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Sindicâncias
não devem
apontar os
culpados
da Reportagem Local
A série de representações, sindicâncias e inquéritos abertos para
investigar a qualidade do sangue e
a seriedade das pessoas que controlam esse processo não deve chegar a lugar algum. As acusações
contra Dalton Chamone, presidente da Fundação Pró-Sangue e
ex-coordenador do Ministério da
Saúde, são anônimas, e as pessoas
que o denunciam não apareceram.
A equipe de Chamone rebate
uma a uma as denúncias listadas
no dossiê.
Uma delas atribui a Chamone o
favorecimento à empresa Baxter,
que participava de concorrência
para fornecimento do fator coagulante 8. Chamone teria dado um
"nada consta" para o produto,
responsável por pelo menos um
caso de reação adversa em hemofílico. Chamone diz que o produto já
tinha sido liberado antes e que essa
função não era dele.
No episódio do fator 8, o presidente da Pró-Sangue contra-ataca
lembrando que, em julho passado,
sugeriu a interdição do coagulante
Profilate. O produto já teria provocado 19 reações em pacientes.
"Estamos aguardando a investigação", diz Marcelo Pitta, presidente da Fundação do Sangue e
outro acusado no dossiê. As respostas da equipe estão documentadas por cópias de atas, correspondências, comunicados e portarias do Diário Oficial da União.
Questão moral
Pessoas que tiveram acesso ao
dossiê e que ouviram as argumentações de Chamone acham difícil
que alguma irregularidade venha a
ser encontrada. Para algumas delas, a questão não seria legal, mas
de cunho moral e ético.
Ao cercar-se de amigos e sócios
no Ministério da Saúde, e por estar
à frente de uma fundação que é referência em toda a América Latina,
Chamone teria um poder que não
consta em papel, mas que no mundo dos negócios contaria muito.
Como coordenador de Sangue e
Hemoderivados do ministério, cabia a Chamone determinar a quantidade e especificar os hemoderivados a serem comprados. Assim,
segundo o dossiê, embora as licitações fossem feitas pela Ceme (Central de Medicamentos), Chamone
acabava interferindo.
As relações entre a Fundação
Pró-Sangue e a Fundação do Sangue -a primeira ligada ao Estado
e a segunda, privada- também
são suspeitas, segundo o dossiê.
A Fundação do Sangue, por
exemplo, passou a representar a
Cruz Vermelha norte-americana e
acabou vencendo a concorrência
deste ano para fornecimento do fator 8 de ultra pureza. O caso ainda
está na Justiça.
"A compra da Cruz Vermelha
soma R$ 4,5 milhões e a Fundação
do Sangue ficará com 7%, o que
corresponde a R$ 300 mil", diz Pitta. "Significa uma pequena ajuda
para a Pró-Sangue, que tem um orçamento do SUS de R$ 4 milhões
por ano." A Fundação do Sangue,
segundo seus diretores, fatura R$
500 mil por mês, com serviços
prestados a hospitais privados.
O inquérito para apurar as denúncias do dossiê anônimo contra
Chamone foi aberto pela procuradora Geisa Rodrigues, do Rio de
Janeiro.
(AB e RK)
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