São Paulo, Sexta-feira, 12 de Novembro de 1999
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Mãe cria 11 com chiclete e esmola

da Reportagem Local

A mãe de T.S.V., a desempregada M.S., 36, sustenta 11 crianças vendendo chicletes e pedindo esmolas há mais de quatro anos, desde que seu marido foi assassinado com um tiro na cabeça no Jardim Ângela (zona sul).
"Não vou roubar nem me prostituir, até porque ninguém vai me querer. Então, o melhor é vender chiclete e pedir uma ajuda, pois dá quem quiser e pedir não envergonha a ninguém", disse ontem a desempregada.
Além de T., M. cria mais seis filhos, o filho recém-nascido da filha mais velha, de 17 anos, e três filhos do segundo casamento do primeiro marido, de quem se separou para viver com o pai de T.
Ela diz que a venda de chicletes e as esmolas rendem de R$ 3 a R$ 20 por dia e que leva sempre as crianças para ajudá-la. "Às vezes levo duas, às vezes cinco, como ontem (anteontem)", disse.
M. conta que o pai de T. e de outros quatro de seus filhos era "garçom em hotel cinco estrelas" e conseguia sustentar a todos com o emprego, além de deixar para a família uma casa.
"Mas, depois que ele morreu, eu tive que deixar o emprego para cuidar das crianças e reservo o final do dia para ir vender chicletes. Passo só quatro horas no farol porque assim acho que não canso muito as crianças que têm que estudar", conta Magali.
Ela afirma que T., além do dinheiro que consegue cuidando dos carros, fez muitas amizades entre clientes do supermercado e que muitos deles ajudam também com mantimentos.
A casa em que mora com os filhos tem dois quartos, cozinha e banheiro. Há um fogão, geladeira e televisão, mas não há camas para todos.

Comida
"O mais importante é a comida. Eles têm que comer bastante para conseguir estudar e serem alguém na vida. O Pit (apelido de T.) diz que quer ser engenheiro."
Apesar de não ter renda fixa, M. diz ter melhores condições que o ex-marido (pai da filha mais velha) e por isso cuida de três filhos do segundo casamento dele.
"Aquele não tem onde cair morto e, depois que a mulher dele morreu, eu não pensei duas vezes em ajudá-lo", conta.
Perguntada se pediria indenização ao Pão de Açúcar, M., que só sabe assinar o nome, disse não saber do que se tratava. Ao lhe explicarem o que era a indenização, disse que não poderia arcar com um processo.
Apesar de achar que o que foi feito com seu filho é uma "coisa sem explicação, porque ele não fez coisa errada", M. diz que não guarda mágoa do segurança. "Eu não desejo o mal para ele não. Espero que ele possa trabalhar e ser um cidadão de bem", disse. (MO)

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