da Reportagem Local

T.S.V. disse que teve medo de morrer na câmara fria do Pão de Açúcar e que fazia um aviãozinho de papel para brincar no momento em que foi pego na porta do supermercado. Ele estuda de manhã e acompanha a mãe à noite, quando ela sai para vender chicletes e pedir esmolas.

Folha - O que você fazia na frente do supermercado?
T.S.V. - Estava terminando de fazer um aviãozinho de papel para brincar. Daí o Cabral (segurança) veio, me pegou pelo braço e me levou para dentro do frigorífico.

Folha - Ele fez isso porque você estava pedindo esmolas?
T. - Eu não peço esmola. Eu olho carros lá e todo mundo me conhece. Outros dois seguranças já me conhecem e nunca fizeram nada.

Folha - Mas você pede dinheiro para as pessoas?
T. - Não. Eu chego para as pessoas e pergunto: "Posso olhar o carro?" Quando a pessoa volta, eu pergunto: "Sobrou uma moeda?". A pessoa dá se quiser.

Folha - O segurança te falou por que fez aquilo?
T. - Não.

Folha - Quanto tempo você acha que ficou na câmara fria?
T. - Meia hora. Eu fiquei com muito frio, minha orelha parecia que tava cortada.

Folha - Quem tirou você de lá?
T. - Quando deu a hora, ele (o segurança) me tirou.

Folha - Como era dentro da câmara?
T. - Era frio para caramba. A porta parecia a de um cofre, e eu não conseguia ver o lado de fora. Dentro tinha luz, e as carnes pareciam pedras.

Folha - Alguém mais no supermercado viu?
T. - Antes de me colocar no frigorífico ele perguntou para um funcionário que arrumava umas frutas (T. não sabe o nome dele) o que deveria fazer comigo. O cara falou "coloca ele no freezer". O Cabral perguntou por quanto tempo e o outro disse "meia hora, porque ele é fortinho".

Folha - Você teve medo?
T. - Fiquei com medo de morrer lá dentro. (MO)

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