São Paulo, domingo, 13 de março de 2011

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Igreja Céu de Maria presta homenagem a cartunista

ELIANE TRINDADE
DE SÃO PAULO

Clint Bernardes, ex-garoto de rua, e Roberta Orsini, ex-estudante de filosofia, estavam entre as 300 pessoas que lotaram a Igreja Céu de Maria na última quinta para celebrar o aniversário de Glauco Vilas Boas, fundador do culto que segue os ritos do Santo Daime em um sítio em Osasco, a 20 km do centro de SP.
Na noite de ontem, eles voltariam a se reunir no mesmo templo para uma celebração pela morte do cartunista.
Glauco foi assassinado em 12 de março de 2010, dois dias depois de completar 53 anos, com o filho Raoni, 25.
Para Clint, 31, e Roberta, 45, o autor de personagens como Geraldão, Casal Neuras, Doy Jorge, entre outros imortalizados nas tirinhas publicadas pela Folha, era um misto de mestre espiritual e terapeuta. "Estou viva por causa dele", diz Roberta.
Ela diz ter se livrado há 12 anos da cocaína graças a doses do bom humor de Glauco e do chá de ayahuasca.
Foi a busca por tratamento para o mesmo vício com a utilização da mesma bebida que levou o assassino confesso Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 24, até a igreja de Glauco. O caso despertou uma polêmica sobre o uso da ayahuasca, considerada "sagrada" pelos daimistas e "droga pesada" para alguns.
A utilização do chá no contexto religioso é autorizada pelo Estado desde 1987.

SONHO
Assim como Roberta, Clint diz que Glauco foi essencial na sua luta contra o crack.
Ele ajudou o cartunista a erguer o templo construído ao lado da casa onde Glauco vivia com a família e foi morto com quatro tiros.
No começo, afirma, aceitou de má vontade o convite para acompanhar um "trabalho com um pessoal da floresta". Depois, diz ter conseguido se livrar do crack com a ajuda de Glauco.
"Glauco me dizia: "Clintinho, tive um sonho com você. A gente tava em um carro numa subida e começamos a atolar". E eu ficava feliz de saber que eu estava nos sonhos dele", conta Clint.

MEMÓRIA
Ainda despertando do pesadelo, a viúva de Glauco se dedica à preservação da memória do cartunista.
"Ele deixou um legado grande, tanto material quanto espiritual", afirma a artista plástica Beatriz Galvão, na varanda da casa, onde recebeu na última semana parentes, amigos e fãs para celebrar a vida e a morte do pai do Geraldão.


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