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Brasil debate legislação para a Aids
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil está iniciando um amplo debate sobre os instrumentos
legais relacionados à proteção e
aos direitos humanos dos portadores de HIV e doentes de Aids.
Até agora, a discriminação em
escolas e locais de trabalho é proibida por portarias interministeriais que podem ser revogadas a
qualquer hora. A pergunta, no caso, é se tais instrumentos devem
ou não ser transformados em lei e
se novos mecanismos de proteção
devem ser criados. A tarefa caberá
aos legisladores, com a participação das entidades organizadas de
toda a sociedade.
O debate foi iniciado ontem
com o lançamento, em Brasília,
do "Compêndio para Legisladores sobre HIV-Aids, Legislação e
Direitos Humanos". A publicação
traz informações sobre legislações, políticas públicas e direitos
humanos referentes ao HIV e
Aids em diferentes países.
"O compêndio permitirá aos legisladores e pessoas envolvidas
com o tema uma visão do que poderá ser modificado ou incluído
na legislação brasileira", diz Jorge
Werthein, representante da Unesco, instituição das Nações Unidas
para a educação. Com isso, a Aids
poderá ser a primeira epidemia a
ter legislação própria.
A publicação, que foi divulgada
em inglês no final do ano passado,
foi lançada no Brasil pela Unaids
(órgão da ONU para o combate à
Aids) e pela Coordenação Nacional de DST-Aids do Ministério da
Saúde, além da própria Unesco.
Os 4.000 exemplares serão distribuídos aos congressistas, a todos os deputados estaduais e às
ONGs que lidam com direitos humanos e Aids. O compêndio também será distribuído aos países
africanos de língua portuguesa,
onde a legislação sobre HIV-Aids
é ainda bastante rudimentar.
"O Brasil está bem munido
quando se trata de instrumentos
legais que dão proteção aos portadores de HIV e doentes de Aids. O
problema é que tais instrumentos
não são permanentes", diz Paulo
Teixeira, coordenador do Programa Nacional de Aids.
Teixeira cita o exemplo da portaria dos ministérios da Saúde e
da Educação que em 1992 proibiu
a discriminação de alunos com
HIV e Aids nas escolas depois do
"episódio Sheila Cortopazzi", que
teve a matrícula recusada numa
escola paulistana.
Em outras frentes, no entanto,
como nas Forças Armadas, o critério de seleção ainda exclui os soropositivos. E os programas de redução de danos, que trocam seringas com usuários de drogas,
ainda não contam com a proteção
de uma legislação federal.
Na prática, no entanto, o Judiciário tem seguido as portarias e
agido em defesa dos portadores
do HIV e doentes de Aids, observa Paulo Teixeira.
(AURELIANO BIANCARELLI)
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