free-lance para a Folha

A declaração do ministro José Serra (Saúde) sobre a "produção independente" da apresentadora de televisão Xuxa virou motivo de debate ontem em Brasília.
Anteontem, em entrevista após participação na abertura de um simpósio internacional sobre gravidez na adolescência, o ministro disse que a mídia devia se preocupar mais com o que divulga. Segundo ele, a "exaltação da produção independente estimula meninas de 12, 13 anos a terem filhos".
E afirmou: "Eu fico imaginando quantas adolescentes não se influenciaram pela produção independente da Xuxa com a Sasha".
A apresentadora respondeu criticando o sistema de saúde nacional. "Essa declaração é injusta e demagógica. Mais nojento é o que eu vejo todo dia no noticiário: aumento de preço de remédio, plano de saúde que não respeita os cidadãos e hospitais sem médicos", disse Xuxa.
As declarações dos dois foram tema recorrente durante o debate sobre mídia e sexualidade, que aconteceu ontem no simpósio.
Para a ex-deputada Marta Suplicy (PT-SP), Xuxa deve aprender a ter noção de seu poder de persuasão.
"Ela pode fazer o que quiser, mas tem que saber que, quando sua vida particular se torna pública, está servindo de exemplo para muitas adolescentes. Ela pode influenciá-las do mesmo modo que convence crianças a participar da campanha de vacinação."
Já o apresentador de televisão Serginho Groisman diz que é um exagero culpar personalidades pelo alto índice de adolescentes grávidas do país. "Achar que as adolescentes imitam a Xuxa engravidando é não respeitar a individualidade das pessoas."
Fora do simpósio, o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que já teve vários atritos com o ministro da Saúde, disse, rindo, que só queria dar uma resposta sobre o assunto. E ditou: "Só faltava o Serra brigar com a Xuxa. Agora, já não tem mais ninguém. Ele (Serra) já brigou com todo mundo".
A assessoria de Serra informou ontem que ele não iria se pronunciar novamente sobre o assunto.
Para o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, a "gravidez é um problema de opção das pessoas". "Toda pessoa maior de 18 anos tem direito de fazer suas opções pessoais. Acho que a divulgação excessiva de casos como esse realmente estimula (a gravidez precoce), trazendo prejuízos para a educação e para a saúde. Não quero me pronunciar sobre caso específico dessa ou daquela apresentadora", afirmou.
Zilda Arns Nilma, coordenadora nacional da Pastoral da Criança, entidade ligada à CNBB, concorda com a posição de Serra. "Seguindo o exemplo da Xuxa, as adolescentes vão começar a achar normal ter um filho sem um pai por perto", disse.
O editor de Mídia Jovem da Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância), Veet Vivarta, respeita a posição da apresentadora. "Xuxa tem todo o direito de vivenciar o seu lado materno. Ela podia era estar conscientizando crianças e adolescentes da realidade, que é bem diferente do conto de fadas em que vive."
Sônia Malheiros Miguel, 44, assessora técnica da Cfêmea (Centro Feminista de Estudos e Assessoria), acha que Xuxa não dá mau exemplo. "Existem várias formas de família. O ministro não está respeitando essa diversidade que constitui nossa sociedade".


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