São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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SAÚDE

Tratamento com ondas de alta energia evita cirurgia em vítimas de tendinites, calcificações e outras lesões

Choque trata doença ortopédica crônica

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Durante dois anos, a empresária Lídia Lui, 67, sofreu com um esporão no calcanhar, que a impedia de caminhar, de dançar e, no fim, até de se levantar da cama e apoiar o pé no chão.
Em razão do problema, ela consultou vários médicos, tomou incontáveis antiinflamatórios e fez outras tantas aplicações de corticóide. Em fevereiro deste ano, Lídia foi submetida a um tratamento com ondas de choque, que durou cinco minutos.
"Dois dias depois, eu estava em um baile, dançando a noite toda com um salto de sete centímetros", afirma a empresária.
O tratamento "milagroso" é a nova arma que ortopedistas estão usando para tratar pacientes vítimas de tendinites, calcificações no ombro e dores crônicas no calcanhar e no joelho, entre outras lesões ortopédicas, sem a necessidade de cirurgia.
Estima-se que 70% dos pacientes que recorrem a consultórios de ortopedia se queixam de problemas desse tipo.
Chamado de ortotripsia, o tratamento consiste na emissão de ondas de alta energia no local lesionado. É muito semelhante à técnica utilizada pelos urologistas para dissolver pedras nos rins.
As ondas de energia passam através dos tecidos moles e, no local inflamado, dissipam-se e estimulam o tecido a liberar substâncias antiinflamatórias, regenerando-o e ativando os mecanismos de defesa do corpo.
Segundo médicos que estão utilizando o tratamento, de cada quatro pacientes de casos crônicos, que, teoricamente, só teriam chances de cura por meio de uma cirurgia, três conseguem resolver o problema com a terapia.
São necessárias de uma a três sessões, com duração de cinco a 15 minutos, dependendo do tipo de aparelho usado.
"A irradiação funciona como estímulo para que o organismo da pessoa reaja e vascularize o local lesionado", afirma a fisiatra Marta Imamura, 39, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas de São Paulo.
No primeiro semestre deste ano, ela tratou 14 pacientes com fasciite plantar, uma inflamação na faixa que reveste o músculo da sola do pé, conhecida também por esporão calcâneo.
O aparelho foi cedido temporariamente por um dos fabricantes para que a equipe do HC conhecesse o tratamento. "Fiquei surpresa com os resultados. Esses pacientes já tinham feito todo tipo de tratamento e, mesmo assim, a dor persistia", afirma Marta.
Nesses casos, segundo ela, a opção convencional seria operar a região tentando retirar a parte afetada pela infecção.

Problemas crônicos
Marta acredita que a terapia, atualmente só utilizada em casos crônicos, tende a ser usada como a primeira opção na maioria dos problemas ortopédicos.
"A fisioterapia é muito demorada. Leva de três a seis meses e nem sempre traz bons resultados. Para pessoas que têm pressa em resolver o problema, como os esportistas e outros profissionais, a recuperação rápida é fundamental."
Por enquanto, o aparelho que emite as ondas de choque, que custa entre US$ 80 e US$ 150 mil, não está disponível na rede pública de saúde. Nas clínicas particulares, o preço do tratamento varia de R$ 650 a R$ 850.
O tratamento não exige internação. Dependendo do tipo de aparelho, é necessária a aplicação de uma anestesia local para evitar que o paciente sinta dor.
Segundo o cirurgião artroscopista Paulo Rockett, 48, de Porto Alegre (RS), que já tratou 200 pessoas com o novo método, o local irradiado pode ficar temporariamente avermelhado ou arroxeado. Não há relatos de outros efeitos colaterais.
Ele afirma que 90% dos seus pacientes, que já haviam sido tratados sem sucesso com antiinflamatórios e infiltrações de corticóides, apresentaram melhora imediata com o tratamento.
A ortopedista carioca Ana Cláudia Souza, 37, diz que apenas dois de 33 pacientes tratados tiveram de fazer uma reaplicação das ondas de choque. O restante se livrou das dores com apenas uma sessão. Segundo ela, além de rápido, o tratamento acaba sendo mais barato do que uma cirurgia ortopédica convencional.


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