São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CPI decide convocar suspeitos do Pará

da Reportagem Local

Quatro pessoas citadas como integrantes de uma quadrilha responsável pela rota brasileira do tráfico de armas e drogas entre a Colômbia e o Suriname serão convocadas a depor pela CPI do Narcotráfico. Os depoimentos devem ocorrer em Brasília, depois que a CPI passar pelo Espírito Santo e por Goiás.
Os citados são um capitão da PM, um empresário de telecomunicações, um vereador e um prefeito de Itaituba (sul do Pará).
A Folha informou ontem que os quatro foram acusados pelo mecânico J.R.P., 34, de fazer a conexão da carga entre os países de origem e destino usando uma pista de pouso clandestina nas proximidades do 15º. Batalhão da Polícia Militar do Pará, que fica na cidade de Itaituba.
O mecânico foi ouvido pela CPI em sessão fechada e está tendo a identidade mantida em sigilo, mas a Folha teve acesso a um documento que resume as declarações que ele deu aos parlamentares federais durante a sessão.
O mecânico afirma que morou dois anos no 15º Batalhão da PM paraense -entre o final de 96 e o final de 98- porque havia testemunhado um duplo homicídio e estava sob proteção.
Nesse período, afirma, ele testemunhou diversas vezes aviões fazerem vôos rasantes sobre o quartel. Quando isso acontecia, o capitão , Dilson Barbosa Soares Júnior determinava que alguns soldados -em geral, os mesmo- fossem buscar a mercadoria na "pista do Zezão do Abacaxi".
Os soldados, diz o mecânico, costumavam voltar cerca de uma hora depois com uma camionete Toyota carregada com centenas de pacotes de um quilo de cocaína vindo da Colômbia. A testemunha diz que descarregou a droga algumas vezes, guardando os pacotes no almoxarifado do quartel.
De lá, diz o rapaz, a droga seguia em carros do empresário Valmir Climico (dono da TV Liberal) para a serralheria dele, de onde partia de balsa para Belém, camuflada entre cortes de madeira. A operação era assistida por um vereador conhecido como Peninha e pelo então prefeito de Itaituba, Edílson Botelho.
A droga seguia para os Estados Unidos e para Atibaia (SP), onde era distribuída para diversas cidades, entre elas São Paulo e Rio.

Fachada
Em Atibaia, ela era recebida pelo empresário Odarício Ribeiro Neto, dono da empresa União Aviação, suspeita de servir de fachada para esquemas de adulteração de aeronaves e agenciamento de pilotos que serviriam ao narcotráfico internacional.
O empresário chegou a ser convocado a depor pela CPI estadual que investiga o crime organizado, mas fugiu e continua foragido. No hangar da União, os deputados estaduais encontraram um avião com prefixo adulterado.
Ontem, o empresário Euclides Tada, dono de uma empresa aérea que opera o hangar vizinho à União em Atibaia, afirmou ter "ouvido falar" que Ribeiro Neto "esquentava aviões".
Euclides Tada também é suspeito de estar envolvido no esquema, pois dois aviões que foram reformados por ele foram apreendidos com armas e drogas.

Farc
O mecânico disse que a droga era paga com armas que abasteciam as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Os aviões com as armas, de acordo com ele, viriam do Suriname e faziam o trajeto inverso -Atibaia-Belém-Itaituba- dias antes da chegada dos aviões que levavam a droga. O mecânico afirma que descarregou as armas duas vezes.
Se aparecerem para depor, os acusados devem ser acareados com a testemunha.
A CPI do Narcotráfico desconfia, porém, que o mecânico tinha uma relação maior com o esquema, pois sugere saber mais do que seria possível para um simples protegido.


Texto Anterior: Narcotráfico: Seis policiais são libertados no Rio
Próximo Texto: Acusados descartam denúncia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.