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São Paulo, sábado, 12 de julho de 2003

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RELIGIÃO

Peregrinação marca os 450 anos da chegada do padre ao país; pedaço do fêmur será levado a 13 cidades até janeiro de 2004

Relíquia de Anchieta percorre litoral de SP

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

De hoje até janeiro do ano que vem, uma relíquia do padre José de Anchieta (1534-1597) -um fragmento do fêmur esquerdo- vai percorrer 13 cidades visitadas por ele no litoral de São Paulo.
A peregrinação marca os 450 anos da chegada do padre Anchieta ao país, em 13 de julho de 1553, aos 19 anos, em Salvador.
É a primeira vez na história que restos mortais do jesuíta, declarado beato pelo Vaticano em 1980, deixam a capital para repetir os caminhos do Brasil colonial. Na década de 70, a relíquia passou apenas por São Vicente.
Poeta, professor e escritor de peças teatrais, tido como precursor da literatura brasileira, Anchieta depende da comprovação de um milagre para ser declarado o primeiro santo brasileiro.
A peregrinação, no caso, pode ajudar nessa procura. "A relíquia irá percorrer o litoral para resgatar a proximidade que o padre Anchieta tinha com o povo", afirma o padre Cesar Augusto dos Santos, 58, presidente da Canan (Associação Pró-Canonização de Anchieta) e vice-postulador da causa de canonização do jesuíta.
A primeira santa brasileira, madre Paulina (1865-1942), foi canonizada em maio do ano passado pelo papa João Paulo 2º.
A peregrinação de Anchieta terminará em 25 de janeiro de 2004, data em que a capital, que Anchieta ajudou a fundar, comemora seus 450 anos. A peça será devolvida durante missa na catedral da Sé, no centro de São Paulo.

Roteiro
Há quatro relíquias oficiais de Anchieta no Brasil: uma no Pátio do Colégio (SP), outra com a Canan, uma na cidade de Anchieta (ES), onde o padre morreu, e a última em Itaici, distrito de Indaiatuba (SP), onde a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) realiza encontros anuais.
As duas primeiras formam o fêmur esquerdo, devolvido ao país pelo Vaticano no final da década de 60. Pelas dimensões do osso, pode-se dizer que o padre tinha entre 1,62 m e 1,66 m de altura.
Batizada de "Nos Caminhos de Anchieta", a peregrinação que começa hoje tem como ponto de partida a catedral da Sé, hoje, às 9h. Em carreata, o relicário com o fragmento de osso será levado para o Forte São João, em Bertioga (92 km de SP), onde o padre chegou a se hospedar algumas vezes.
Às 19h, será realizada uma missa campal no parque dos Tupiniquins, em frente ao forte.
A partir de Bertioga, a relíquia passará por outras 12 cidades no litoral.
A fama de milagreiro garantiu a beatificação ao padre José de Anchieta, em 1980, sem que fosse comprovado um milagre. Houve uma exceção prevista no direito canônico, já aplicada pelo Vaticano para outros beatos.
A beatificação é a etapa do meio das três fases que levam à canonização -quando a pessoa é declarada santo. Como beato, a igreja permite o culto de Anchieta em igrejas onde ele viveu e nas da Companhia de Jesus. A imagem do padre pode ficar no altar.
Nascido em 1534 nas Ilhas Canárias, Anchieta estudou na Universidade de Coimbra. Meses depois de desembarcar na Bahia, o jesuíta recebeu a missão de auxiliar o superior da Companhia de Jesus, padre Manuel da Nóbrega, na fundação de um colégio no planalto de Piratininga, atual cidade de São Paulo.
Além de dedicar-se à alfabetização dos filhos dos colonos e dos índios, Anchieta estudou a língua indígena mais falada no litoral -o tupi- e formulou a sua primeira gramática.


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