São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2004

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VIOLÊNCIA

Reportagem do diário "The Independent" foi considerada sensacionalista e simplista por pesquisadores e autoridades

Jornal britânico provoca polêmica no Riogem

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

A reportagem "A cidade da cocaína e da carnificina", publicada ontem no diário britânico "The Independent", gerou protestos entre estudiosos da violência e autoridades da segurança no Rio.
O texto (leia abaixo), segundo sociólogos, adotou tratamento sensacionalista e simplista para abordar um tema complexo como o da violência letal alavancada pelo crime organizado carioca.
A principal crítica feita por especialistas foi a comparação da violência vivida no Rio de Janeiro com a da república separatista da Chechênia e a do Sudão, que vivem guerras civis sangrentas.
"A violência letal no Rio de Janeiro, com raras exceções, está circunscrita a lugares pobres. Bairros como Copacabana e Botafogo têm taxas de homicídio por 100 mil habitantes semelhantes àquelas de cidades de Primeiro Mundo", aponta Julita Lemgruber, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes.
"É irresponsável comparar as mortes no Rio, que tem nove milhões de habitantes, com as de conflitos movidos pelo ódio étnico ou religioso e ocorridos em regiões de população escassa", completa a antropóloga Alba Zaluar, uma das maiores especialistas brasileiras em violência.
"Escreveram para um público com conhecimento zero sobre o Rio de Janeiro, elevando detalhes pouco importantes à condição de pontos essenciais", disse Gláucio Ary Dillon Soares, professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro.

Reação oficial
O chefe de Polícia Civil do Rio, Álvaro Lins, disse considerar "preconceituosa" a reportagem. "O volume de cocaína no Rio é infinitamente inferior ao consumido em grandes cidades da Europa e dos EUA. Não produzimos cocaína. Não dá para dar esse título de cidade da cocaína ao Rio."
Ele admitiu que os índices de homicídios na cidade são altos, mas afirmou que as taxas estão caindo gradativamente nos últimos anos. Lins disse que as prisões e as mortes de criminosos mostram uma ação ""enérgica".
O comandante-geral da PM (Polícia Militar), coronel Hudson Aguiar, disse que o jornal inglês errou. ""Não dá para comparar situações de guerra com a do Rio."
Em nota oficial, a Secretaria Estadual de Segurança Pública informou que a política adotada pelo governo Rosinha Matheus (PMDB) tem sido a de "enfrentar frontalmente" o tráfico de drogas.
Segundo a secretaria, o mais recente levantamento nacional de criminalidade -feito em 2003 pelo Ministério da Justiça via Secretaria Nacional de Segurança Pública, com base nos dados de 2002 das secretarias estaduais- coloca o Rio no sétimo lugar em homicídios dolosos. A assessoria da governadora informou que ela não comentaria o assunto.

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