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São Paulo, domingo, 13 de julho de 2003

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Operação para reconstituir seio reduz trauma

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Elvira Cairo (dir.) e Tânia Vairo (esq.) fizeram cirurgia estética; Angela Stolf não acha isso prioridade


DA REPORTAGEM LOCAL

O fantasma da mutilação está cada dia mais distante das mulheres submetidas a uma mastectomia (retirada da mama), cirurgia necessária em 60% dos casos de câncer de mama atendidos pelo Instituto Nacional do Câncer.
Mais de 90% das mulheres que perdem suas mamas para o câncer já poderiam da cirurgia com um novo seio reconstituído por um cirurgião plástico, segundo o oncologista José Luiz Bevilacqua.
Estudos mostram que a falta da mama acarreta perda da auto-estima e leva muitas mulheres à depressão, o que dificulta o tratamento. "Retirar a mama foi uma experiência muito dolorida, mas poderia ter sido mais traumatizante se tivesse saído da sala de cirurgia sem o seio", diz a psicóloga Elvira Cairo, 41, que descobriu o câncer na mama direita em 2002.
A reconstituição foi feita com músculo e gordura do abdome. "Só eu percebo a reconstituição."
Segundo o mastologista Mário Mourão Neto, do Hospital do Câncer, mulheres que fumam muito têm uma irrigação sanguínea deficiente e são contra-indicadas para a reconstituição imediata. "Também é preciso ter a necessária segurança de que o tumor não voltará ou que não haverá disseminação da doença."
A reconstituição mamária é paga pelo SUS e pelos planos de saúde, conforme determinação da lei federal nš 10.223/01.
De acordo com o cirurgião plástico Gustavo Gibin Duarte, 33, a lei também garante a simetrização mamária, cirurgia feita nos casos em que, após a retirada do tumor, uma mama fica menor que a outra. "Não é raro pacientes saírem do pós-operatório sentindo-se melhor que antes", diz.
A administradora de empresa Tânia Vairo, 41, que teve um câncer de mama diagnosticado em março último, concorda. Ela fez uma cirurgia conservadora-em que 1/4 da mama foi retirado. "Hoje nem dá mais para perceber qual a mama que estava com problema. Ficou muito bom", afirma.
Vairo fazia a prevenção do câncer, com mamografia anual, desde os 35 anos por ter histórico familiar -há dez anos, sua mãe morreu de câncer de mama. Depois da cirurgia, fez sessões de radioterapia. Na próxima semana, inicia a quimioterapia.
Há dois tipos mais comuns de reconstituição. O primeiro é feito com o próprio tecido da paciente.
O procedimento consiste primeiramente em colocar, por baixo do músculo peitoral, um expansor semelhante a uma prótese vazia, que receberá injeções de soro fisiológico. Com isso, o tecido vai expandindo gradualmente, até atingir o volume desejado. Posteriormente, ele é retirado para a colocação da prótese.
No outro tipo de cirurgia, a reconstituição envolve a transposição dos músculos do abdome ou das costas. A partir desses tecidos, o cirurgião "molda" uma mama.
Nos dois casos, a aréola e o bico do seio são reconstituídos em uma cirurgia posterior, depois de a mulher concluir os tratamentos de quimioterapia e radioterapia.
Para reconstituir a aréola, o recurso é uma tatuagem definitiva ou enxerto de pele da dobra da coxa. Para o bico, usa-se um pedacinho do bico da outra mama.
A psicóloga Elvira Cairo planeja fazer a reconstituição da aréola e do bico neste ano. Divorciada e mãe de três filhos-de 13, 15 e 17 anos-, ela tem um novo namorado. "Reencontrei prazer na vida. Estar bem emocionalmente ajuda em muito na recuperação."
A terapeuta neuromuscular Angela Gláucia De March Stolf, 53, decidiu não fazer a reconstituição da mama por não considerá-la prioridade agora. "Sempre tive seios lindos e sabia que nunca ficariam iguais", afirma.
A decisão também foi baseada, diz ela, no tempo a mais de cirurgia e nos riscos que teria de enfrentar na reconstituição- em alguns casos, há chances de o tecido transplantado necrosar. "Não me vejo mutilada", diz. (CC)


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