São Paulo, Sexta-feira, 12 de Novembro de 1999
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Passageira culpa comandante do barco

JAIRO MARQUES
da Agência Folha

Todos os 58 sobreviventes do naufrágio no rio Solimões foram levados para Coari (cerca de 346 km a oeste de Manaus). Os sobreviventes com os quais a Agência Folha falou por telefone afirmaram que o barco Capitão Pinheiro 2 estava muito cheio e com muita carga.
Maria Luciene dos Santos Mendes, 28, perdeu uma menina de 2 anos e um bebê de 6 meses.
"O comandante do navio vinha bebendo. Todo mundo viu. Ele não teve responsabilidade", afirmou Maria Luciene.
Ela disse que estava dormindo na hora do acidente e não teve como salvar a vida das duas filhas, que se perderam na água. "Perdi minhas filhas, mas consegui ajudar uma senhora e uma criança."
Reicivam da Silva Lopes, 21, disse que "tinha de tudo" no barco. "Vi muita galinha, muitas caixas de cerveja e até algumas motos. A pancada foi muito forte. Eu fui jogado da rede onde estava dormindo", afirmou. Ele embarcou sozinho em Manaus e mora com a família em Tefé.
Lopes contou que não teve condições de ajudar ninguém. "Não deu. Tive de me agarrar em umas caixas de isopor para conseguir viver. Eu via crianças e muita gente gritando, mas, infelizmente, não pude fazer nada."
Segundo o relato dos sobreviventes, o barco demorou cerca de cinco minutos para ficar completamente submerso. A água do rio Solimões estava muito turva. As vítimas disseram estar com a sensação de que havia óleo na água. As pessoas não conseguiam agarrar-se com firmeza a objetos nem umas nas outras.
"Foi muito rápido e muito horrível. É difícil de falar. Graças a Deus, consegui salvar a minha filha", declarou Rosileide Satiro Seadra, 36.
Um sargento do Exército, que disse não ter autorização para se identificar, viu uma criança de cinco anos se afogar bem próximo a ele.
"Estava em um camarote com minha filha e minha mulher. Quando ouvi o estrondo, peguei as duas e um menino que chorava muito. Conseguimos sair do barco e pegar uma bóia. Eu pedi a todos que se agarrassem a mim. Infelizmente o menino não conseguiu manter a cabeça fora d'água", disse o sargento.
O menino era Ricardo Lima Souza, 5. Seu corpo já foi encontrado. Ele viajava com a mãe, Lucimara Lima de Souza Miranda.


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