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Proposta sugere legalização, diz general
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo afirmando não querer
"tomar partido", o secretário nacional Antidrogas, general Paulo
Uchôa, antecipa um pouco do
que será o debate em torno da
proposta do Ministério da Saúde
e faz crítica uma velada.
"Temos uma série de pontos a
considerar antes de dizer "quero
isso". Um deles é que a descriminalização é o primeiro passo para
a legalização. Resta saber se a população quer isso", afirmou.
"A ciência sabe que algumas
drogas podem destruir o organismo. Será que a sociedade vai perdoar? Se descriminalizarmos o
uso, a produção poderá ser legalizada -e a sociedade considera o
tráfico um crime hediondo."
Por enquanto, é a Senad que está incumbida de coordenar o debate. Segundo Uchôa, o órgão não
tem uma posição definitiva. "Tem
de ser com debate, um trabalho
com mais seriedade."
O general soube da proposta de
descriminalização durante seminário organizado pela secretaria
no fim do mês passado.
O Brasil é signatário de uma série de convenções da ONU que
prevêem a penalização do usuário, diz Uchôa. Os tratados mais
recentes defendem apenas alternativas à prisão. A secretaria
apóia a mudança da lei brasileira
para garantir a aplicação somente
de penas alternativas.
Portugal, que também é signatário das convenções, recentemente descriminalizou o uso.
"Atualmente eles estudam a revisão da medida", afirma o general.
Dez anos de espera
"Fazemos defesa da mudança
da lei há dez anos", diz Dartiu Xavier da Silveira, diretor do Programa de Orientação e Atendimento
da Universidade Federal de São
Paulo. Ele participou do grupo
que fez a proposta de descriminalização vetada pelo governo anterior. "Política de descriminalização não pode ser confundida com
estímulo. Ela facilita o tratamento. Não é um liberou geral."
Segundo Xavier, estudos em
países com a política mostram
que há um aumento usuários ocasionais inicialmente, mas não de
dependentes. A inclusão social do
viciado diminui problemas de
saúde [como taxas de infecção pelo HIV" e envolvimento com o
crime, mostram outros trabalhos
realizados fora do país.
"Não sou contra a descriminalização do uso. Mas a função do
Ministério da Saúde é formar políticas de tratamento e prevenção.
Em vez disso, propõem algo que
poderá aumentar mais o número
de usuários", afirma Arthur
Guerra de Andrade, diretor do
Grupo de Estudos de Álcool e
Drogas da USP.
(FABIANE LEITE)
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