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Casa cuida dos filhos de soropositivos
ELIANE SILVA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
As meninas E.M.C.S. e F.D.S.,
ambas de 8 anos, gostam da boneca Barbie e pretendem um dia serem dançarinas como as moças
do É o Tchan.
Os garotos V.S. e D.C.S., de 6
anos, assistem Pokémon e querem ser como Marcelinho, o camisa 7 do Corinthians.
Com sonhos comuns a muitas
crianças, eles são filhos de pais pobres e doentes de Aids em São José do Rio Preto (451 km ao norte
de São Paulo).
A cidade lidera o ranking de pacientes da doença no Estado de
São Paulo e ocupa o terceiro lugar
na lista nacional.
As quatro crianças e mais 11
amigos de zero a dez anos moram
juntos em uma casa de cerca de
200 metros quadrados, onde recebem alimentação, educação, vestuário, remédios e carinho.
A Casa da Criança Além do
Amor, fundada em dezembro de
97, é mantida pelo Gada, uma
ONG (organização não-governamental) que trabalha em parceria
com a Prefeitura de São José do
Rio Preto.
O Gada (Grupo de Amparo ao
Doente de Aids) recebe R$ 8.900
mensais da prefeitura para as despesas de aluguel e salário dos 20
profissionais da Casa da Criança.
Os outros custos são bancados
por doações da comunidade e
eventos que a entidade organiza.
Desde 1987, foram registradas
57 crianças menores de 13 anos
doentes de Aids na cidade, sendo
que 22 morreram.
Entre os adultos, são 2.326 casos, com 1.287 mortes. Em média,
são identificados 300 soropositivos por ano.
A Casa da Criança mudou de
prédio há duas semanas. "Aqui é
bem mais bonito", afirma a menina E., que está na instituição há
um ano junto com dois irmãos de
6 e 3 anos.
Eles eram em quatro, mas a irmã menor morreu. "Ela foi para o
céu", diz E. A menina afirma que
gosta da entidade e das "tias", mas
não esconde que gostaria de voltar para junto da mãe.
Diferentemente da maioria das
crianças, E. e seus irmãos não vão
para casa nos finais de semana. A
mãe está internada em uma cidade da região, Jaci, tentando se recuperar do vício das drogas. O pai
é um andarilho.
"Os três irmãos não são soropositivos, mas têm muita saudade
da mãe e poucas chances de voltar
para a família", afirma Neli Dutra
Martins, 43, presidente do Gada.
A casa mantém ainda mais dois
trios de irmãos. Em um dos trios,
duas meninas são portadoras do
vírus da Aids.
Do total de 15 crianças, oito estão infectadas. O caso mais grave
é o do garoto E.B., de um ano de
idade, mas que tem aparência de
cinco meses. Os pais, doentes de
Aids e sem condição financeira ou
psicológica de tratar o menino,
perderam sua guarda.
As crianças são atendidas na
unidade de doenças infecto-contagiosas do Hospital de Base.
Os casos de transmissão do vírus HIV da mãe para os filhos caíram em Rio Preto de sete, em 98,
para um, no ano passado, graças a
um trabalho desenvolvido pela
rede pública no pré-natal.
O programa inclui exame de
HIV para todas as gestantes e tratamento para as portadoras do vírus com AZT na gestação e durante o parto. O bebê da mãe soropositiva recebe o medicamento
durante 18 meses.
"O tratamento preventivo diminuiu a incidência da transmissão
para 2% a 8%", diz Maria Inês
Spinelli Arantes, coordenadora
do Programa DST-Aids em Rio
Preto. Sem o AZT, a possibilidade
de uma gestante soropositiva infectar o filho é de 20% a 40%.
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