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RELIGIÃO
Peregrinação marca os 450 anos da chegada do padre ao país; pedaço do fêmur será levado a 13 cidades até janeiro de 2004
Relíquia de Anchieta percorre litoral de SP
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
De hoje até janeiro do ano que
vem, uma relíquia do padre José
de Anchieta (1534-1597) -um
fragmento do fêmur esquerdo-
vai percorrer 13 cidades visitadas
por ele no litoral de São Paulo.
A peregrinação marca os 450
anos da chegada do padre Anchieta ao país, em 13 de julho de
1553, aos 19 anos, em Salvador.
É a primeira vez na história que
restos mortais do jesuíta, declarado beato pelo Vaticano em 1980,
deixam a capital para repetir os
caminhos do Brasil colonial. Na
década de 70, a relíquia passou
apenas por São Vicente.
Poeta, professor e escritor de
peças teatrais, tido como precursor da literatura brasileira, Anchieta depende da comprovação
de um milagre para ser declarado
o primeiro santo brasileiro.
A peregrinação, no caso, pode
ajudar nessa procura. "A relíquia
irá percorrer o litoral para resgatar a proximidade que o padre
Anchieta tinha com o povo", afirma o padre Cesar Augusto dos
Santos, 58, presidente da Canan
(Associação Pró-Canonização de
Anchieta) e vice-postulador da
causa de canonização do jesuíta.
A primeira santa brasileira, madre Paulina (1865-1942), foi canonizada em maio do ano passado
pelo papa João Paulo 2º.
A peregrinação de Anchieta terminará em 25 de janeiro de 2004,
data em que a capital, que Anchieta ajudou a fundar, comemora
seus 450 anos. A peça será devolvida durante missa na catedral da
Sé, no centro de São Paulo.
Roteiro
Há quatro relíquias oficiais de
Anchieta no Brasil: uma no Pátio
do Colégio (SP), outra com a Canan, uma na cidade de Anchieta
(ES), onde o padre morreu, e a última em Itaici, distrito de Indaiatuba (SP), onde a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do
Brasil) realiza encontros anuais.
As duas primeiras formam o fêmur esquerdo, devolvido ao país
pelo Vaticano no final da década
de 60. Pelas dimensões do osso,
pode-se dizer que o padre tinha
entre 1,62 m e 1,66 m de altura.
Batizada de "Nos Caminhos de
Anchieta", a peregrinação que começa hoje tem como ponto de
partida a catedral da Sé, hoje, às
9h. Em carreata, o relicário com o
fragmento de osso será levado para o Forte São João, em Bertioga
(92 km de SP), onde o padre chegou a se hospedar algumas vezes.
Às 19h, será realizada uma missa campal no parque dos Tupiniquins, em frente ao forte.
A partir de Bertioga, a relíquia
passará por outras 12 cidades no
litoral.
A fama de milagreiro garantiu a
beatificação ao padre José de Anchieta, em 1980, sem que fosse
comprovado um milagre. Houve
uma exceção prevista no direito
canônico, já aplicada pelo Vaticano para outros beatos.
A beatificação é a etapa do meio
das três fases que levam à canonização -quando a pessoa é declarada santo. Como beato, a igreja
permite o culto de Anchieta em
igrejas onde ele viveu e nas da
Companhia de Jesus. A imagem
do padre pode ficar no altar.
Nascido em 1534 nas Ilhas Canárias, Anchieta estudou na Universidade de Coimbra. Meses depois de desembarcar na Bahia, o
jesuíta recebeu a missão de auxiliar o superior da Companhia de
Jesus, padre Manuel da Nóbrega,
na fundação de um colégio no
planalto de Piratininga, atual cidade de São Paulo.
Além de dedicar-se à alfabetização dos filhos dos colonos e dos
índios, Anchieta estudou a língua
indígena mais falada no litoral
-o tupi- e formulou a sua primeira gramática.
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