de Amparo ao Doente de Aids) recebe R$ 8.900 mensais da prefeitura para as despesas de aluguel e salário dos 20 profissionais da Casa da Criança. Os outros custos são bancados por doações da comunidade e eventos que a entidade organiza.
Desde 1987, foram registradas 57 crianças menores de 13 anos doentes de Aids na cidade, sendo que 22 morreram.
Entre os adultos, são 2.326 casos, com 1.287 mortes. Em média, são identificados 300 soropositivos por ano.
A Casa da Criança mudou de prédio há duas semanas. "Aqui é bem mais bonito", afirma a menina E., que está na instituição há um ano junto com dois irmãos de 6 e 3 anos.
Eles eram em quatro, mas a irmã menor morreu. "Ela foi para o céu", diz E. A menina afirma que gosta da entidade e das "tias", mas não esconde que gostaria de voltar para junto da mãe.
Diferentemente da maioria das crianças, E. e seus irmãos não vão para casa nos finais de semana. A mãe está internada em uma cidade da região, Jaci, tentando se recuperar do vício das drogas. O pai é um andarilho.
"Os três irmãos não são soropositivos, mas têm muita saudade da mãe e poucas chances de voltar para a família", afirma Neli Dutra Martins, 43, presidente do Gada.
A casa mantém ainda mais dois trios de irmãos. Em um dos trios, duas meninas são portadoras do vírus da Aids.
Do total de 15 crianças, oito estão infectadas. O caso mais grave é o do garoto E.B., de um ano de idade, mas que tem aparência de cinco meses. Os pais, doentes de Aids e sem condição financeira ou psicológica de tratar o menino, perderam sua guarda.
As crianças são atendidas na unidade de doenças infecto-contagiosas do Hospital de Base.
Os casos de transmissão do vírus HIV da mãe para os filhos caíram em Rio Preto de sete, em 98, para um, no ano passado, graças a um trabalho desenvolvido pela rede pública no pré-natal.
O programa inclui exame de HIV para todas as gestantes e tratamento para as portadoras do vírus com AZT na gestação e durante o parto. O bebê da mãe soropositiva recebe o medicamento durante 18 meses.
"O tratamento preventivo diminuiu a incidência da transmissão para 2% a 8%", diz Maria Inês Spinelli Arantes, coordenadora do Programa DST-Aids em Rio Preto. Sem o AZT, a possibilidade de uma gestante soropositiva infectar o filho é de 20% a 40%.



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