São Paulo, terça-feira, 14 de janeiro de 2003

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EDUCAÇÃO

Objetivo era reunir, nas mesmas salas de aula, crianças com e sem deficiências; para instituição, há preconceito

Escola da Apae fecha por falta de alunos

Fabiana Beltramin/Folha Imagem
A faxineira Edjane Marsionila dos Santos, 32, cujos filhos não têm escola, mora perto da Apae, mas não soube das vagas oferecidas


BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma escola gratuita, com piscina, quadra esportiva, jardim e professores capacitados, funcionou no ano letivo de 2002 e não reabrirá neste ano porque não tem alunos suficientes.
A escola procura crianças com idade entre quatro e sete anos. Criada há cerca de seis meses, terminou o ano com 29 alunos matriculados -existem vagas para outras 91 crianças.
O que faz com que essas vagas não sejam ocupadas é o preconceito, afirma o coordenador-geral da Apae-SP (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de São Paulo), Nelson Vilaronga, 25.
Isso porque a instituição, voltada para crianças portadoras de deficiência, decidiu manter uma escola em que podem estudar também crianças sem nenhum tipo de deficiência.
O objetivo da Apae era mostrar que crianças com e sem deficiências podem conviver na mesma classe e aprender juntas.
Por ora, no entanto, a escola -que fica no Brooklin, na zona sul de São Paulo- está fechada. Faltam crianças sem deficiência, explica a instituição.
A proposta pedagógica é a de uma "escola para todos".
O programa é o do ensino regular, com adaptações segundo as necessidades de cada criança.
Eram classes de dez alunos -quatro crianças portadoras de deficiência mental (a maioria, síndrome de Down) e seis não-portadoras.

Elogios e críticas
A iniciativa, elogiada em outubro de 2002 pelo secretário de Estado da Educação, Gabriel Chalita, e pela então secretária-executiva do MEC (Ministério da Educação), Maria Helena Guimarães de Castro, também recebeu críticas.
Para especialistas em educação ouvidos pela Folha, a inclusão escolar só ocorre quando alunos com deficiência estudam em escolas comuns.
Classes "montadas" por uma entidade especializada em crianças excepcionais promoveriam uma "inclusão inversa", servindo só para mostrar que a convivência é benéfica.
"Há uma dificuldade muito grande, na sociedade e no meio pedagógico, de entender a inclusão", diz Vilaronga.
O coordenador afirma que, se aparecerem novos alunos ainda neste mês, a escola funcionará. "Seria um milagre."
Se não surgirem novos alunos agora, a escola deve ser reaberta em 2004, após uma campanha publicitária.
A Apae-SP também estuda a possibilidade de firmar convênios com empresas e com a Secretaria Municipal da Educação.
A secretaria diz que dificilmente terá como justificar um convênio com a escola pois a região do Brooklin possui muita oferta de vagas.
O investimento com a escola é de R$ 400 mil por ano. Dos matriculados no ano passado, apenas seis contribuíam com a escola, o que totalizava somente R$ 755 por mês.
"Acreditávamos que a questão econômica seria o desafio. Esse nós superamos. O problema é que ainda há muito preconceito", diz Vilaronga.
Interessados em matricular seus filhos na escola mista da Apae-SP devem entrar em contato com a entidade (www.apaesp.org.br). O telefone é 0/xx/11/5080-7000.


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