|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CPI decide convocar suspeitos do Pará
da Reportagem Local
Quatro pessoas citadas como
integrantes de uma quadrilha responsável pela rota brasileira do
tráfico de armas e drogas entre a
Colômbia e o Suriname serão
convocadas a depor pela CPI do
Narcotráfico. Os depoimentos
devem ocorrer em Brasília, depois que a CPI passar pelo Espírito Santo e por Goiás.
Os citados são um capitão da
PM, um empresário de telecomunicações, um vereador e um prefeito de Itaituba (sul do Pará).
A Folha informou ontem que os
quatro foram acusados pelo mecânico J.R.P., 34, de fazer a conexão da carga entre os países de
origem e destino usando uma pista de pouso clandestina nas proximidades do 15º. Batalhão da Polícia Militar do Pará, que fica na cidade de Itaituba.
O mecânico foi ouvido pela CPI
em sessão fechada e está tendo a
identidade mantida em sigilo,
mas a Folha teve acesso a um documento que resume as declarações que ele deu aos parlamentares federais durante a sessão.
O mecânico afirma que morou
dois anos no 15º Batalhão da PM
paraense -entre o final de 96 e o
final de 98- porque havia testemunhado um duplo homicídio e
estava sob proteção.
Nesse período, afirma, ele testemunhou diversas vezes aviões fazerem vôos rasantes sobre o quartel. Quando isso acontecia, o capitão , Dilson Barbosa Soares Júnior
determinava que alguns soldados
-em geral, os mesmo- fossem
buscar a mercadoria na "pista do
Zezão do Abacaxi".
Os soldados, diz o mecânico,
costumavam voltar cerca de uma
hora depois com uma camionete
Toyota carregada com centenas
de pacotes de um quilo de cocaína
vindo da Colômbia. A testemunha diz que descarregou a droga
algumas vezes, guardando os pacotes no almoxarifado do quartel.
De lá, diz o rapaz, a droga seguia
em carros do empresário Valmir
Climico (dono da TV Liberal) para a serralheria dele, de onde partia de balsa para Belém, camuflada entre cortes de madeira. A operação era assistida por um vereador conhecido como Peninha e
pelo então prefeito de Itaituba,
Edílson Botelho.
A droga seguia para os Estados
Unidos e para Atibaia (SP), onde
era distribuída para diversas cidades, entre elas São Paulo e Rio.
Fachada
Em Atibaia, ela era recebida pelo empresário Odarício Ribeiro
Neto, dono da empresa União
Aviação, suspeita de servir de fachada para esquemas de adulteração de aeronaves e agenciamento
de pilotos que serviriam ao narcotráfico internacional.
O empresário chegou a ser convocado a depor pela CPI estadual
que investiga o crime organizado,
mas fugiu e continua foragido. No
hangar da União, os deputados
estaduais encontraram um avião
com prefixo adulterado.
Ontem, o empresário Euclides
Tada, dono de uma empresa aérea que opera o hangar vizinho à
União em Atibaia, afirmou ter
"ouvido falar" que Ribeiro Neto
"esquentava aviões".
Euclides Tada também é suspeito de estar envolvido no esquema,
pois dois aviões que foram reformados por ele foram apreendidos
com armas e drogas.
Farc
O mecânico disse que a droga
era paga com armas que abasteciam as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Os aviões com as armas, de
acordo com ele, viriam do Suriname e faziam o trajeto inverso
-Atibaia-Belém-Itaituba- dias
antes da chegada dos aviões que
levavam a droga. O mecânico afirma que descarregou as armas
duas vezes.
Se aparecerem para depor, os
acusados devem ser acareados
com a testemunha.
A CPI do Narcotráfico desconfia, porém, que o mecânico tinha
uma relação maior com o esquema, pois sugere saber mais do que
seria possível para um simples
protegido.
Texto Anterior: Narcotráfico: Seis policiais são libertados no Rio Próximo Texto: Acusados descartam denúncia Índice
|