|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VIOLÊNCIA
Reportagem do diário "The Independent" foi considerada sensacionalista e simplista por pesquisadores e autoridades
Jornal britânico provoca polêmica no Riogem
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
A reportagem "A cidade da cocaína e da carnificina", publicada
ontem no diário britânico "The
Independent", gerou protestos
entre estudiosos da violência e autoridades da segurança no Rio.
O texto (leia abaixo), segundo
sociólogos, adotou tratamento
sensacionalista e simplista para
abordar um tema complexo como o da violência letal alavancada
pelo crime organizado carioca.
A principal crítica feita por especialistas foi a comparação da
violência vivida no Rio de Janeiro
com a da república separatista da
Chechênia e a do Sudão, que vivem guerras civis sangrentas.
"A violência letal no Rio de Janeiro, com raras exceções, está
circunscrita a lugares pobres.
Bairros como Copacabana e Botafogo têm taxas de homicídio por
100 mil habitantes semelhantes
àquelas de cidades de Primeiro
Mundo", aponta Julita Lemgruber, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes.
"É irresponsável comparar as
mortes no Rio, que tem nove milhões de habitantes, com as de
conflitos movidos pelo ódio étnico ou religioso e ocorridos em regiões de população escassa",
completa a antropóloga Alba Zaluar, uma das maiores especialistas brasileiras em violência.
"Escreveram para um público
com conhecimento zero sobre o
Rio de Janeiro, elevando detalhes
pouco importantes à condição de
pontos essenciais", disse Gláucio
Ary Dillon Soares, professor do
Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro.
Reação oficial
O chefe de Polícia Civil do Rio,
Álvaro Lins, disse considerar
"preconceituosa" a reportagem.
"O volume de cocaína no Rio é infinitamente inferior ao consumido em grandes cidades da Europa
e dos EUA. Não produzimos cocaína. Não dá para dar esse título
de cidade da cocaína ao Rio."
Ele admitiu que os índices de
homicídios na cidade são altos,
mas afirmou que as taxas estão
caindo gradativamente nos últimos anos. Lins disse que as prisões e as mortes de criminosos
mostram uma ação ""enérgica".
O comandante-geral da PM
(Polícia Militar), coronel Hudson
Aguiar, disse que o jornal inglês
errou. ""Não dá para comparar situações de guerra com a do Rio."
Em nota oficial, a Secretaria Estadual de Segurança Pública informou que a política adotada pelo governo Rosinha Matheus
(PMDB) tem sido a de "enfrentar
frontalmente" o tráfico de drogas.
Segundo a secretaria, o mais recente levantamento nacional de
criminalidade -feito em 2003
pelo Ministério da Justiça via Secretaria Nacional de Segurança
Pública, com base nos dados de
2002 das secretarias estaduais-
coloca o Rio no sétimo lugar em
homicídios dolosos. A assessoria
da governadora informou que ela
não comentaria o assunto.
Texto Anterior: Violência: Morte de jovem cancela show dos Racionais Próximo Texto: A cidade da cocaína e da carnificina Índice
|