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BRASIL DOENTE
Algumas cidades enfrentam surto da doença; médica culpa falta de saneamento básico e de investimentos
Casos de malária crescem 34% no Pará
LUÍS INDRIUNAS
da Agência Folha, em Belém
O número de casos de malária
no Pará aumentou cerca de 34%
no ano passado, segundo dados
do Núcleo de Endemias da Sespa
(Secretaria de Saúde do Pará). Foram 240 mil casos em 99 contra
179 mil em 98. O Pará é responsável por cerca de 40% dos casos da
doença na região amazônica.
Para o coordenador do núcleo,
Amiraldo Pinheiro, a tendência,
pelo menos no primeiro trimestre
deste ano, é repetir os números do
ano passado. "Estimamos que, de
janeiro a março, ocorreram 45 mil
casos", disse.
Algumas cidades, no entanto,
como Paragominas, Ipixuna e
Nova Esperança do Piriá, todas
no nordeste do Pará, estão enfrentando um surto da doença.
"Nessas cidades, há neste ano
quase cinco vezes mais casos do
que no mesmo período do ano
passado", afirmou Pinheiro.
O coordenador afirma que o
surto não elevará o índice de
ocorrência da doença no Pará.
"Há regiões, como o sul do Estado, que compensam o aumento
por causa da tendência de queda."
A situação mais grave é a de Nova Esperança do Piriá, onde, segundo a Prefeitura Municipal, 16
pessoas já morreram por causa da
doença.
Para Pinheiro, o surto nas áreas
se deve ao intenso fluxo de pessoas em assentamentos e à ação
de madeireiros e invasores na região. "Só nos últimos três anos,
foram mais de 100 mil famílias assentadas no Estado e isso, algumas vezes, ocorreu em áreas endêmicas."
Vanja Calvosa, médica do programa de malária do Instituto
Evandro Chagas, aponta também
a falta de equipamentos médicos
e preventivos e de investimentos
na compra de remédios e contratação de pessoal para o aumento
dos casos.
Pinheiro contesta a afirmação,
dizendo que, em 1999, foram investidos aproximadamente R$ 6
milhões pelos governos estadual e
federal no programa de combate
à malária. Esse valor é 20% maior
que o investido em 1998. Em 2000,
será aplicado o total de também
R$ 6 milhões. Pinheiro informou
que, nos últimos três anos, cerca
de 3.500 agentes comunitários foram treinados para ajudar no
combate à doença.
Vanja lembra que a falta de saneamento básico nas pequenas
cidades agrava o problema. "A
malária é uma doença de pobre e,
por isso, falta interesse em investir
em saneamento."
No Pará, apenas Belém tem rede
de esgoto, alcançando 6% da área
do município. O governo estadual, com financiamento do BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento), está construindo
um sistema de rede e esgoto que
deve abranger 60% da área urbana da capital paraense até 2.001.
Estão sendo investidos mais de R$
1 bilhão.
Mortes
No ano passado, 55 pessoas
morreram de malária no Pará, o
que equivale a 0,95 morte por 100
mil habitantes. Pinheiro, no entanto, lembra que o coeficiente de
mortalidade é muito menor do
que na década de 80. Em 1987, por
exemplo, foram 7,42 óbitos por
100 mil habitantes. Em 1998, foram 1,19 morte por 100 mil.
A principal razão para a diminuição dos óbitos é a menor incidência de malária falciparum, tipo maligno que, se o doente não
for tratado, pode matar em 72 horas. Em 1987, 59% dos casos de
malária eram do tipo maligno.
Em 1999, a malária falciparum representava 17% do total.
Além da falciparum, no Brasil
existem a malária vivax, que representa a maioria dos casos, e a
tipo malariae, responsável por 1%
do total.
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