São Paulo, sábado, 13 de dezembro de 2008

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WALTER CENEVIVA

Crise no ensino em crise


Alunos, que têm sua dose de culpa, buscam o "canudo" e discutem mensalidades sem questionar a qualidade

NOS ÚLTIMOS DIAS do ano letivo de 2008 é mais fácil perceber a crise particular do ensino superior brasileiro, inserida na grande crise universal das economias dominantes. A concorrência exacerbada de muitas universidades veio em quantificação não correspondente à capacidade de absorção dos formandos pelo mercado. A aprovação semi-automática, em cada ano ou semestre, não resolveu a necessidade de mais matrículas, mais alunos, mais arrecadação. A crise obriga (sempre sob o ângulo mercadológico) a enxugar despesas.
Diminuir salários, reduzir o quadro de funcionários, eliminar cursos antieconômicos, afastar professores são alguns dos dados a serem verificados no período do fim de novembro até a retomada das aulas no ano que vem. Sob esse aspecto, a crise não é um mal em si mesma. A descontrolada "universidadização" do ensino superior levou ao excesso de ofertas de vagas, não correspondido pela procura do alunado, inapto para a profissionalização ou a busca de cultura. Alunos que têm, com seus pais, sua dose de culpa. Buscam o "canudo", discutem mensalidades, sem questionar, porém, a qualidade da "mercadoria ensino" entregue nas aulas. A publicidade intensa de universidades criadas em parte por interesses políticos, é a matriz do diploma inútil, quando visto como instrumento de vida, que leva o aluno a fracassar na seleção dos valores essenciais, quando vai trabalhar. Gera o desencanto.
A Constituição determina, no artigo 209, que o ensino é livre à iniciativa privada, atendidas condições que incluem o cumprimento de normas gerais da educação nacional. Impõe ao poder público a avaliação de qualidade, ponto fraco do sistema. O caminho a percorrer é árduo, pois os "industriais do ensino" têm mostrado muita habilidade em quantificar sem qualificar. Até o fechamento de cursos pelo MEC pode corresponder ao interesse da "indústria", quando a clientela mostrar desinteresse pelas matérias excluídas.
O perfil traçado mostra-se mais sombrio no nível superior, quando se comparam as escolas privadas e as escolas ou universidades públicas, para as quais, paradoxalmente, vão os melhores alunos, em busca do ensino gratuito. Com a concorrência exacerbada das universidades particulares, ao lado da insuficiente avaliação de qualidade dos cursos (mesmo depois de inúmeros fechamentos por decisão administrativa) surge até um subproduto condenável. A dificuldade maior surge para escolas com tradição de respeito pela excelência do ensino, que querem preservar seu padrão.
Conheço o exemplo da Pontifícia Universidade Católica, que acumula altas dívidas, mas mantém bom nível de formação e de informação de seus alunos, confirmado nas preocupações de seu novo reitor, professor Dirceu de Mello, educador dos mais qualificados, empenhado na campanha do saneamento dos encargos, sem prejuízo da qualidade.
Outro exemplo é o da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em expansão. As exigências constitucionais referentes ao nível qualitativo imposto, não são cumpridas. Cabe aos alunos e a seus responsáveis a tarefa de não serem enganados, de lutarem pela alta qualificação, recusarem a aprovação sem mérito, ano após ano. As férias serão bom espaço para meditarem a respeito.


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