São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2000
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Muita malhação reduz o crescimento SAÚDE DA REPORTAGEM LOCAL Apesar de disseminados até em propagandas de cerveja, apelidos como "baixinho", "tampinha" ou "nanico" talvez não sejam exatamente uma prova de carinho para os 5% de brasileiros que têm fatores para baixa estatura, sem contar a desnutrição crônica de parte da população. Para deixar de ser o primeiro da fila na escola e escapar dos gracejos de amigos e colegas ou daquele tio chato dos domingos, crianças e jovens se submetem a exercícios físicos, remédios, hormônios e outras "receitas milagrosas". Os médicos, no entanto, alertam mesmo os que estão crescendo normalmente: exercício físico em excesso e musculação, ao invés de ajudar, atrapalham o processo de crescimento. Além disso, os endocrinologistas chamam a atenção: poucos casos precisam realmente de tratamento hormonal; os chamados complementos alimentares são discutíveis; e os hormônios anabolizantes, venenos. "A criança e o adolescente atletas precisam de acompanhamento médico e nutricional. Afinal, cinco ou seis horas de exercícios diários exigem uma reposição alimentar adequada, senão o crescimento será prejudicado", diz o endocrinologista Amélio Matos Godoy, 49, presidente SBE-RJ (Sociedade Brasileira de Endocrinologia, seção Rio de Janeiro). O pediatra Luiz Anderson Lopes, 38, professor de nutrição e metabolismo na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), explica que, ao comer de menos e se exercitar demais, a pessoa terá um déficit energético. Ou seja, vai faltar reserva de energia para o crescimento. "Mas também não adianta comer feito um desesperado. O mais importante é uma alimentação balanceada e com acompanhamento médico", explica Lopes. "Complementos, como aminoácidos e proteínas, podem desequilibrar a dieta. Esqueça os anabolizantes; é suicídio", diz ele. Segundo Lopes, o ideal, na fase de crescimento, são cinco refeições diárias: café da manhã, lanche, almoço, lanche e jantar. A musculação só é recomendada para quem já terminou o crescimento ósseo, o que pode ser confirmado por uma radiografia. Nos adolescentes em crescimento, o acelerado desenvolvimento muscular pode criar resistência para o aumento dos ossos. É como se o músculo hipertrofiado (desenvolvido na musculação) segurasse as pontas do osso. "Presos às cartilagens de crescimento nas extremidades dos ossos, os músculos tensionam os ossos, que crescem menos; em vez de ficarem longos, ficam largos. Também há lesão na cartilagem", explica Lopes. "Popularmente se diz que o sujeito fica "atarracado"." "Mas não é para abandonar os exercícios. Sem excessos, natação, bicicleta, corrida, futebol, ginástica... só tendem a ajudar. Exercícios físicos regulares, sono adequado e bom ambiente familiar são fatores que ajudam a crescer", diz a endocrinologista Nuvarte Setian, 60, chefe da unidade de endocrinologia pediátrica do Hospital das Clínicas. "Família desestruturada e carência afetiva também podem atrapalhar", diz a médica. Os grandes afetados pela baixa estatura, no entanto, ainda são os pobres. Em todo o mundo, a primeira causa de déficit de crescimento é a desnutrição. "A baixa estatura dos desnutridos é um fenômeno adaptativo do organismo", explica Godoy, da SBE-RJ. "Toda vez que a criança tem um déficit alimentar, "quem paga" é o crescimento, que recebe menos energia", diz ele. "O corpo privilegia órgãos vitais, como o cérebro e o fígado, cuja falência levaria à morte." Um fator de baixa estatura para o qual há poucos recursos é o constitucional ou familiar -altura herdada dos pais. Segundo a professora de endocrinologia da Faculdade de Medicina da USP Mirta Knoepfelmacher, 50, há estudos que apontam ganhos com o uso de hormônio do crescimento. Texto Anterior: Melhora de ambiente depende de profissionais Próximo Texto: Hormônio é para usos específicos Índice |
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