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ANÁLISE
Desafio da inclusão digital passa pela educação
JORGE WERTHEIN
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os dados do IBGE sobre
acesso à internet e posse de telefone móvel para uso pessoal
confirmam: a inclusão digital
ainda é um desafio sob vários
aspectos no Brasil.
O primeiro, obviamente, diz
respeito à ampliação do acesso.
Esse, felizmente, parece estar a
caminho da superação, pois aumenta significativamente o número de usuários de internet e
aparelhos celulares no país.
Outro, semelhante, mas não
idêntico, refere-se à universalização do acesso. Segmentos populacionais específicos, como
pessoas idosas, menos escolarizadas ou ambas, ainda figuram
como minoria entre os usuários. E permanece o contraste
acentuado entre regiões: o Norte, por exemplo, detém percentual de usuários da internet de
apenas 27,5%, enquanto o Sudeste conta com 40,3%.
Finalmente, cabe salientar o
aspecto referente ao motivo de
uso da rede. A comunicação entre as pessoas aparece na pesquisa como o principal, superando os fins educacionais e de
aprendizado, em terceiro lugar.
Daí a importância de programas que operem em diversas
frentes. A facilitação do acesso
deve estar acompanhada da
preocupação com a formação.
Se há 65% de pessoas com dez
anos ou mais de idade sem
acesso à internet no Brasil, e isso merece atenção e providências, também é fato que os 35%
que integram a comunidade
virtual nem sempre sabem
aproveitá-la adequadamente.
Tirar o devido proveito da
tecnologia pode ser um desafio
tão grande quanto ou maior do
que ter acesso a ela. Para superá-lo, o papel da educação (leia-se escola) é fundamental, a começar pela própria inclusão e
capacitação dos professores
nas novas tecnologias.
Quanto aos estudantes, a inserção de uma disciplina como
tecnologia da informação no
currículo certamente contribuiria para a formação de usuários mais conscientes e aptos a
maximizar o aproveitamento
de ferramentas como a internet
e os celulares.
Na atual era do conhecimento, é preocupante que a educação esteja perdendo espaço para a comunicação interpessoal
(ainda que essa também seja de
extrema importância) e o lazer
na rede mundial de computadores. Esse talvez seja um indício de que a escola ainda não está suficientemente integrada às
novas tecnologias e, com isso,
as esteja subaproveitando.
Portanto, torna-se cada vez
mais relevante a educação em
ciência e tecnologia desde a infância. Ao ritmo em que avança
a sociedade contemporânea,
em termos de desenvolvimento
científico-tecnológico, relegar
esse tipo de formação a segundo plano representa prejuízo
em diversos níveis tanto para
indivíduos quanto para nações.
JORGE WERTHEIN é doutor em educação pela
Universidade Stanford (EUA), ex-representante
da Unesco no Brasil e vice-presidente da Sangari
Brasil.
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