São Paulo, Domingo, 13 de Junho de 1999
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CIDADÃS
Cecília Lotufo diz que símbolo da CPI deve tomar cuidado com o que fala porque ela representa "todo mundo"
Musa do impeachment aconselha
musa da CPI

ALESSANDRA BLANCO
da Reportagem Local

Cecília Lotufo, 24, é administradora de empresas, está estudando inglês na ilha de Malta, no Mediterrâneo, e organizando festas latinas na escola para "levantar uma grana" que vai financiar mais alguns meses de sua viagem pela Europa.
Pamela Marcondes, 10, é estudante do colégio Objetivo de São Miguel Paulista (zona leste de São Paulo), sonha em ser política, mas não tem frequentado a escola há duas semanas por causa de seus "compromissos políticos" e, nesta semana, vai ao Rio de Janeiro "fazer um teste na Globo".
A primeira foi, há sete anos, a musa dos caras-pintadas e suas manifestações a favor do impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello.
A segunda virou o símbolo da CPI que apurou a corrupção em São Paulo ao escrever uma cartinha apoiando as investigações e, depois, ao chamar de ladrões os vereadores Wadih Mutran e Brasil Vita, ambos do PPB.
Mais "experiente", Cecília hoje avalia que tanto o seu trabalho na ocasião do impeachment como a posição de Pamela hoje são muito importantes.
"O Brasil é um país que precisa descobrir que tem força para mudar. Não que eu ou essa menina fôssemos fundamentais. O ideal é que as pessoas percebessem o quão importante é essa CPI, por exemplo, e não precisassem de uma menininha bonitinha e engraçadinha para chamar a atenção para isso. Mas, por enquanto, talvez ter essa menina ainda é necessário", diz.
Cecília, no entanto, diz que aprendeu na prática e aconselharia Pamela a tomar cuidado com tudo aquilo que fala para jornais e revistas ou em manifestações.
"Como eu, quando era a "musa do impeachment", ela é agora a única pessoa do povo que tem acesso à imprensa e pode falar o que quiser. Então, precisa tomar cuidado com o que fala porque está representando o interesse de todo mundo", disse.
Para ela, é fundamental que Pamela -e sua família- tome cuidado com as pessoas com quem está lidando para não acabar tendo sua imagem associada a algo em que não acredita.
Participar de uma propaganda na TV ou ser contratada pela Globo, por exemplo, dois dos atuais interesses da família de Pamela e que Cecília classifica como "sair do fundamental para o comercial", é permitido, desde que ela deixe claro que é "uma outra história", que não está ligada ao que vinha representando até então.

Política
Cecília por muito tempo ainda foi parada na rua, reconhecida como "musa do impeachment", deu entrevistas para programas de TV com temas que versavam desde namoro até vestibular e recebeu telefonemas de desconhecidos que queriam opinar sobre o que ela deveria falar na TV e até ameaçá-la.
Membro do Comitê da Juventude Petista já antes de virar musa do impeachment, ela chegou a participar do programa político do PT na televisão, foi jantar com o líder do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, mas, diferentemente de Pamela, não quer nem pensar em "entrar para a política".
"Adoro discutir política e lideraria outro movimento se necessário, mas, me envolver, não", diz.
Depois do impeachment, Cecília voltou aos estudos, formou-se em administração de empresas, trabalhou na área de marketing da NET, largou tudo, arrendou sozinha um hotel no sul da Bahia que não tinha nem energia elétrica e, há dois meses, viajou para a ilha de Malta, de onde falou à Folha por telefone. Hoje, ela vai começar uma viagem pela Europa.
"Há uma ganância muito grande nessas pessoas que lidam com política e isso me machuca, sou muito emocional. Acho que o importante, tanto para mim quanto para a Pamela, é continuarmos com nossas crenças e lutarmos por elas."


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