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A FALA DOS GESTOS
Promessas e planos fazem parte do relacionamento
da Reportagem Local
O "amor bandido" entre os moradores das penitenciárias do Estado e Feminina é permeado de promessas e planos para o futuro.
Aparentemente, as mulheres são
as mais sonhadoras. "A gente tem
planos de ficar juntos quando formos soltos", diz Ivone de Oliveira,
31, que abana há seis meses com
Carlos, 48, preso há 28 anos por
homicídio e assalto.
Condenada a 12 anos por homicídio, Ivone já cumpriu 8 anos da
pena e espera sair logo da prisão.
Carlos, condenado a 58 anos, será
libertado em no máximo 2, já que
ninguém pode ficar preso no Brasil
por mais de 30 anos.
Carlos jura que ama Ivone, mas
afirma não saber se ficarão juntos
de verdade algum dia. "Eu não a
conheço", diz. Além disso, Carlos é
cético: "Muitas mulheres dizem
que virão visitar seus abanos
quando saírem da penitenciária,
mas nunca aparecem".
Em 28 anos de prisão, Carlos já
abanou muito e diz que foi pego
"na marra" por Ivone. "Ela me interditou e não deixou eu abanar
com mais ninguém."
Visita da sogra
Silvana Nascimento Silva e Marcelo parecem ter planos mais concretos para o futuro -apesar da
aliança que ele usa na mão esquerda para marcar um relacionamento de oito anos com outra mulher.
No domingo, a mãe de Marcelo
vai conhecer Silvana na prisão. "Se
a outra pedir que eu a largue, eu
não largo", diz ele.
Marcelo afirma que está apaixonado e que visitará Silvana na prisão quando conseguir passar para
o regime semi-aberto -o que deve
ocorrer nos próximos meses. Por
esse sistema, o preso pode sair da
prisão durante o dia.
Em sua cela, Silvana tem fotos de
Marcelo e da filha dele, Michele.
Também há fotos de sua mãe e de
seus dois filhos, Leandro, 4, e
Luan, 6, além de um diploma de
"mãe maravilhosa" enviado por
Marcelo no Dia das Mães. "A gente
fala em casar quando sair da prisão", diz Silvana.
Telma Maria de Jesus, namorada
de Antônio Carlos, tenta não fazer
planos. "Ele diz que eu sou a louca
paixão da vida dele, mas eu não
acredito muito, não", afirma.
Antônio Carlos é o terceiro abano de Telma. Os dois anteriores foram libertados, mas não foram vê-la. Um, porque era casado. O outro, ela não sabe a razão. "A gente
vive de promessas. A gente não pode ter planos enquanto está aqui."
Com ou sem promessas, os namorados da prisão tentam fazer
tudo o que fazem os que estão fora
dela -inclusive sexo, ainda que
virtual. "A gente se ama ali no pano. Só não tem o calor humano",
diz Marcelo. "Até amor no corpo a
gente faz com o abano", completa
Antônio Carlos.
Ivone explica que o pano usado
no abano representa o corpo do
outro. Se beija o pano, é como se
estivesse beijando o namorado,
afirma.
As palavras formadas com o abano são fundamentais para a "prática" do sexo. "Ele fala o que quer fazer comigo e eu falo o que eu quero
fazer com ele", conta Ivone.
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