São Paulo, domingo, 13 de agosto de 2000


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SAÚDE
Faltam tratamento e prevenção para a doença renal

ALCINO BARBOSA JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

Apenas 33% dos pacientes com insuficiência renal crônica recebem tratamento adequado para a doença. Os 67% restantes -cerca de 100 mil doentes- morrem antes mesmo de iniciar a diálise.
A estimativa é da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e faz parte de um dossiê sobre a realidade da doença renal crônica no país, que será divulgado no 20º Congresso Brasileiro de Nefrologia, no dia 22 de setembro.
A insuficiência renal crônica é a perda irreversível das funções dos rins. Suas causas principais, no Brasil, são diabetes, hipertensão arterial, inflamações e infecções dos rins (veja quadro ao lado).
Os tratamentos disponíveis para a doença (diálise e transplante) são considerados paliativos. "Eles não curam os doentes. Somente a prevenção é eficiente, porque evita ou retarda o surgimento da insuficiência", afirma João Egídio Romão Júnior, supervisor da Unidade de Diálise do Hospital das Clínicas de São Paulo.
No entanto, o destino principal das verbas de saúde tem sido o tratamento. "Os 45 mil pacientes em diálise no país consomem R$ 1 bilhão (5% do orçamento de saúde) e faltam recursos para a fase preventiva do atendimento", afirma João Cézar Mendes Moreira, presidente da SBN.
Segundo especialistas, a prevenção consiste em melhorar o atendimento aos doentes com diabetes, tratando adequadamente a doença, o que retarda o aparecimento da insuficiência renal.
Também é preciso diagnosticar os casos de hipertensão arterial desconhecidos e usar as medicações próprias para a doença, que evitam o surgimento do problema nos rins. Essas iniciativas são mais baratas do que o tratamento da insuficiência renal.
Existem 550 centros de diálise para pacientes da rede pública de saúde. "A qualidade do atendimento é de primeiro mundo na maior parte deles", diz Maria Almerinda Ribeiro Alves, professora de nefrologia da Unicamp.
Porém, com exceção dos centros universitários, as demais unidades de diálise recebem apenas os doentes que estão em estágio avançado da doença.
"É preciso transformar os centros de diálise em serviços completos de nefrologia, atendendo pacientes desde a fase inicial da doença. Como a quantidade de nefrologistas é pequena no país, a atuação dos centros de diálise em prevenção é fundamental", diz o presidente da SBN.
Além disso, a capacitação dos clínicos gerais não é suficiente para atender a todas as necessidades dos doentes renais crônicos.
"Se os centros de diálise fossem transformados em unidades de nefrologia, eles poderiam receber os pacientes que foram diagnosticados pelos postos de saúde, desenvolver um plano estratégico de tratamento e devolver os doentes para que os clínicos gerais dos postos de saúde continuem o atendimento baseado nesse plano", afirma Romão.



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