São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 2000


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BRASIL DOENTE
Algumas cidades enfrentam surto da doença; médica culpa falta de saneamento básico e de investimentos
Casos de malária crescem 34% no Pará

LUÍS INDRIUNAS
da Agência Folha, em Belém

O número de casos de malária no Pará aumentou cerca de 34% no ano passado, segundo dados do Núcleo de Endemias da Sespa (Secretaria de Saúde do Pará). Foram 240 mil casos em 99 contra 179 mil em 98. O Pará é responsável por cerca de 40% dos casos da doença na região amazônica.
Para o coordenador do núcleo, Amiraldo Pinheiro, a tendência, pelo menos no primeiro trimestre deste ano, é repetir os números do ano passado. "Estimamos que, de janeiro a março, ocorreram 45 mil casos", disse.
Algumas cidades, no entanto, como Paragominas, Ipixuna e Nova Esperança do Piriá, todas no nordeste do Pará, estão enfrentando um surto da doença. "Nessas cidades, há neste ano quase cinco vezes mais casos do que no mesmo período do ano passado", afirmou Pinheiro.
O coordenador afirma que o surto não elevará o índice de ocorrência da doença no Pará. "Há regiões, como o sul do Estado, que compensam o aumento por causa da tendência de queda."
A situação mais grave é a de Nova Esperança do Piriá, onde, segundo a Prefeitura Municipal, 16 pessoas já morreram por causa da doença.
Para Pinheiro, o surto nas áreas se deve ao intenso fluxo de pessoas em assentamentos e à ação de madeireiros e invasores na região. "Só nos últimos três anos, foram mais de 100 mil famílias assentadas no Estado e isso, algumas vezes, ocorreu em áreas endêmicas."
Vanja Calvosa, médica do programa de malária do Instituto Evandro Chagas, aponta também a falta de equipamentos médicos e preventivos e de investimentos na compra de remédios e contratação de pessoal para o aumento dos casos.
Pinheiro contesta a afirmação, dizendo que, em 1999, foram investidos aproximadamente R$ 6 milhões pelos governos estadual e federal no programa de combate à malária. Esse valor é 20% maior que o investido em 1998. Em 2000, será aplicado o total de também R$ 6 milhões. Pinheiro informou que, nos últimos três anos, cerca de 3.500 agentes comunitários foram treinados para ajudar no combate à doença.
Vanja lembra que a falta de saneamento básico nas pequenas cidades agrava o problema. "A malária é uma doença de pobre e, por isso, falta interesse em investir em saneamento."
No Pará, apenas Belém tem rede de esgoto, alcançando 6% da área do município. O governo estadual, com financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), está construindo um sistema de rede e esgoto que deve abranger 60% da área urbana da capital paraense até 2.001. Estão sendo investidos mais de R$ 1 bilhão.

Mortes
No ano passado, 55 pessoas morreram de malária no Pará, o que equivale a 0,95 morte por 100 mil habitantes. Pinheiro, no entanto, lembra que o coeficiente de mortalidade é muito menor do que na década de 80. Em 1987, por exemplo, foram 7,42 óbitos por 100 mil habitantes. Em 1998, foram 1,19 morte por 100 mil.
A principal razão para a diminuição dos óbitos é a menor incidência de malária falciparum, tipo maligno que, se o doente não for tratado, pode matar em 72 horas. Em 1987, 59% dos casos de malária eram do tipo maligno. Em 1999, a malária falciparum representava 17% do total.
Além da falciparum, no Brasil existem a malária vivax, que representa a maioria dos casos, e a tipo malariae, responsável por 1% do total.



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