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Transferência é vista como paliativo
DA REPORTAGEM LOCAL
O isolamento de Fernandinho Beira-Mar e de líderes de facções criminosas e a transferência deles para presídios de fora do Rio de Janeiro são medidas paliativas defendidas por alguns especialistas, que encontram respaldo na legislação mas estão longe de representar a solução do problema.
Os juristas Luiz Flávio Gomes e Dalmo Dallari dizem que, por
motivos de interesse público, esses presos podem ficar fora do Estado onde foram condenados e de moradia dos familiares, contrariando a recomendação da lei.
"O preso fica preferencialmente onde foi condenado por razões
processuais e para facilitar a ressocialização. Mas a lei brasileira
não prevê obrigatoriedade absoluta", diz Gomes. "O isolamento
pode ter efeitos, desde que não se permita a corrupção, a utilização
do celular", afirma Dallari.
O coordenador do Núcleo de
Estudos da Violência da USP, Sérgio Adorno, avalia que a ação dos
presos em Bangu 1 era previsível.
"Se você coloca no mesmo presídio quatro ou cinco lideranças de
facções diferentes, sabe que alguma coisa boa não vai acontecer",
afirma. "[A transferência] ajuda, mas não é uma solução definitiva.
O Beira-Mar deveria ficar isolado para que as autoridades do Rio tivessem um tempo de elaborar um programa de inteligência eficaz
para neutralizar essas coisas", diz.
Michel Misse, coordenador do
Núcleo de Estudos da Cidadania,
Conflito e Violência Urbana da
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro), avalia que os problemas se repetiriam em outros
lugares.
"Beira-Mar e outros traficantes
dependem da oferta de mercadorias políticas por agentes do Estado. Enquanto não forem cortadas
essas relações perigosas, a acumulação social da violência não
encontrará limites. Acho difícil
que haja algum lugar nesse país
que se encontre a salvo desse tipo
de transação, principalmente
quando a moeda de troca inclui
ameaças de morte à família dos
agentes penitenciários ou a corrupção com muito dinheiro."
O presidente nacional da OAB,
Rubens Approbato Machado, defendeu uma reforma que não se limite à transferência de presos.
"De que serve uma repressão policial, judicial, se eles transformaram as celas em escritórios do crime? Está na hora de reestudar a
própria estrutura do Estado. Não
é só tirar o sofá da sala para a mulher não trair mais no sofá."
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